16- Your super magic smile.

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A madrugada havia sido maravilhosa, exceto que quando acordei ela não estava ao meu lado, era algo típico da época do colegial quando tinha que abandonar a garota no meio da noite para ela acordar no outro dia ciente que foi apenas casual. Agora entendo como elas se sentiam, mas também compreendo Regina, ela era o nome e a imagem da empresa, tinha mesmo que se antecipar.

Tomei meu café com calma, me arrumei e quando conclui tudo o que tinha para fazer, apanhei minha bolsa e desci as escadas direto para o meu carro. Ao chegar na empresa pude notar que não tinha muitas pessoas presentes, podia apostar que a maioria estava com uma ressaca infernal que os impediam de trabalhar, mas isso pouco me importava, eu estava lá e faria meu trabalho impecavelmente bem, porque eu era esse tipo de mulher. Busquei por Regina com o olhar quando entrei em minha sala e notei a sua ausência, embora a curiosidade tivesse preenchido minha mente de questionamentos, optei por ignorá-los e ir realizar o meu trabalho. Precisava me desvincular um pouco de Regina para que ela pudesse viver a sua vida e me permitir viver a minha.
O trabalho acabou sendo mais estressante do que eu imaginava que seria, o tempo que passei fora acabou sendo um grande pesar, tinham diversos emails pendentes e mais de duzentas mensagens aguardando por respostas. Acabei atrasando meu horário de almoço e quando finalmente decidi me alimentar, surgiu uma vontade inesperada de convidar Neal para compartilhar as poucas horas comigo e quem sabe até resolver o clima estanho que ficou na nossa última ligação. Convidei e ele aceitou, então combinamos de no encontrar no restaurante em frente a empresa.
Assim que cheguei, ele estava sentado no fundo do restaurante e logo se levantou para me cumprimentar, nos sentamos frente a frente e esperamos para ser atendidos.

–Vou querer o mesmo, se ela pediu é porque deve ser realmente muito bom.– Sorriu para o garçom que anotou o pedido de dois pokes de salmão.
–Bom, precisamos conversar.– Fui direta e ele apanhou minhas mãos em cima da mesa.
– Como quiser.
– Eu fiquei um pouco confusa com a sua ligação naquela madrugada.
– E por quê?
— Não considera uma ligação um pouco aleatória? Digo, me ligou apenas para falar da vida dos outros em plena madrugada?
— Te incomodou, não foi? — Ele limpou o canto dos lábios com o polegar, estava sendo irônico.
— Por que me incomodaria?
— Porque a relação de Pamela com a Regina é um problema para você. Desconheço o motivo para você se importar tanto, mas você morre de ciúmes. — Ele deu um gole no chá gelado para limpar a garganta e eu fiquei estática com o que foi dito.
— Você não entenderia. — Era difícil falar sobre a minha relação com a Regina sem antes saber como ela queria que nossa relação ficasse. Eu não sei até que ponto isso poderia atrapalhar a sua vida, então achei melhor não arriscar.
— O que eu não entendo é como você pode passar tanto tempo comigo e nunca perceber como eu gosto verdadeiramente de você. Como tudo o que eu sinto é real e genuíno. — Neal se inclinou um pouco sobre a mesa e dizia tudo me olhando firmemente nos olhos. — Estou sempre ao seu lado, sempre te apoiando e você só me enxerga como amigo.
–Porque é o que você é, Neal. Um amigo, um grande e bom amigo, mas nada além disso. Eu sinto muito se não é o que você gostaria.
— Isso porque você está apaixonada pela Regina, não é?
— Não, isso é porque eu sou mulher suficiente para entender o que estou sentindo.
— Tudo bem, eu nunca te imaginei como menos do que uma grande mulher.

Eu sabia que ele não estava feliz, mas eu não sabia o que fazer diante da declaração e da insistência. Eu gostava do Neal, mas eu jamais deixaria Regina, independente do quão confusa estava sobre tudo isso. Finalizamos o nosso almoço e ele precisou partir antes de mim, pagou a sua conta e se retirou, eu não tinha pressa para sair, finalizei a minha bebida e permaneci sentada por um tempo. Foi quando percebi que não tinha falado com Regina ainda e já estava na metade do dia, uma preocupação fez meu peito apertar e eu não sabia me decidir se era ou não uma boa opção arriscar com uma mensagem. Optei por voltar para a empresa passando por dentro do parque que havia ali, meus pensamentos estavam longe e desejando que o pressentimento ruim fosse tudo coisa da minha cabeça, pelo menos dessa vez. Enquanto meus passos se arrastavam lentamente pelo caminho de volta, fui surpreendida quando dois pequenos braços contornaram minhas pernas com tanta força que me desequilibrou em cima do salto e quase me fez cair ao chão, se não fosse pelo equilíbrio que desenvolvi nos últimos minutos para o segundo tempo.

–Emma!!!– Aquela voz eu já havia escutado antes e por algum motivo, ela me deixou feliz.
–Garoto!!– Gritei na mesma empolgação e me abaixei para ficar na altura do garoto que foi me soltando aos poucos. Estiquei a palma da mão para ele bater e depois de um típico high five correspondido, abracei o corpo pequeno com uma certa força e o tirei do chão, girando no ar.
— Me desculpe, senhorita, ele não deveria. — Uma pequena senhora japonesa correu em minha direção e tentou arrancar Henry dos meus braços.
— Não, Nana. Ela é minha amiga e também é amiga da Momma. Está tudo bem. — Ele falou tudo perfeitamente bem como um mocinho educado e eu não consegui evitar o sorriso.
Coloquei Henry de volta no chão para evitar problemas e mais uma vez me abaixei para ficar na mesma altura que ele e continuar aproveitando o pouco tempo da oportunidade que tive de encontrá-lo.
— E onde está a sua mamãe?
— Ela saiu com o Robin. — O modo como o garoto optou por não chamá-lo de pai havia me deixado um pouco confusa, mas conclui que não era um assunto a ser tratado com uma criança. Ele deu de ombros e voltou a me abraçar, apoiando seu rostinho redondo em meu ombro e permaneceu ali por um tempo. — Eu estava com saudades, Emma.
— Eu também estava morrendo de saudades, garoto. — Beijei o topo de sua cabeça e acariciei os fios cheirosos dos cabelos perfeitamente penteados.
— Você pode me visitar em casa para assistir um filme de herói comigo? Por favor, diz que sim.
— Posso conversar com a sua mãezinha sobre isso. Tudo bem?
— Combinado. — Ele bateu em minha mão novamente e foi se afastando aos poucos, empolgado.
Henry tinha um super sorriso mágico que contagiava qualquer pessoa que chegasse perto dele. Era uma sensação nova para mim, me sentir feliz com um sorriso composto por dentinhos tão pequenos. Podia descrever como um amor gratuito, sem interesses, puro.
— Você quer brincar comigo? Ganhei novas pás para cavar no tanque de areia, vai ser super legal! Pormeto que deixo você ser a heroína que vai me salvar. — Não consegui me conter e deixei uma risada sincera escapar dos meus lábios, era mesmo um doce de menino.
— Você PROmete.
— Sim, já disse que pormeto.
— Se diz, promete, anjo.
— Ah, entendi. Então eu prometo.
Me aproximei outra vez e deixei o beijo mais demorado que já dei nas bochechas redondas e desejei do mundo do meu coração nunca perder o contato com aquela criança. Ele tinha mudado o meu dia, mudado o meu mundo.
–Eu preciso voltar ao trabalho agora, mas prometo de dedinho que na próxima vez que eu te ver, vou te salvar de um grande perigo, mocinho. Combinado?– Sorri e fiz cócegas no menor que se acabava de rir.
— Combinado. — Ele segurou meu dedo mindinho com o dele e deixou um beijinho em ambos, selando uma promessa. Meu coração transcendeu.
–Até mais, garoto.– Me levantei com cuidado e assisti a cena dele correndo de volta para a babá que o abraçou com força.

Eu voltei para a empresa depois de passar longos minutos assistindo ele brincar sozinho, ele tinha muita imaginação e me fazia recordar da minha infância, onde eu me virava sozinha em todas as brincadeiras por sempre ter tido o dom de sonhar alto. Henry havia feito toda a sensação ruim de preocupação no meu peito desaparecer e só restar carinho por ele.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Onde histórias criam vida. Descubra agora