Farm House

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Se a liberdade realmente existe eu acho que sei defini-la. Quando eu sentava na minha moto e acelerava, eu estava nas nuvens. Na minha mente, eu poderia voar com ela, eu poderia sumir, desaparecer, eu poderia qualquer coisa. E a única certeza que eu tinha era que ela sempre estaria lá para mim. Não importa o que acontecesse, não importa se caras loucos estavam atrás de mim, se minha casa explodiu, se todos estavam contra mim. O que importa é que ela sempre estaria ali. Pra mim, me esperando.

Pode ser louco falar dessa forma, mas era como eu me sentia. Eu sempre quis esse tipo de liberdade. Eu nunca tive pais, então era muito mais fácil fazer o que eu queria, na hora que eu queria. Eu não estou dizendo que não ter pais é bom. Em muitas vezes na minha vida eu desejei ter alguém que pusesse ordem. Que falasse não. Que simplesmente brigasse comigo porque eu deixei a luz acesa ou porque a toalha está em cima da cama. O mais engraçado é a conclusão disso tudo. Você só dá valor quando perde. Aquela amizade que se formou no meio do nada, por exemplo. Você pode preferir outros amigos quando essa pessoa está lá, mas eu tenho certeza que quando ela não tiver mais lá, e acredite em mim, ela não vai, você vai sentir falta dela.

Eu sempre achei esse pensamento um pouco perverso. Só que a perversidade está nas pessoas: mesmo sabendo disso, elas continuam fazendo a mesma coisa. E continuam perdendo pessoas.

Eu estou sentada na minha moto com a estrada correndo por baixo dos pneus. Minha MTT Turbine Superbike Y2K que custa um absurdo, estava na minha garagem quando eu me mudei para a casa que meus pais deixaram. Pode parecer estranho, mas meus pais tinham dinheiro e deixaram tudo pronto para quando eu atingisse a maioridade. No meu caso, 16 anos. Eu tive que fazer a autoescola obviamente, mas fiquei muito feliz de saber que eu não precisava comprar uma moto. Eu não sei se eu tinha comentado com meus pais antes, mas eu sempre quis pilotar uma moto e ter especificamente essa moto na minha garagem era um puta presente.

Estava um pouco mais à frente das meninas que estavam dentro da BMW. O carro era de Jade, então também não era um carro antigo, apesar de eu amar carros antigos...

Senti os faróis piscarem na estrada a minha frente e olhei para trás. As meninas estavam parando. Diminuí a velocidade e parei no acostamento. Bah saiu do carro segurando o capacete que tinha dado para ela mais cedo e eu desci da moto.

- O que aconteceu?

- Pra onde vamos? - Bah disse olhando para mim. Eu não sabia. Merda. Nós estamos dirigindo por nem sei quanto tempo e eu ainda não sabia pra onde íamos. Eu deveria saber. Fui eu quem tirei as meninas do conforto que a casa de Vera oferecia. Mas não, eu fui egoísta a ponto de levar as três comigo para um buraco sem volta. - Faz 2 horas que nós estamos dirigindo e caso você não tenha percebido, nós estamos no meio do nada. Completamente no nada.

E foi nesse momento que minha cabeça ligou alguns pontos que faltavam e achou o lugar perfeito para nos escondermos. Talvez não seja tão perfeito assim, já que não vou lá tem um tempo.

- A fazenda. Lembra dela? Nós já estamos na estrada que leva a ela. Só falta mais algumas horas.

- As meninas tem que parar um pouco, Ella. Eu entendo que nós estamos fugindo e eu entendo que você está no escuro assim como a gente, mas nós temos que comprar alguma coisa para comer e abastecer o carro. Vimos uma placa de um restaurante a uns 100 metros atrás. Pode ser? - Bah me propôs e me olhou com aquela cara de gatinho abandonado. Eu detestava isso. Ela sempre conseguia o que queria com aquela cara.

- Tudo bem, mas quando nós pararmos vocês não podem comprar com cartão. Isso iria deixar rastros e o que a gente não quer são rastros. 5 minutos Bah, no máximo 10. É só o que a gente tem.

Atrás do PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora