Martin

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Acordo e Ella ainda está desmaiada nos meus braços. Eu adoro acordar de manhã e vê-la tão exposta para mim. A noite passada passou como um borrão. Me lembro de Phoenix deixando a casa e desaparecendo na floresta e Ella vindo correndo para me encontrar. Ela não precisou falar nada para que eu entendesse o que ela queria. O que tivemos ontem foi mais do que físico. Eu não saberia explicar mais porque o pensamento ainda me atordoa, mas foi mais. Eu consigo sentir.

Ella está ficando cada vez mais madura e eu estou feliz que o responsável por essa mudança seja eu. Isso não quer dizer que eu não tenha mudado da mesma forma. Na minha mais sincera opinião, eu tenho quase certeza que eu mudei mais que ela.

Quando a vi pela primeira vez, foi como um reconhecimento mútuo. Eu nunca mantive muito contato com Ella desde quando ela entrou no complexo pela primeira vez. Eu reconheceria aqueles olhos cinzas e aquelas bochechas rosadas mesmo de longe. Eu tinha matado seus pais e aquilo estava me matando por dentro. Minhas duas primeiras mortes foram de grandes pessoas. Eu sempre me culpei por ter matado alguém que poderia ter salvado o mundo. E sempre vou me culpar. Não importa se Ella já tenha me desculpado ou se nunca mais vai trazer esse assunto à tona, mas a culpa sempre estará lá, corroendo todas as células e queimando a boca do estômago.

O fantasma de duas pessoas que poderiam ser maravilhosas, o fantasma de uma infância perdida e talvez de sonhos e planos destruídos acaba pesando uma hora ou outra.

Levanto devagar da cama para não acordar Ella. Ela parece um anjo quando está calma e serena. Pretendo começar os treinamentos com a minha mente hoje. Não vai ser nada fácil eu me manter focado enquanto aquele corpo e aquela boca deliciosa caminham lentamente para o meu inconsciente. Até eu queria saber o que tem lá. Talvez sentimentos guardados. Talvez lembranças escondidas. Nada que eu não tenha passado ou imaginado.

Quando saio do quarto, Shadow está esperando do lado de fora. Seu rabo bate alegre no chão e ele parece sorridente. Franzo as sobrancelhas para ele e balanço a cabeça. Fecho a porta do quarto para não acordar Ella e desço as escadas esperando que Shadow me acompanhe, mas ele continua parado, batendo seu rabo irritantemente no chão e olhando para a porta.

- Não, Shadow. - Sussurrei com medo de Ella acordar. - Não pense nisso. Ela precisa descansar. Vem!

Ele me olha triste e lambe seu focinho chorando logo em seguida, mas me acompanha com a cabeça baixa até fora de casa, onde dou comida pra ele. Ele pode ser um cachorro, mas parece que entende tudo o que eu falo. Deixo Shadow do lado de fora e vou pra cozinha preparar o café que Ella tanto gosta.

Nossa, acho que estou vivendo em função dela. Ela entrou na minha vida pra bagunçar tudo aqui dentro. Vai ser fácil demais ela entrar na minha mente.

- Vai? - Escuto seus passos antes de escutar sua voz. Quando você está acostumado a viver sob pressão e qualquer coisa pode te atrapalhar a realizar corretamente a missão, você começa a ficar atento a qualquer tipo de barulho a sua volta, mesmo que sua mente esteja em outro lugar. É quase um reflexo.

Ao invés de responder, me viro e entrego a xícara de café do jeito que ela gosta. Ela sorri doce, pega a xícara da minha mão e toma um pequeno gole. Ela está apenas com minha camisa da noite passada e é impossível não olhar para suas pernas.

Shadow entra na cozinha e ele lambe as pernas que eu tanto gosto de admirar. Ella se abaixa e coça suas orelhas, movimento que ele aprecia fechando os olhos e lambendo sua mão.

Ótimo! Estão roubando meu lugar.

- Pare de ser tão ciumento. - Ella fala e se vira pra mim. Shadow parece satisfeito com o carinho recebido e se encaminha para fora de casa novamente.

Atrás do PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora