Parada no meio da cozinha extremamente grande e desnecessária de nossa casa, me vejo com um copo de coca na mão. Levo o copo aos lábios com calma e vejo meu reflexo nos azulejos escuros da cozinha. Tudo está calmo e silencioso quando coloco a garrafa dentro da geladeira e me encaminho para apagar a luz da cozinha. Algo me faz parar bruscamente. Uma luz vermelha apontada diretamente no apagador. Um laser. Uma porra de luz vermelha de um sniper. Levo três segundos para brigar comigo mesma e me perguntar como sei que é um sniper e não crianças brincando de assustar o vizinho. Não chego em uma conclusão e o sentimento forte de perigo grita dentro de mim. Ela continua lá, parada, sem mexer um milímetro para o lado. Me vejo em um impasse. Apago a luz e tomo um tiro na mão. Ou não apago e tomo um tiro no peito? Isso não me parece muito atraente.
Nenhuma das duas opções parece, mas se continuar aqui vou morrer. Isso é fato.
Rapidamente apago a luz da cozinha e não ouço nenhum barulho quando minha parede é atingida. Apenas vejo os pedaços do inocente apagador caírem do meu lado. Pude me esconder na parede do corredor, mas isso me deixa exposta para as outras três janelas da casa. Me abaixo rapidamente e vou caminhando para o meu quarto. Um quarto pequeno e seguro onde posso pegar meu celular e ligar para uma das meninas. Isso já basta para que uma avise as outras duas.Chego no meu quarto e continuo abaixada. Pego meu celular na cama com cuidado para que ninguém me veja e ligo para o número de Bárbara. Ela é mais esperta de todas as três, vai entender se falar com os códigos que elaboramos.
- Alô, Ella?
- Bah, você viu meu tênis? O rosa? Eu acho que o perdi.
- Eu peguei. Você o quer de volta?
- Não precisa, mas fala pra Jade que vou pegar o dela.
Desliguei. Nossa conversa basicamente se resumiu a falar que estou em grande perigo. Se usávamos o tênis rosa era grande perigo. O preto, médio. E o azul, pequeno. Acho que nunca fui tão grata a Bárbara na vida. Só precisava saber como sairia da minha própria casa. As câmeras que instalei na garagem podiam me dar uma bela posição. Eu tinha uma moto e pretendia usa-la. Ligo o sistema de câmeras no meu quarto, mas nenhuma delas está funcionando. Mas que merda. Pego meu telefone novamente e ligo para a polícia. Meu telefone está bloqueado. Como eu imaginava. Eu tinha apenas direito a uma ligação, isso estava claro para os atiradores lá fora. Merda de novo. Pego capacete, coloco na cabeça e me viro para a janela, nenhuma luz vermelha. Ótimo. Vou agachada novamente para a cozinha. A luz vermelha continua lá. Parada, esperando meu próximo movimento. Eu não tenho um plano b. Não posso sair da cozinha pela porta da frente e fingir que nada aconteceu. Ou está acontecendo. Ok, plano b. Quem disse que não posso inventar um agora?
Vou até o quarto de Jade. Abro a janela de uma vez só e vejo a rua calma e sem nenhuma alma viva. Perfeito para um ataque. Pulo a janela sem nenhum medo. Sei como cair e a altura não é tão grande assim. Corro para a minha moto estacionada em frente a entrada de casa e arranco tentando não fazer barulho nenhum. Sinto um tiro na calçada perto de mim, mas ignoro e acelero a moto o mais rápido possível. Essa lindeza aqui nunca me deixou na mão.
Vou direto para a casa dos pais de Jade, Bárbara e Marian estavam lá também. Seria fácil pegar o caminho para casa deles se não houvesse um carro de polícia atrás de mim, sinalizando para eu parar. Encosto a moto devagar no acostamento e desço da moto tirando o capacete logo em seguida.
- Documentos por favor, moça. Quero a carteira de identidade também. - O guarda pede com cara de mal, me olhando de cima a baixo. Estou com um pijama. Não é bem um pijama, mas uso essa roupa apenas para dormir. Estou com uma calça verde do exército, um moletom com uma caveira na frente e um tênis preto que escolhi na pressa de ir embora. A trança que fiz em meus cabelos antes disso tudo acontecer está se desfazendo e decido soltá-la de vez, deixando a mostra meus cabelos vermelhos da metade para baixo.

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Atrás do Perigo
RomansElla está cercada. Alguém está atrás dela e de suas amigas e ela precisa correr. Ela não sabe de absolutamente nada e só o passado conturbado de um homem misterioso pode lhe dar algumas respostas. Um tiro e uma fuga. "Que merda está acontecendo?" va...