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Eu não lembro muito da minha infância. A parte dos 7 aos 13 anos é muito vaga. Eu posso ter esquecido dessa fase por ter sido ruim, ou a pior fase, mas eu acho que não. A pior fase eu tenho certeza que está sendo agora.

Eu não lembro direito o que eu fiz, mas depois que os tiros começaram e não pararam, eu peguei minhas três amigas e com a certeza que ninguém atiraria naquele quarto por ser subterrâneo, eu as levei para o porão.

Eu tinha ido lá no primeiro dia para conferir se ninguém havia usado aquele quarto durante o tempo em que estive fora. Ele estava empoeirado e sujo, mas isso era tudo. No dia anterior, tinha falado para as meninas levarem o que elas tivessem de importante pra lá. Era o lugar mais seguro que a gente tinha.

- Ella, - gritou uma voz do lado de fora da casa - você está cercada. Não há saída. Venha calmamente para fora ou teremos que invadir!

Coloquei tudo o que eu achei importante dentro da mochila e estava tentando encontrar uma saída e ganhar algum tempo... vejo uma portinha do canto inferior do quarto pequeno.

- Temos que nos entregar - Jade falou apressada - Pensa, Ella. Se alguma de nós for e você colocar um rastreador, pode encontrar respostas. Você tem algum, não tem?

A ideia era boa, não podia negar. Mas eu não colocaria nenhuma vida, além da minha, em perigo de novo. E foi por isso, apenas por isso, que eu entreguei meu computador para Bah e coloquei um pequeno objeto que poderia me rastrear por pelo menos todo os Estados Unidos, dentro do sutiã. Foi apenas por isso que eu escrevi um pequeno roteiro para elas saberem como me rastreava. Foi apenas por isso, que eu mostrei a saída para elas. E foi apenas por isso que eu caminhei lentamente para fora da casa de fazenda.

Levantei minhas mãos para que ninguém atirasse e caminhei em direção a um Martin me olhando com incredulidade, surpresa e malícia.

Os olhos da cor do oceano, se fixaram em mim, juntaram meus braços em direção às minhas costas e me prenderam com algemas pretas.

- Cadê as outras? - Ele perguntou com a voz grave e rouca, soando ameaçador.

- Você pode quebrar meu braço, atirar em mim ou me jogar para os leões comerem, mas eu-não-vou-falar. - Minha voz estava suave, mas fria. A impessoalidade que aquelas palavras soaram para fora da minha boca, me assustou. Eu não iria dar a localização delas. Eles podiam me matar. Eu não iria ligar.

Ele sorriu para mim e me colocou dentro de um carro preto fechando as portas e dando algumas ordens para os milhões de caras parados lá fora: "Procurem", "Façam!", "Agora", foram algumas de suas ordens.

Voltando para o carro, ele entrou e se sentou no banco do motorista.

Você pode se perguntar o porquê de eu não estar entrando em crise e chorando igual uma louca. Bom, deixe-me ver. A minha realidade foi dura. Eu não culpo ninguém por isso. Eu aprendi muito. Ser fria e impessoal é um dos requisitos básicos para esse mundo. O outro requisito é não entrar em desespero. Nada funciona quando você entra em pânico. Seu cérebro falha, sua memória fica péssima e suas ações são impensadas. Não estou dizendo? Uma merda.

Quando você consegue ver a situação como um todo é muito melhor. Você tem consciência do que está fazendo. Você sabe a hora de agir. Você consegue dar a volta por cima.

- Diz, por favor que não vai foder com minha moto. - Falei de repente olhando para o retrovisor para aqueles olhos azuis impenetráveis.

- Eu vou andar nela, isso sim. - Ele falou sorrindo. Um sorriso diferente de tudo que eu já tinha visto nele.

Atrás do PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora