- 100 flexões!
- O que? Está ficando maluco?
- Parece que estou.
Suspirei indignada e segui para fazer as 100 flexões.
Martin estava me obrigando a exercitar. Ele dizia que meu corpo estava cansado e preguiçoso e eu não tinha a devida orientação para acabar com isso. Coisas de Martin.
Mas eu acreditava mais na possibilidade de ele ainda estar puto pela minha cena na cozinha. Sim, eu confesso, eu havia exagerado um pouquinho, mas ele gostava de me provocar muito. Eu só estava devolvendo um pouco do que ele fazia comigo. Mas não! O senhor da razão não aceitava que fizessem com ele aquilo que ele fazia com os outros. Era uma merda. E injusto.
Comecei a fazer as flexões e não consegui chegar até o final. Parei na 20 e aquilo já era o bastante pra mim. Tentei fazer pelo menos 50, mas não consegui.
- Quer mudar para 100 abdominais? - Ele perguntou sorrindo debochado. Filho da puta. Pensei muito na resposta que iria dar. Se eu falasse que sim, ele provavelmente me mandaria continuar, e se eu falasse que não, ele me faria continuar de qualquer maneira. Não respondi. Me levantei e fixei meus braços no chão. Eu não iria sair dali sem completar as 5000 flexões que ele pedisse. Minha barriga doía e minha cabeça latejava, mas eu continuei firme e forte e quando cheguei na centésima flexão. Eu parei e me levantei.
Martin tinha uma expressão de surpresa estampada no rosto e ele sorria pra mim. Era isso que eu fazia: aceitava os desafios e o desafiava de volta.
Ele me rodeou por alguns minutos e ficou me olhando por mais outros. Quando finalmente se deu por satisfeito, disse:
- Lute comigo.
E assim foi durante toda a tarde. Lutamos e lutamos e lutamos por horas a fio. Eu já não aguentava mais e cada vez perdia mais. O que ele estava tentando provar? Que era melhor que eu? Isso era óbvio. Eu concordaria de olhos fechados com ele nesse ponto.
- Chega. - Falei me curvando e colocando minhas mãos nos joelhos. - Chega, pelo amor ao que você acredita! Eu estou cansada demais.
Martin me olhou desconfiado e eu desviei os olhos. Nós estávamos fora da casa de madeira. Quando acordei de manhã e Martin me chamou para treinar, descobri que a casa tinha um espaço grande nos fundos e era perto do lago. Nós estávamos no inverno e eu não queria pular nas águas geladas tão cedo, mas o lago chamava, convidava a entrar. Martin disse que não me deixaria fazer isso, pois eu poderia pegar alguma doença e ele teria que cuidar de mim antes de podermos treinar.
Essa atitude me deixou sem palavras, mas ele alegou que era para o bem do meu físico e da minha saúde. Não era porque ele se preocupava realmente comigo. Duvido até que ele se preocupe com ele próprio.
- Tudo bem. Pode descansar por 1 minuto. Nós voltamos depois.
- O que? Um minuto? Não dá nem pra respirar direito! - Ele me olhou com desprezo evidente por minha fala e começou a caminhar para dentro da casa. - Martin! Olha... - Ele continuou andando. - Merda Martin! Será que dá pra, pelo menos, olhar pra mim?
- Eu escuto com os ouvidos Ella. Não preciso te ver. - Grosso como sempre. Revirei os olhos.
- Porque está com raiva? Eu não fiz nada!
- Não! - Ele gritou e virou para me olhar - Não fez merda nenhuma! Só fica balançando seu corpo de um lado para outro e me provocando com suas falas! É... Acho que você não fez nada mesmo!
- Mas... Você não disse que seria melhor se nós tivermos uma relação... próxima? Não foi por isso que viemos pra cá?
- Eu estou tentando me manter distante, porque quanto mais próxima você for da pessoa, melhor você se comunica.

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Atrás do Perigo
RomanceElla está cercada. Alguém está atrás dela e de suas amigas e ela precisa correr. Ela não sabe de absolutamente nada e só o passado conturbado de um homem misterioso pode lhe dar algumas respostas. Um tiro e uma fuga. "Que merda está acontecendo?" va...