— Posso te contar uma coisa? — sussurrei contra o peito dela, abafando a voz enquanto me envolvia em seu abraço. O efeito do calmante já havia passado, e uma longa noite de sono havia amenizado parte do turbilhão dentro de mim.
— É claro, minha querida. — Sua voz era calma, reconfortante. Seu rosto estava repousado no topo da minha cabeça, de modo que ela aspirava levemente o cheiro do meu cabelo.Hesitei por um momento, mas continuei:
— No meu primeiro dia na empresa... sabe o carro que estava na sua vaga? — gaguejei, certa de que ela me mataria pela confissão tardia.
— Era o seu, eu sei.
— Como? — Espantei-me com a rapidez da resposta.
— Bom, era o único carro desconhecido que apareceu na empresa naquele dia. Além disso, o porteiro me avisou. E quanto àquela ligação? Era encenação. Fingi que estava brava só para você ouvir. — Ela respondeu com uma serenidade que quase me irritou, como se aquilo não tivesse a menor importância.Foi impossível conter o riso ao lembrar de como quase enfartei naquela situação. Regina me acompanhou na risada, e logo em seguida levantou-se um pouco para ficar de frente para mim, seus olhos escuros buscando os meus.
— Emma... você está bem? — perguntou, com um tom que soava ainda mais belo por carregar preocupação genuína.
— Estou mais calma. Obrigada por ter ficado aqui comigo.Ela nada disse, apenas voltou a me envolver em seus braços, oferecendo um conforto silencioso que eu aceitei de bom grado. Fechei os olhos, deixando o cansaço me vencer mais uma vez.
Quando acordei, o sol já estava alto. O quarto parecia vazio e, ao olhar para o lado, vi que estava sozinha. Esfreguei os olhos ainda embaçados e logo notei um bilhete repousando sobre o travesseiro. Estiquei a mão para pegá-lo:
"Não! Eu não te deixei sozinha justo hoje. Na verdade, vou fazer melhor que isso. Então se arrume. Eu volto para te buscar às 17h."
A mensagem foi suficiente para me tirar da cama. Caminhei até o banheiro para um banho longo, deixando a água levar parte dos pensamentos confusos que insistiam em me acompanhar. Ao sair, vesti um cropped vermelho de lã, calça jeans de cintura alta e botas, tentando parecer minimamente apresentável. Apesar de estar pronta antes do horário, ainda havia uma sensação de vazio no quarto.
O silêncio era ensurdecedor. Meu olhar recaiu sobre a carta que permanecia ali, levemente amassada, como se zombasse de mim. Peguei-a com força, sentindo o aperto no peito retornar. Caminhei lentamente até o banheiro, encarando o lixo por alguns segundos, mas fui interrompida pelo som do interfone. Respirei fundo e segui até a sala para atender.
— Sim?
— Regina Mills, senhorita. — A voz formal de Archie era sempre estranha de ouvir.
— Estou descendo. — Respondi, desligando o interfone.Peguei a bolsa e bati a porta ao sair. Conforme descia as escadas, percebia os olhares de pena e os murmúrios de condolências. Alguns até lançavam pêsames, como se eu fosse a única a sentir a perda de Granny. Amava aquela mulher, mas carregar a culpa era um fardo que não suportava mais.
Ao chegar lá embaixo, avistei Regina. Encostada em seu carro, impecável como sempre, ela parecia saída de uma capa de revista: óculos de sol repousando no topo da cabeça, roupas caras e o sorriso que só ela sabia dar. Ao me ver, retribuiu o sorriso, e eu me aproximei. Suas mãos firmes deslizaram pela minha cintura enquanto ela me puxava para perto.
— Olá. — murmurou, aproximando os lábios da minha bochecha para um beijo suave que me fez revirar os olhos e sorrir.
Ela abriu a porta do carro para mim, e eu entrei. Esperei que ela desse a volta e se acomodasse ao volante. Por um instante, tudo ficou em silêncio, até que uma voz animada irrompeu do banco de trás.
— Oizinho, Emma!
Virei-me rapidamente e dei de cara com um garotinho de cabelos castanhos e olhos enormes, sorrindo de orelha a orelha. Preso à cadeirinha, ele parecia transbordar energia. Era Henry.
— Olá, garoto. — respondi, estendendo a mão para bagunçar seus cabelos perfeitamente arrumados.
— Sabia que mamãe vai nos levar para assistir a um filme de heróis? — Ele falou com empolgação.
— É mesmo? Que bom. Eu me preocuparia se você gostasse mais dos vilões.
— Mas a mamãe gosta dos vilões. — Ele respondeu com a inocência de quem acabara de revelar um segredo.— Sempre há um motivo muito justo para os vilões serem vilões. — Regina comentou casualmente, sem tirar os olhos da estrada.
— Regina!
— O quê? — Ela riu ao levar um leve tapa na coxa.
— Pois eu PERfiro o Hulk.
— Eu também PERfiro, garoto. — Preservei seu entusiasmo, deixando que ele contagiasse o ambiente.
— Se diz "prefiro", meu filho. — Regina o corrigiu, e eu ri daquela cena.Enquanto Henry brincava com um macaco de pelúcia, não consegui desviar meu olhar das mãos perfeitas de Regina no volante. Tudo nela parecia impecável: a pele, os cabelos, as roupas. Seu corpo era esculpido em perfeição.
— Algum problema, Swan? — Regina estava me olhando fazia minutos, e eu não havia percebido. O farol estava vermelho, e eu estava perdida em pensamentos.
— Não, problema nenhum. — Sorri, sem jeito.Olhei para trás e vi que Henry já havia adormecido.
— Nem pergunte. Ele pode estar animado como for, mas basta ligar o carro e ele dorme. É sempre assim. — Ela riu, e eu a acompanhei.
— Ele é lindo. E se parece muito com você.
— Está me cantando, senhorita Swan? — Regina voltou a dirigir enquanto eu revirava os olhos e dava um tapa leve em sua coxa, arrancando-lhe uma gargalhada.
— Olha, acho que agredir sua chefe pode dar justa causa.
— Bom, minha chefe mereceu o tapa. Fora que ela pode devolvê-lo quando quiser.
— Ela pode? — sussurrou, deslizando a mão pela minha coxa esquerda. Eu apenas assenti, enquanto o estacionamento escuro criava um clima intenso.Regina inclinou-se em minha direção, e seus lábios tingidos de vermelho tocaram meu maxilar suavemente, enquanto sua mão subia devagar por minha perna. Meu corpo reagia ao seu toque, mas...
— Chegamos? — A voz rouca e sonolenta de Henry nos fez dar um salto. Minha mão acertou acidentalmente o rosto de Regina, causando um pequeno corte em seu lábio.
— Regina! Meu Deus, me perdoa! — Entrei em pânico, vendo o sangue em seus dedos.
Regina gargalhou, e Henry parecia impressionado.
— Emma te deu um soco na boca. Que massa!Completamente desconcertada, acariciei o rosto dela.
— Está doendo muito?
— Você é engraçada, Swan.Ela saiu do carro, rindo, e soltou Henry da cadeirinha. O menino fez questão de dizer:
— Bom, então Emma vai ter que dar um beijo para curar!Rimos juntas, e eu jurei de dedinho que cumpriria a promessa.
Quando chegamos ao cinema, Henry já estava mais animado do que nunca. Ele escolheu assistir Os Vingadores, e sua alegria era tão palpável que se tornou impossível não sorrir junto. Sentados, ele no meio, eu e Regina trocávamos olhares discretos.
Enquanto o filme começava, percebi sua mão se aproximando da minha, entrelaçando nossos dedos de forma sutil. Meu coração disparou, mas mantive o foco em Henry, que ria alto e apontava para a tela a cada cena empolgante.
Regina, por sua vez, observava tudo com serenidade. Seus olhos brilhavam enquanto Henry exibia sua felicidade, e por um instante, percebi que aquele momento — cercada por eles — era tudo o que eu precisava..
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M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.
Fanfiction╭──────•◈•──────╮ COM AS CENAS BÔNUS EM ANDAMENTO ╰──────•◈•──────╯ "Regina foi a única mulher que me amou de todas as formas possíveis, desde a foda perfeita ao mais puro clichê de filmes românticos e eu a amava na mesma intensidade. " Uma definiçã...