35- My little Soph.

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O sono demorou para chegar, havia sido um dia muito intenso para nós, isso fez com que o nervosismo ficasse à flor da pele. Percebi a ausência de Emma na cama, deduzindo que talvez ela tivesse achado melhor dormir no quarto de visitas ou até mesmo na sala, quem sabe. Olhei para Soph no berço e ela dormia tranquilamente, apanhei a babá eletrônica e desci as escadas com cuidado, cheguei na sala e vi Emma deitada no sofá e parecia desconfortável.

— Emma. — Sussurrei com cuidado para não assustá-la. A loira se virou em minha direção e abriu os olhos lentamente, ficou em silencio, me olhando através da claridade da lua que invadia as janelas de vidro.
— Por favor, vá para o quarto.
— Eu estou bem.
— Parecia estar bem desconfortável. — Me sentei na beira do imenso sofá aveludado.
— Você pagou uma fortuna por esse sofá, é impossível ele ser desconfortável. — Ela se sentou também.
Um silencio se estabilizou na sala por um tempo, antes que ela se acomodasse mais no sofá, abraçando as próprias pernas.
— Eu sinto muito pela nossa discussão hoje mais cedo.
— Eu sinto muito também.
— Acho que precisamos conversar sobre o que será de nós nessa nova fase.
— Tudo bem. — Me virei de frente para ela e me dispus a escutar o que ela quisesse falar.
— Você não me acha capaz?
— Emma, honestamente, eu te considero mais do que capaz. Eu só suportei as crises da primeira e segunda infância de Henry porque você estava ao meu lado. — Apoiei o cotovelo no encosto do sofá e repousei o rosto na palma da mão.
— O que vamos fazer?
— Eu não posso decidir por você. Eu não vou exigir que você fique comigo como um casal só porque essa criança apareceu em nossas vidas, mas acho que a melhor opção para ela é se fizermos isso juntas. Eu quero a Soph. Eu sei que vou cuidar dessa criança com todo o amor do mundo, mas o que você vai fazer, isso é uma decisão sua. — Observei a expressão preocupada em sua face. Era impressionante como mesmo com o passar dos anos, Emma tinha envelhecido tão bem. Ela não era mais uma garota, mas ainda tinha traços de uma.
— Eu não vou te tranquilizar. Fazer parte da criação de um bebê não é uma tarefa fácil. Vai ter dias em que você vai querer sumir e deixar tudo para trás. Mesmo assim, eu acredito fielmente que podemos fazer isso juntas. O que você me diz?
— Eu quero fazer parte disso, Regina. Quero poder ter a chance de dar amor para a criança que foi gerada por uma das pessoas que mais me ensinou sobre o amor.
— Então faremos isso juntas.
Ela sorriu e eu também. A claridade era pouca, mas eu não precisava de muito para ver beleza nela. Eu sabia cada traço daquele rosto de cor.
Me aconcheguei melhor no sofá, encostando minha cabeça em seu ombro e ela me apertou em um abraço lateral. Ficamos abraçadas até cochilar, estava gostoso e só finalizou quando a claridade do dia amanhecendo se tornou um incomodo para os meus olhos. Me movimentei de um jeito que ela permanecesse em sua posição confortável e segui direto para a cozinha.
Era uma mudança muito grande que tinha acontecido do dia para a noite e dormir diante daquela situação seria difícil. Preparei um café da manhã reforçado, com frutas, pães caseiros, suco e ovos. Ficar sem dormir tinha me dado um pico de energia inexplicável.

— O que aconteceu com você? — Emma disse com dificuldade, por estar com a escova de dentes presa na bochecha. O cabelo estava desorganizado na cabeça, parte do rosto tinha a marca do sofá, indicando que a soneca havia sido boa pelo menos.
— Eu que te pergunto, o que houve com você? — Deixei uma risada escapar dos meus lábios e ela fez igual.
— Justo.
Emma voltou depois de um tempo e se sentou comigo na mesa para tomar o café da manhã, nos servimos de tudo um pouco do que tinha ali para repor as energias.
— Decidi que não vou trabalhar hoje e você também não.
Depois que me casei com Emma, tinha colocado ela em um posto maior dentro da companhia, assim como Ruby, ela assessorava os maiores clientes da empresa.
— Vamos organizar a casa, deixar ela o mais adequado para um bebê possível. O que acha?
— Eu acho ótimo. — Ela deu um longo gole no café — Começamos trancando a cristaleira?
— É triste, não é?
— Com certeza. — Ela não se importava com a cristaleira.

Assim passamos a tarde, intercalando as tarefas em organizar a casa e cuidar de Soph. Nos livramos das esculturas que apresentavam certo risco, trancamos a cristaleira e a adega, assim como colocamos protetores de quinas para todos os lados. Organizamos os brinquedos para ela que pudesse ter um espaço naquela casa e finalmente iniciamos a pintura do quarto de hóspedes. Era uma mudança radical.

— Você gosta?
— Eu achei ótimo.
— Certo. Assim facilita para quando ela for maior, vai poder escolher a decoração que gostar mais. — Emma posicionou na parede as luminárias de borboleta.
— Quando ela for maior. — Me sentei no chão do quarto de bebê e fiquei admirando Soph que dormia no quarto ao lado, através da babá eletrônica.
— Sim.
— Você consegue enxergar ela morando aqui quando for maior?
— A ideia é essa, não? — A loira usou o braço para tirar o cabelo do rosto e acabou sujando parte da testa com a tinta cor de rosa.
— Sim, claro. — Usei o polegar pra tentar limpar um pouco da tinta daquele rosto, assim que ela se sentou ao meu lado no chão. — Mas é uma novidade. Eu ainda estou tentando entender tudo o que está acontecendo.
— Vamos nos encontrar. Eu prometo. — Ela sorriu e tocou a minha mão, acariciando o dorso com o polegar.
— Eu sinto falta da Ruby. — Tentei evitar que uma lágrima escorresse em meu rosto, mas meus olhos foram inundados por lágrimas de uma profunda tristeza. — Ela era mais do que a minha melhor amiga. Ruby era a minha alma gêmea. Ela era um pedaço do meu coração que vivia fora do meu peito. — A ficha do que tinha acontecido começou a cair aos poucos. A dor que habitava o meu peito era impossível de se colocar em palavras. Era a dor de quem sabia que entrar na empresa a partir de agora, seria uma luta constante. — Eu tenho medo de um dia olhar para Soph e ver semelhanças com ela. Eu nunca vou ser tão boa para essa pequena como Ruby seria.
— Regina, não fala assim. — A loira apertou meu corpo contra o dela e aquela força foi o que eu precisava para deixar as lágrimas cairem. — Não será como ela. Você é uma mãe maravilhosa do seu jeito. Ruby nos escolheu justamente porque queria o melhor para a sua filha. — Usou as mãos para secar as minhas lágrimas e beijou o topo da minha testa. — Vai doer. Ok? Vai doer muito e por muito tempo. Mas vai passar também. Quando você menos esperar a dor passará a ser mais suportável com o decorrer do tempo. Eu tenho certeza que Ruby sabia do nosso amor por ela.
— Será que ela sabia mesmo?
— Eu não tenho dúvidas.
— Obrigada por tanto. — Deitei parte do meu corpo ao dela e aproveitei do abraço que transformava toda aflição em paz.

— Mamães? — A voz de Henry vinha do corredor. Ele estava parado no batente da porta, nos olhando abraçadas no chão. — O que está rolando aqui?
— Nada meu amor. — Limpei as lágrimas e me levantei. — Você já chegou da escola? Já está tão tarde assim?
— Perdemos a noção do tempo. — Emma se levantou e esticou a mão para que Henry pudesse bater, ele o fez.
— Presumo que sim. — Beijei a testa do meu filho e me retirei do quarto. — Banho e dever de casa. Eu vou preparar o jantar.
— Mamãe E, você me ajuda?
— Claro, garoto. Vou finalizar a fiação das luminárias, tomar um banho rápido para tirar essa tinta e te encontro lá embaixo, combinado?
— Fechou.

Tomei um banho rápido antes de descer para preparar o jantar. Fiz legumes assados e ravióli de gorgonzola com cebola caramelizada. Henry finalizou o dever de casa e jantamos todos juntos na mesa, enquanto ele contava sobre o seu dia e nos entretinha.

— Eu posso dar a mamadeira da Soph?
— Você acha que consegue? — Perguntou Emma.
— Prometo ser cuidadoso.
— Tudo bem. Então você pode.
Preparei a mamadeira, enquanto Emma lavava a louça da janta e nos posicionamos juntas no sofá para observar Henry tão dedicado em segurar Soph no colo e equilibrar a mamadeira na pequena boca. Felizmente Soph não nos dava trabalho para mamar. Na verdade, Soph não nos dava trabalho em momento algum. Parecia até que ela sabia da sensibilidade dos acontecimentos nos últimos dias e colaborava o tempo inteiro. Era um bebê tranquilo e bonzinho.
— Eu acho que ela me ama. — Disse ele ao observá-la tão tranquila enquanto dormia em seu colo.
— Eu tenho certeza disso, garoto.
— Ela é muito bonita.
— Assim como você, meu filho. — Beijei sua testa.
— Agora a Soph é nossa? — Ele ainda estava estranhando toda situação.
— Sim, Soph é a nossa garotinha. — Emma sorriu ao vê-los trocando tanto carinho.
— Eu vou te proteger para sempre, Soph. — Ele beijou a pequena mãozinha.

Eu podia jurar que o meu coração tinha derretido dentro do peito. Foi a cena mais linda que já tinha vivenciado. Aquilo foi a minha força para continuar.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Onde histórias criam vida. Descubra agora