7- Brings she back for home.

2.7K 229 30
                                    

Era o segundo copo de café quando tudo se estabilizou e o silêncio começou a me torturar.

—O que eu estou fazendo aqui mesmo?— Falei quase em um sussurro, tentando manter uma postura séria, enquanto ainda segurava a xícara nas mãos.
—Dá um tempo, Emma, você deveria me agradecer e não me questionar.— Ela falou revirando os olhos. Estava sentada na cadeira em frente a minha, segurando um jornal nas mãos, vestia um roupão preto e seus cabelos estavam molhados. Regina tinha uma beleza descomunal até quando estava no conforto de sua própria casa.
—Agradecer? Eu estava e ainda estou muito bem.— Menti.
—Eu vi mesmo, caindo de bêbada e sozinha, porque seu amiguinho te abandonou, não foi?—Ela falava séria, sem desviar seu olhar do jornal e sem perder sua postura.

Regina está com ciúmes?

Quando fui responder, meu celular tocou e eu levei minha atenção para ver quem era, mas o número era desconhecido.
—Atende, Swan, provavelmente deve ser ele.— Não aguentei tamanha provocação e por isso ignorei a ligação.
—Qual seu problema com Neal? Eu não entendo, não deveríamos estar falado da Pamela?— Agora fui eu que não consegui esconder o ciúmes.
—Não compara ela com ele.
—E por quê? Ela tem mais importância no mundinho de Regina Mills?
– Com toda certeza do mundo ela é mais importante que ele para mim.
– Eu juro que faço de tudo para te entender e não consigo. Em um dia você me trata com tamanho desdém, no outro me beija, em seguida aparece para esfregar o seu caso na minha cara e depois me traz para sua casa. – Pressionei as têmporas. – O que você quer de mim?
Ela fechou o jornal e me fitou por um tempo, não consegui desvendar sua feição, se era pena ou carinho. Eu apostaria em pena.
— Quer saber? Esquece. Você não me conhece, não me deve nenhuma satisfação do que faz ou deixa de fazer, do que sente ou deixa de sentir. Só te peço que me deixe longe da sua confusão, de incertezas já bastam as minhas.

O celular tocou novamente e a pessoa insistia mais que o normal, levei minha mão até o mesmo para atender, mas Regina acabou sendo mais rápida que eu e atendeu no meu lugar um tanto odiosa.
—Regina!— Falei, enquanto tentava tirar o celular de suas mãos, mas ela se afastou pra impedir que acontecesse.
— Isso não é hora para você atormentar a vida de ninguém, não é mesmo, senhor Cassidy? — Falou com tamanha ironia.  — Céus, peço desculpas. Eu não sou, mas vou passar para ela agora mesmo. — Sua expressão no rosto foi mudando conforme alguém falava algo para ela do outro lado da linha e eu apenas entortei as sobrancelhas, estava confusa.
— Certo, então estamos a caminho agora mesmo. Muito obrigada.— Regina desligou o telefone, apanhou as minhas roupas que estavam largadas na poltrona e simplesmente jogou em minha direção, enquanto caminhava em direção as escadas.
— Quem era?
— Era do hospital, falaram sobre alguém que eu não consegui entender muito bem o nome. Grammy?
—Granny!— Gritei ao me levantar.
—Se troca que eu vou te levar até lá.— Não entendi bem o motivo da gentileza considerando que ela estava brava comigo, mas eu não recusaria, estava realmente preocupada com a vovó que nem pensei em questioná-la pelo favor.

Me vesti o mais rápido que consegui e Regina desceu pouco depois já vestida, seguimos em direção ao carro e ela nos levou diretamente para o hospital. Assim que chegamos, um homem trajado de jaleco nos recebeu na recepção, ele estava com o telefone dela nas mãos e meu número sempre foi sua chamada de emergência, por isso me encontrou com tanta facilidade.
— Emma?— O médico caminhava em nossa direção.
—Eu mesma.
—Sou o Dr. Lewis, é um prazer. – Ele esticou a mão em minha direção e eu o cumprimentei. – O que eu tenho para te dizer preferi não falar pelo telefone.
—Seja direto, por favor.
—Tudo bem. Granny chegou aqui com um pequeno tumor no cérebro, seguiu com diversos exames e tomografias, até que pediu por uma cirurgia. Acontece que no meio dessa cirurgia tivemos uma complicação, uma hemorragia que resultou em uma morte cerebral, ou seja, ela está viva porém não pode falar ou se mover e irá ficar assim, respirando por aparelhos. Ela estava ciente do que podia acontecer e solicitou o desligamento, pediu que você fosse a responsável para verificar a assinatura e aprovar o ocorrido. — Foi nos guiando até o sofá enquanto falava. – Não é uma tarefa fácil, Emma, tenho total consciência disso, mas é importante você saber que era o que ela queria. Inclusive, antes de darmos inicio a cirurgia, ela pediu para que eu te entregasse isso pessoalmente. – Ele colocou uma carta em minhas mãos, jurou sentir muito pela minha situação e se retirou em seguida.

Por um instante meu mundo parou, nem o ciúmes que eu senti de Regina mais cedo era capaz de mudar o que eu estava sentindo naquele momento. Eu não sabia o que pensar, nem mesmo o que falar. Só parei. Granny era minha família! A única pessoa que implicava comigo de todas as formas possíveis, mas que eu confiava de olhos fechados, sem ela eu estava sozinha, eu não tinha ninguém.
Ela cuidou de mim e quando precisou, eu não estava aqui para cuidar dela. Estava detonada por dentro, inconformada como em um dia a pessoa está lá e no outro não mais, fazendo com que você a perca para sempre e para sempre é muito tempo pra se viver longe de quem ama.

—Emma?— Regina sussurrou e apoiou sua mão em meu ombro, acariciando-o e eu apenas a olhei. —Ele disse que você pode vê-la se quiser e terá que fazer isso ainda hoje.— Concordei com a cabeça e aceitei seguir Regina até o local onde Granny estava.

Entramos e ela realmente estava lá, deitada, parecia estar sorrindo, de todos os jeitos que eu já vi ela na vida, nunca imaginei que um dia a veria deitada daquele jeito e sem vida.
Por que ela me deixou uma carta? Por que não uma roupa, já que implicava tanto com as minhas. Por que não seu jogo de xadrez, já que me obrigava a passar horas jogando com ela. Ela não tinha o direito de me deixar toda essa responsabilidade. Ela não tinha o direito de me deixar.

Me sentei e segurei sua mão, apenas fiquei admirando seu rostinho, tinha um sorriso emoldurando meu rosto, enquanto as lágrimas caíam incessantemente. Regina novamente estava ao meu lado, passando suas mãos delicadas em meus cabelos e aquilo de alguma forma me confortava.
Fiquei ali por um tempo lembrando de cada coisa que passamos, cada machucado que tinha precisou dar um beijo mágico para curar, em todas as brigas por conta de feijão se era ou não importante para a saúde. Ela estava tão bem a última vez que eu a vi, por que ela nunca me contou tudo isso? Por que optou por fazer uma cirurgia se havia um risco tão grande assim? Muitas perguntas que ficariam sem respostas e não cabia a mim ir contra o desejo dela.
Assinei. Pouco antes de desligarem as máquinas que ainda a mantinha viva, segurei mais forte sua mão e sussurrei.

—Eu amo você, vovó! Velha implicante.— Beijei sua mão e sai da sala, não precisava ver aquela cena, não era justo.
Já era noite novamente quando chegamos em casa
— Fica comigo hoje? — Pedi um tanto cabisbaixa e Regina não pensou duas vezes.
Subimos até o meu apartamento e deixei que ela entrasse na frente, pedi um tempo para tomar um banho e colocar um pijama, depois convidei Regina a se deitar em minha cama comigo. Nunca, nem em um milhão de anos, eu imaginaria que em algum dia de minha vida estaria dormindo pela segunda vez no mesmo lugar que a minha chefe sem que isso se tornasse um problema. Estava dopada, tinha perdido as contas de quantos calmantes tinha tomado no decorrer do dia.
– Regina, se você não quer ter nada comigo, eu te entendo, prometo que vou te respeitar.
Ela riu, balançou a cabeça em negação e deixou um beijo delicado em minha testa.
– Descansa, Swan. Hoje foi um dia muito difícil, não pensa nisso agora.
Estava deitada ao meu lado, sem nem tirar os saltos dos pés, me abraçou forte e eu me aconcheguei em seu abraço, fechamos os olhos e ficamos ali, acabei mais uma vez dormindo sob o efeito do seu cafuné.

Estava acabada, mas nos braços de Regina eu me sentia infinita e me sentia segura.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Onde histórias criam vida. Descubra agora