31 - Birthday.

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Depois da discussão que tive com a Emma sobre a necessidade de controlar nossos sentimentos em prol da saúde mental do nosso filho, senti um imenso desgaste emocional. Passei a noite inteira me revirando na cama, e o sono demorou para chegar. Foram incontáveis as vezes em que me movimentei de um lado para o outro, em busca de um peso nos olhos para finalmente conseguir descansar e esquecer que tudo aquilo havia acontecido. Mas não foi possível. Fiquei nessa luta por horas e, quando finalmente consegui me render ao sono, o dia já havia começado, e o sol veio me acordar. Acabei desistindo e me levantando, resumindo: ia ter que apelar para o café.

Tomei um longo banho e, nesse meio tempo, senti uma vontade gigantesca de chorar. Estava tentando me controlar, mas minha mente insistia em me julgar por todos os meus comportamentos. Sentia-me errada em qualquer atitude que pudesse tomar naquela situação. Finalizei o banho e saí com a toalha presa no corpo. Fiquei jogada na cama por um tempo antes de colocar uma roupa, óculos de sol para esconder a cara de quem não tinha dormido, e saí do quarto. Todas as crianças brincavam de uma gincana que eu desconhecia, mas que consistia em correr de um lado para o outro com uma bola na mão. Vencia quem conseguisse jogar a bola no chão primeiro... talvez? Eu não sei. Segui em direção ao refeitório e pedi uma imensa xícara de café. Fiquei agradecida quando recebi e pude sentir o cheiro gostoso que preenchia meus pulmões. Minha felicidade era tanta em finalmente conseguir tomar o café que nem me afetou o fato de Emma e Anna estarem sentadas juntinhas assistindo as crianças jogando.

Ela estava chateada comigo, eu não podia culpá-la. Talvez eu também ficasse brava comigo se estivesse do outro lado da situação, mas naquele momento estávamos encarando as coisas de modos diferentes. Eu até entendo que, às vezes, temos que nos render às coisas do coração, mas eu sempre tento colocar o bem do meu filho em primeiro lugar.

Não demorou muito para Henry notar minha presença e vir correndo em minha direção. Eu o recebi com um dos maiores sorrisos, só não podia garantir que realmente representava felicidade. Não era um momento muito confortável para mim, mas meu filho não precisava saber dos meus problemas.

– Oi, mamãe! Sabe que dia é hoje? – Ele falou, se sentando na cadeira giratória ao meu lado, e, como era óbvio, ficou girando sem parar.
– Pior que não sei. É Natal? – Me fiz de desentendida, enquanto dava mais um gole no meu café.
– Não, mamãe, é o meu aniversário. – Ele já estava tonto de tanto rodar, mas elétrico o suficiente para não se importar com isso.
– Jura? Eu nem me lembrava disso, acredita? – Deixei um riso fraco escapar da minha boca e puxei o menino para um abraço apertado, consequentemente o fiz parar de rodar antes de botar tudo que tomou no café para fora. – Parabéns, grande amor da minha vida.
– Obrigada! Hoje você vai para a piscina com a gente? – Ele falou e buscou com o indicador alguns fios de meus cabelos para enrolar em seus dedos, como fazia desde que era bem pequeno.
– Talvez. – Ergui o nariz um tanto convencida e ele bufou com isso.

Era dia de piscina e me diz: existe algo que combine melhor com piscina do que comida e bolo de aniversário? Não existe mesmo. Aproveitei que, nesse primeiro momento de entrar na piscina, eles ficariam distraídos o suficiente para nem pensar em sair da água, e procurei pelas caixas que havia levado na viagem. Elas estavam com algumas decorações de aniversário guardadas, a temática era de jogos de videogame, algo que meu filho adorava, e entre elas, bexigas e utensílios de festa.

Levei tudo para o refeitório, que ficava próximo da piscina, e aproveitei que, naquele instante, eles não buscariam nada para comer, afinal, tinham acabado de tomar café. Com a ajuda de algumas funcionárias, montamos uma mesa de aniversário bem decorada e deixamos o espaço para o bolo reservado, para ser posicionado somente na hora dos parabéns. Por fim, apanhei uma xícara de chá de camomila e segui para a beira da piscina. Me sentei em uma cadeira que havia ali e fiquei observando as crianças com suas brincadeiras perigosas, onde subiam nas costas uns dos outros e ganhava aquele que conseguisse derrubar o adversário. Era cada frio na barriga assistindo a isso, quase impossível de descrever.
Algumas horas se passaram até a primeira criança resmungar de fome, me alertando que aquele era o momento certo para os parabéns.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Onde histórias criam vida. Descubra agora