Capitulo 29

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Lunna:

Eu havia acordado de bom humor naquela manhã.
Era sabado, e eu poderia ficar mais tempo na casa dos Clark's. Então decidi passar no mercado e comprar material pra fazer um bolo.

O dia estava ensolarado, com leves brisas a soprar. Daqueles dias em que as flores dançam com o vento, as folhas caem das árvores enfeitando as estradas e os passarinhos parecem cantar melodias a fins.
Era um típico dia de outono em Tromsø. Sem perder, é claro, seu frio de sempre...

Ao chegar na frente da casa dos Clark's, estranhei um carro rosa estacionado na entrada e pensei que poderia ser de algum vizinho, sei lá... Mas ao entrar na casa, descobri a quem - infelizmente - o carro pertencia: Megan Andrews!

Que aliás, estava sentada no colo de Itan, perto o suficiente para beijá-lo. Perto demais.
E pelo jeito que se olhavam,  eles tinham acabado de fazer isso. Constatei ainda estancada na porta.

Ao me ver, Itan empurrou-a de leve, o que só fez com que ela segurasse mais firme em seu pescoço, e droga, eu tinha que sair dali!

- Lunna? - ela perguntou irônica olhando para ele. Deu uma risada. Ele revirou os olhos. - Vai ficar babando ai ou o quê? - perguntou digirindo-se a mim desta vez.

- Desculpe! - murmurei sentindo meu rosto em chamas e fui direto pra cozinha.

- Por que você fez isso? - ouvi Itan perguntar.

- Fiz o quê? - ela perguntou. - Ah Itan, não faça essa cara! ... O quê? Por acaso você esta com ela agora? - Não houve respostas. - Itan?!

Eu não quis mais ouvir, coloquei meu fone no ouvido e aumentei o volume na música "Ironia SA" de Rosa de Saron enquanto organizava o que tinha comprado em cima da mesa.

"Você é daqueles que não aceitam outra opinião? Se torne já um membro...
Em prol da humanidade mas no seu ninguém se mete? Se torne já um membro.
...
Porque é sempre igual. Cada passo em falso é um buraco que deixaram ali, pra você pisar. Não é dono do que cala, é escravo do que fala.
Então assine aqui...
Assinou? Agora já é um membro!"

Notei Itan entrando na cozinha mas o ignorei. A música continuou.

"Insatisfeito com o carro que o vizinho tem? Agora já é membro.
Cansado do sorriso alheio enquanto apenas ri? Já foi, já é um membro!
O quê? Se arrependeu e tem receio de assumir? Você já assinou os termos!
Uma salva de palmas pra quem não fez dessa canção um acordo de farsas..."
(...)

Ele acenou pra mim como se quisesse dizer algo mas eu continuei alheia a qualquer movimento seu.

"Porque nada nunca é igual. Cada passo em falso é uma queda e com ela, o seu joelho dobra ao se levantar, Deus permite que seja assim.
Nunca será um nada, nada, nada...
E não se esqueça se já assinou, rasgue o contrato!"

Ele se pôs em minha frente me impedindo de passar até a pia. Ficamos nos encarando.

"É sempre igual, cada passo em falso é um buraco que deixaram ali...
Pra quem o tudo é nada, nada, nada.
Talvez fique com nada, nada, nada..."

Eu não prestava atenção em mais nada. A música acabou e mais outra começou, e continuamos ali nos encarando.

Ele se aproximou um pouco mais, eu tentei me afastar, mas minhas pernas não obedeciam ao meu comando.

Ele levantou um dos braços em direção ao meu rosto e... tirou o fone do meu ouvido.

- Você ta surda? - perguntou. Sai do transe. Hein? - Estou te chamando há um tempão.

O desejo do coração de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora