Feelings

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Quando acordei aquela manhã, eu estava desorientada. Não sabia ao certo se estava na minha cama, na minha casa, o meu refúgio, com as minhas amigas. Eu não sabia de nada. Parecia que eu tinha acordado de um coma de muitos e muitos anos.

Parecia que todo o ar tinha saído dos meus pulmões e eu estava sufocada. Sufocada com a minha própria realidade. Era isso o que mais doía. Era minha realidade que me sufocava e me jogava contra tudo e todos, contra mim.

Tudo o que eu acreditava naquele momento parecia flutuar a minha volta, como nuvens rápidas em um céu nublado. O que me deixava existindo era a única partícula dentro de mim que acreditava que tudo era verdade.

Tudo o que Martin dissera era verdade é lá no fundo, bem no fundo mesmo, eu confiava e respeitava tudo o que ele dissera. Eu repeti as suas palavras na minha mente - "Você pode ter nascido ou desenvolvido a telepatia."

Ela estava em mim e eu a tinha sentido em muitos momentos da minha vida. Alguns podem chamar isso de Deus, ou seja lá o que eles acreditam que seja, mas eu sempre ouvia uma voz no fundo da minha mente me dizendo que era para lutar contra tudo e todos, caso ninguém me ouvisse; me dizendo que era preciso levantar dia após dia para chegar no final e ter minha própria liberdade; me dizendo que era preciso sobreviver a esse mundo cheio de caos e matança. Essa voz podia ser de Olívia, minha mãe; podia ser do meu pai; podia ser de Martin, mas na verdade, não importava de quem fosse, porque ela ecoava no meu interior com a mesma frequência da minha voz. Eles podiam estar me falando isso tudo, mas eu não faria se não concordasse com eles. Eu não faria se não estivesse disposta a lutar pela verdade.

Passou um mês desde a última vez que sonhei com Martin e com a minha mãe. Eu podia tentar o quanto quisesse fazer contato com Martin, mas eu não conseguia. Ao mesmo tempo, isso poderia estragar boa parte do nosso plano, que era basicamente ir para o buraco dos demônios por livre e espontânea vontade.

Além disso, o nosso mais querido refúgio em Regina era ótimo para nos esconder e podíamos vir para cá quando quiséssemos. Sempre estaríamos seguras.

Eu estive monitorando todos os sites e computadores da STO. Não foi fácil conseguir um login que me desse acesso gratuito e ilimitado para o sistema de computadores de uma das maiores organizações secretas de todos os tempos. Algumas negociações e alguns pagamentos foram o suficiente para que um ex-militar me desse algumas informações que eu poderia precisar. O que o charme não consegue, e quando digo isso, estou falando de Marian, o dinheiro paga, e quando digo dinheiro, eu digo o dinheiro dos meus pais. Cash vivo. Não foi fácil, mas deu certo.

Consegui todas as informações necessárias para saber sobre a rota dos guardas, os horários de café, almoço e janta de alguns funcionários e ainda sistemas de portaria e destravamento de portas.

Nós entraríamos no covil dos lobos e eu nem estava ligando. Minha sede por respostas era tão grande que todo o medo ou receio que eu sentia era jogado para escanteio.

Nossa comida estava acabando e o combinado era de que quando toda a comida acabasse, nós iríamos embora. E não importa se não estivéssemos preparadas, nós iríamos.

Eram os últimos dias. Nós sabíamos. Os biscoitos tinham acabado e o que restava eram alguns pacotes de macarrão instantâneo. Nenhuma de nós falava. Era como se pressentíssemos a hora da nossa morte. Como se estivéssemos nos preparando para cada segundo da luta, mas no final estaríamos mortas. Eu entendia. Era difícil.

Bárbara tinha bolado todo o plano. Jade, Marian e ela entrariam primeiro, enquanto eu ficava no carro controlando o acesso as portas. Obviamente, as portas eram vigiadas, e quando elas se aproximassem o suficiente eu pegaria o código de acesso e entraria logo depois. Com esse código, eu poderia abrir qualquer porta de todo o complexo. Não pense que bolar isso tudo foi fácil. Eu precisei quebrar minha cabeça por dias para conseguir uma solução. Eu usaria um micro controle que estaria entre meus cabelos. Não foi fácil comprar isso também. Custou uma fortuna.

Atrás do PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora