10- Far away.

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Estava quase pegando no sono quando o celular vibrou embaixo do travesseiro, me despertando e eu atendi sem ao menos olhar.

—Esqueci de me desculpar.— A voz era inconfundível e ela estava sussurrando como sempre.
—Está tudo bem, você não teve culpa.– Me sentei na cama e falei com suavidade na voz.
—Você correu, obviamente ficou chateada.— Eu queria vê-la, só a sua voz não estava sendo o suficiente para mim.
—Posso te contar uma coisa?— Falei depois de um tempo em silêncio.
—Por favor.— Saiu quase como uma suplica.
— Desde que Granny morreu, eu não chorei de fato. Eu fiquei triste diversas vezes pesando nela, mas não consegui chorar. Tem dias que eu saio de casa e bato a porta bem forte, na esperança de ouvir uma reclamação vindo dela. Eu fico olhando para essa carta e pensando no que ela tinha na cabeça quando decidiu fazer tudo isso por mim e sabe, eu tenho estado triste, mas ainda sim não tinha conseguido chorar. Quando estava na sua casa e ouvi o que seu marido ou quase ex-marido, não importa, me disse, eu senti vontade imensa de chorar, eu quis baixar a cabeça e chorar na frente dos dois. Pela intensidade do que foi perguntando e por como ele te tratou mesmo sabendo que eu estava presente. Eu não fiz, até porque eu queria demonstrar que sou forte e que confio em você, Regina. Eu estou apostando todas as minhas fichas em você e logo eu que me considero tão competitiva, não estou com medo de perder. — O silêncio voltou tomar conta da ligação.
—Emma?— Ela gaguejou.
—Sim?
—Me entregar de bandeja para você tem sido a maior loucura da minha vida. — Havia sinceramente em seu tom de voz, então não pude conter o sorriso de satisfação.  —E seja lá o que estiver escrito nessa carta, não vai ser nada que você não possa aguentar ou melhor que nós não podemos.

Eu admirava como Regina era superior e mandona aos olhos de todos, afinal, ela era a chefe com o apelido de Rainha má, dona de toda malvadeza, musa da crueldade e tantas outras coisas que Ruby inventara para espalhar pela empresa. Eu conseguia enxergar uma coisa muito boa nela, uma parte que ia muito além do seu profissionalismo e da sua aparência física. Algo sobre essência, de alguém que fingia para o mundo ser fria e insensível o tempo inteiro, mas no braços certos sabia não se esconder atrás de uma armadura.

O celular despertou e eu devido a insônia da noite anterior, quando me levantei ainda estava exausta e com dores no corpo de uma noite mal dormida.
Ao chegar na empresa deixei o café de Regina em cima da mesa, ela ainda não havia chegado, tratei de seguir para minha sala e depois de finalmente repousar o corpo na poltrona foi que eu percebi que apenas aquele copo de café não seria o suficiente para me deixar acordada.
—Bom dia, loirinha.— Uma voz cansada e familiar vinha da minha porta e eu apenas levantei os olhos para verificar.
—Neal, oi.— Respondi. —Que saudade de você, sumido.—Ele se arrastou até minha mesa e me abraçou bem forte.
—Apareço quando dá, você sabe como é né?— Piscou. —Isso é café?—Não controlei a risada ao escutar e ele com meu copo de café já nas mãos, riu também.
—Desculpa, estou supreendemente cansado hoje.— Bebeu do mesmo e revirou os olhos.
— Pois então somos dois. Parece até que eu trabalhei carregando sacos de cimento em uma imensa obra.— Ele riu novamente.
—Sempre te imaginei como pedreira, fazendo trabalhos braçais, então pensar em você carregando cimento fez total sentido na minha cabeça.— Zombou.
Eu dei uma risada alta e ele me abraçou com força, se sentou ao meu lado em minha mesa, ficou analisando todo meu serviço e pelo visto tinha muito tempo de sobra para isso e ficamos jogando conversa fora enquanto a hora de arrastava, apenas para que eu não dormisse. Depois de passar um bom tempo ali, o barulho de elevador me alertou que Regina estava para descer naquele andar, acabei apoiando minhas mãos sobre os ombros de Neal para tirá-lo do meu lado antes que ela pudesse ver e me espantei quando vi Ruby saindo do elevador e não ela. Foi só ali que eu entendi que tinha acontecido alguma coisa.
–Oi, estou atrapalhando algo?– Ela falou irônica apanhando alguns papéis sobre a mesa da chefe.
–Não tem nada para atrapalhar aqui, meu bem.– Falei sorrindo e ela sorriu, piscando para mim.
— Eu sei bem que não.
— Hm, está tudo bem com a Senhora Mills?
— Achei que você seria a pessoa ideal para me responder a mesma pergunta.
— O que está acontecendo aqui? Não estou entendendo nada. — Perguntou Neal.
— Nada. — Respondemos rapidamente em uníssono. Ruby suspeitava de alguma coisa.
— Eu não sei também, ela apenas me pediu para entrar em algumas reuniões por ela ao longo da semana, acho que vai tirar alguns dias de folga.  

No fim das contas Ruby tinha esse poder, nem mesmo os irmãos de Regina, estes que assim como ela também eram sócios da empresa, tinham o poder e o privilegio de substituir Regina em reuniões de negócios. A morena não os classificavam como responsáveis o suficiente para tal e que acabariam envergonhando o seu nome. Mas o que de fato não saia da minha cabeça era o motivo pelo qual ela não pensou em me avisar que ficaria distante por alguns dias.

Neal acabou ficou comigo o dia de trabalho inteiro, passamos praticamente o tempo conversando já que não havia muita coisa para fazer. Quando me deu a hora de ir embora, ele me ofereceu uma carona e eu aceitei, ele falava comigo sobre várias histórias de sua vida e como ele e Ruby tiveram uma infância difícil ao lado de um pai agressor, mas uma história de vida que era tão impactante como aquela não me desconcentrou da aflição que tomava meu peito. Uma mensagem. Era apenas uma mensagem para me dizer que estava tudo bem.

–Chegamos, minha bela.– Sorri e me aproximei para lhe cumprimentar como agradecimento e ele o mesmo.
–Obrigada.– Apenas sorri e sai de seu carro entrando em casa. 

Já era bem tarde da noite quando finalmente fiquei vestida adequadamente para dormir, mas ao invés disso, liguei primeiro a tv para ter certeza absoluta que não teria nada ali que alimentaria minha insônia por mais algumas horas, não aconteceu e eu precisei ir em busca do sono perdido. Quando finalmente peguei no sonho e estava quase começando a sonhar, o celular em cima da mesa de cabeceira vibrou e me fez levantar às pressas. Era uma mensagem de Regina me pedindo para descer, o que me espantou porque era madrugada, mas fiz com urgência já que queria muito saber como ela estava. Assim que desci, avistei ela do lado de fora do prédio, dentro do seu carro, me convidou a entrar pela porta que já aberta e eu fiz.

– Por que não me mandou nenhuma mensagem sequer, Regina?– Falei olhando em seus olhos e ela me olhava intensamente também.
–Meu doce, eu nem lembrei de celular, estava completamente transtornada e apressada, não deu, me desculpe.– Embora ela fingisse que não, era nítido que ela não estava vivendo uma das suas melhores fases.
–Não deu.– Repeti as palavras que saíram da boca dela, em uma tentativa de memorizar aquilo até que fizesse o mínimo de sentido possível.
– Eu vim me despedir. Bom, pelo menos por um tempo.– Passou a destra em meu rosto e o acariciou, pouco antes de me roubar um beijo rápido. –Estou indo viajar para uma das casas que herdei dos meus pais, é uma distância considerável daqui, confesso e também não tenho previsões para a volta.– Ela falou decidida como sempre era das coisas.
— O que está acontecendo?— Gaguejei um pouco, ela não podia me deixar assim.
— Eu não terminei, Swan. — Falou com seriedade. — Eu não suportaria ficar longe de você por tanto tempo, então eu gostaria de saber se você pode ir comigo e trabalhar de lá? Se for possível. — Ela concluiu e ficou aguardando minha resposta de imediato.
Eu simplesmente travei. Muita coisa estava em jogo e uma delas era a desconfiança que todos ficariam ao perceber que nem eu e nem Regina frequentaríamos a empresa pelo mesmo tempo determinado. Mas todos nós já estamos carecas de saber, eu não falaria não para ela.
–Quando?– Sussurrei, desviando meu olhar do dela.
–Agora!– Respondeu com firmeza.

Me virei, segurando em seu rosto com ambas palmas das mãos e a beijei com uma certa necessidade, logo sai do carro às pressas e subi para o quarto o mais rápido que podia, afinal, eu tinha uma mala para preparar.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Onde histórias criam vida. Descubra agora