5- Ice cream.

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— Sala da Senhora Mills, como posso ajudar? Tudo bem, já vou deixar anotado.— Apanhei a agenda bege e anotei. Em seguida, recebi um email de Regina me solicitando em sua sala e eu obedeci quase que no mesmo segundo.
— Sim?— Ela baixou a cabeça sorrindo e fez sinal com a mão para que eu me aproximasse, um impulso meu sempre obedecia todas as ordens dela, não importa o que fosse, eu não sabia não fazê-lo. Me aproximei, parando em frente a sua mesa e ela pressionou suas mãos na mesa de madeira apenas para fazer um som estridente, achou graça em como me assustou com aquele ato e logo usou as mãos para me puxar em sua direção, usou as costas da destra para acariciar meu rosto, eu acabei fechando os olhos com a delicadeza daquele ato e ela finalmente me beijou. Era um beijo calmo, não muito invasivo, era um tanto inocente e diferente de tantos outros. Regina ainda me deixava um pouco nervosa, mas nada que seus lábios doces não pudesse acalmar. Enchi meus pulmões com o cheiro maravilhoso que ela tinha e permaneci com o beijo atencioso, sorrindo dentre o mesmo.
— Dona de toda maldade?— A voz de Ruby pareceu fraca quando ela chamou pela morena assim que saiu do elevador, em um único pulo me afastei de sua mesa e ajeitei os papeis que estavam sobre a mesa da minha chefe apenas para disfarçar.
— Claro, está anotado sua reunião com Neal, senhora Mills.— Falei em um tom alto assim que Ruby entrou na sala, ela entortou as sobrancelhas com a minha tentativa falha de disfarçar e eu apenas dei as costas, indo para minha sala sem olhar para trás.

Sentei em minha cadeira e a cada segundo dava uma olhada através do vidro, a única coisa que via era as duas rindo. Não podia deixar que soubessem algo desse tipo, Regina havia acabado de sair de um divórcio e era minha chefe, eu não podia mesmo.
Pouco tempo depois Ruby vem caminhando até minha sala e bate no vidro como quem pedia para entrar, eu apenas sorri e foi o suficiente para entender como uma permissão e entrou.

— Você vai amanhã, certo?— Entortei as sobrancelhas demonstrando minha confusão e ela se aproximava aos poucos.
—Onde?— Falei sem entender.
—Amanhã é dia de Festa na minha casa! Vai ter bebida, piscina e tudo que temos direito. Todos vão, inclusive você. — Ela se preparava para sair, dando as costas para que eu não tivesse tempo de recusar, coisa que eu não faria.
—Daqui a pouco mando um email com o endereço e a hora.— Ela saiu e eu apenas sorri. Levantei meus olhos para ver o que Regina fazia, mas parece que ela já havia entrado para a reunião com Neal, aproveitei que o motivo da minha distração não estava mais presente e continuei atendendo os telefonemas que não paravam de tocar. Nunca imaginei que cuidar da agenda de Regina pudesse ser tão exaustivo, ela de fato era uma profissional excelente.

—Você vai amanhã, certo?— Eu já havia escutado a mesma pergunta de uma voz menos grossa do que aquela, o que me fez despertar dos meus pensamentos depois de um longo tempo presa nas minhas obrigações. Era Neal, o tempo de reunião havia passado voando e eu nem percebi.

Por que todos estavam me perguntando isso?

— Na festa? Acredito que sim.— Apoiei o rosto sobre a mão enquanto o olhava.— Já acabou a reunião?
— Atingimos duas horas de reunião, então não é "já" e sim "finalmente"— Ele riu e jogou o corpo como quem demonstrava sua exaustão. — Bom, vou te procurar na festa então.— Ele afirmou. — Muito atarefada?
—Na verdade, minha pausa é exatamente agora.— Afastei a cadeira para longe do computador e levantei.
—Bom, então posso te levar para tomar um sorvete?— Ele piscou como se fosse uma proposta irrecusável.
— Como eu poderia recusar um sorvete? — Concordei já que estava fazendo um calor imenso, me aproximei e saímos juntos da empresa.

Ao sair da sala acompanhada por Neal, pude notar a feição insatisfeita de Regina, semelhante a como ela reagiu na outra vez em que estive com ele. Não sei exatamente o que toda aquela insatisfação ao me ver com ele significava, mas não parecia boa coisa.

Tudo bem, é só um sorvete e homem nenhum vai tirar o meu desejo por aquela mulher.

—Você está gostando?— Ele perguntou enquanto se remexia naquele banco de madeira da praça, encarando o sorvete em sua mão.
—Para ser sincera, não.— Gargalhei, provando do sorvete outa vez  e fazendo uma breve careta.
—Eu também não.— Ele riu.
—Quanto azar! Isso está péssimo.— Ainda rindo, sacudi minha mão suja de sorvete no ar e isso acabou sujando ele um pouco.
— Desculpa, Neal.— Falei sem conseguir segurar a risada.
—Você está rindo, é?— Ele se aproximou e tentou me sujar com o sorvete dele, apenas tentei fugir, mas Neal me segurou com um de seus braços e com o outro ele aproximava o sorvete do meu rosto. Eu me assemelhei a uma criança, balançando os pés e os braços para tentar sair e claramente tudo isso foi inútil, ele sujou meu nariz e bochecha com seu sorvete de chocolate e eu não conseguia parar de rir por me sentir tão idiota.
— Isso não é justo! — Ele riu e depois permaneceu me olhando por longos minutos e eu retribui o mesmo olhar, sorrindo.

Neal aproximou seu rosto do meu, o suficiente para que eu conseguisse sentir sua respiração e pudesse ver seus olhos descendo em direção aos meus lábios como quem desejava um beijo, fiquei em silêncio e sem reação alguma, ele aproximou seus lábios dos meus e quando faltava pouca coisa para ele finalmente conseguir algo, apoiei minha mão em seu peito e empurrei de leve, afastando o homem para longe de mim.

—O que houve?— Falou confuso.
—Eu não quero te beijar, Neal.— Me levantei. – Eu não tenho preferência por homens e além do mais, acho que estou dando início em algo legal com uma pessoa agora.
—Você acha?— Pareceu tão confuso quanto eu.
—Eu não sei o que está acontecendo de fato, mas sei que está acontecendo alguma coisa. — Ele concordou com a cabeça e sorriu enquanto se levantava, pegou nossos sorvetes e jogou no lixo, caminhando para perto novamente.
—Está tudo bem, não precisamos agir de uma forma estranha.— Empurrou meu ombro com os dedos e logo me abraçou, aproveitei o ato amigo para me aconchegar em seu abraço e involuntariamente voltei a rir do desastre que estava sendo aquele passeio.

Eu não sabia exatamente o que Regina sentia a meu respeito, não sabia o que os olhares enciumados significam e tão pouco entendia sua mudança drástica de comportamento para comigo. Em um dia me dava ordens sem me olhar nos olhos e no outro me beijava como se não tivesse nada a temer. Era tudo muito confuso e embora isso me fizesse rejeitar Neal como um par romântico e também o fato de só ter me envolvido com apenas um homem em toda minha vida quando era apenas uma adolescente, eu não precisava rejeitá-lo como amigo. Ele era um bom rapaz e me fazia desejar tê-lo por perto.

Quando decidimos que era hora de partir, ele me acompanhou de volta para a empresa e mais do que isso, me deixou na minha sala.

— Até amanhã, loira.— Deixou a sala sem olhar para trás e eu voltei a ligar o computador, não demorou muito tempo para que escutasse o barulho do salto de Regina se aproximando aos poucos e aquilo me causava um arrepio exorbitante.
— Loira.— Ela foi irônica. —Deixei um email para você anotar na agenda vermelha e não demore, preciso verificá-la antes de ir embora.— Ela se virou para sair assim que terminou de falar.
—Regina!— Falei em um tom mais alto e ela simplesmente não olhou para trás.

Era uma tortura imensa ver aqueles lábios vermelhos me dando ordens e não ter nenhuma recompensa por ser tão obediente. Eu estava passando a necessitar de Regina.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Onde histórias criam vida. Descubra agora