Perdida

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Isso é impossível, eu vi, eu sei que vi. Olhei para Cassandra sem entender como era possível não ter nada lá, mas a única coisa que eu vi foram os dois me olhando preocupados.
- Eu vi. - Falei baixinho, mais para me convencer do que a eles.
- Lucy - Ouvi Cassandra dizer, olhei para ela enquanto me jogava na poltrona de novo.
- Que? - Pedi baixinho olhando para baixo, já não conseguia mais encara-los.
- Acho que você precisa descansar. Vou levar o almoço para você no quarto, sim? - Disse Cassandra se levantando e vindo até mim. Acenei que sim com a cabeça e me levantei. Cassandra me abraçou e depois me levou até a porta. Então é isso?
Tecnicamente eles estão me mandando embora. Talvez me devolvam ao orfanato. Será que tem como fazer isso?
Sai correndo até meu quarto no momento em que ela fechou a porta atras de mim. Será que tinha como ser pior? Meu primeiro dia lá e eu estava vendo coisas, subi a escada correndo e acabei trombando com Daniel no começo do corredor, literalmente. Mas ele me segurou antes de eu cair de cara no chão.
- Opa. Que pressa é essa Lucy? - Pediu ele sorrindo ainda me segurando, me desvencilhei de seus braços e sai correndo. Ele até tentou me alcançar mas eu fui mais rápida e me tranquei no quarto antes de ele chegar até mim.
- LUCY! O que aconteceu?
- Nada. Não aconteceu nada, por favor me deixa aqui. - Pedi começando a chorar. O que estava acontecendo comigo?
- Lucy! Meus pais fizeram alguma coisa? Por favor, me diz o que ta acontecendo...
Fiquei quieta sentada atras da porta. Eu não podia explicar, não tinha como. Eu nem sabia o que estava acontecendo. Ele continuou falando, mas suas palavras perderam o foco, somente fiquei sentada olhando para o nada e me perdi em meus pensamentos.
E então, silencio. Daniel não disse mais nada, e eu suspeitei que ele tivesse ido embora. Melhor assim.
Me levantei e fui até a cama. Me atirei lá e fiquei chorando sem saber o motivo, e então, dormi.

Pisquei e olhei novamente ao redor, isso era impossível. Uma hora eu estava dormindo, outra no meio da floresta. Comecei a caminhar pelo mato, procurando alguma pista de como fora para ali, mas não encontrei nada. Um barulho me fez ficar atenta, olhei ao redor tentado ver de onde viera, mas não vi nada. Comecei a ficar com medo, eu não estava sozinha. Ouvi o barulho de galhos se quebrando e sem pensar comecei a correr. Talvez, só talvez, se eu corresse rápido o suficiente, conseguisse fugir da coisa que estivesse atras de mim. Eu sei que foi uma ideia idiota, mas eu não pensei muito na hora.
Tropecei enquanto corria e cai contra uma árvore. Acredite, doeu, muito. Comecei a me levantar mas meus braços doíam, minhas pernas mais ainda. Eu devia ter me arranhado toda enquanto corria, quando cai então, devo ter batido com tudo nas raízes das árvores, o que fez com que eu me machucasse um pouco. Senti o sangue escorrer pela minha perna direita, o que fez com que eu ganhasse a força de que precisava para sair do chão de vez.
Me levantei e comecei a correr de novo, mais devagar, mas correndo o máximo que conseguia na hora. Pensei em como seria melhor se eu não estivesse de vestido, e decidi, que no que dependesse de mim, não usaria mais vestidos por um tempo. Se eu saísse dali viva, pelo menos. Tropecei de novo, mas dessa vez consegui me segurar antes de cair. Ouvi o barulho ficar mais alto, estava chegando perto. Comecei a entrar em pânico e corri ainda mais rápido. Desse jeito, poderia disputar as olimpíadas um dia.
Parei de correr para tomar folego e quase desmaiei ao perceber que não estava mais de vestido. Agora eu usava uma jaqueta preta, um jeans e uma blusa... vermelha, acho. Sei lá, havia ficado escuro enquanto eu corria, e agora era quase impossível de ver o que tinha ao meu redor.
Tentei a sorte e voltei a correr, depois me preocupo com esse negócio das roupas, pensei. O barulho ficava cada vez mais alto e eu estava cada vez mais desesperada, até que tive que parar de correr. Eu não aguentava mais, isso era demais para mim. Me parei e fiquei olhando ao redor, não havia mais nada que eu pudesse fazer, se continuasse a correr provavelmente daria de cara em uma árvore. Ouvi galhos se quebrando atras de mim e me virei. Enormes olhos vermelhos me encaravam, foi ai que eu comecei a gritar.
Estava prestes a sair correndo de novo quando ouvi uma voz me chamando.
- Lucy! - Estava perto, a voz estava perto, talvez alguém tenha vindo me ajudar... Praticamente comecei a chorar de alegria quando Daniel pulou na minha frente, logo em seguida Suzanna e Gabriel também apareceram, seguidos por seus pais.
Não sei direito o que aconteceu depois, mas pensei ouvir Daniel gritar algo parecido com Mortem Elemental e então o monstro sumiu e eu desmaiei.

Abri os olhos devagar, sentia-me toda dolorida e não conseguia me levantar. O que aconteceu? A última coisa de que me lembrava era de ter corrido para o quarto e adormecido. Mas considerando o meu estado, eu diria que corri uma maratona enquanto dormia e ainda lutei com algum maluco. Ouvi alguém bater na porta e tentei me levantar, gemi de dor e me deitei na cama de novo. Sem conseguir levantar gritei.
- Entra!
Daniel colocou a cabeça para dentro da porta e me olhou.
- Posso entrar? - Pediu ele, parecia preocupado então pensei, por que não? Puxei as cobertas para me cobrir melhor e falei.
- Claro.
Ele entrou devagar e veio até a cama, olhei para ele e abri um sorriso.
- Oi.
- Oi. - Disse ele sorrindo enquanto ia e se sentava na beirada da cama. - Você está bem? - Pediu ele ainda me olhando.
- Estou... Não. Na verdade eu acho que dormi de mau jeito, porque estou toda dolorida hoje. - Falei me sentando na cama com muito esforço.
- Ah, bem... É por isso que eu vim, sabe, é que ontem a noite... Não sei se isso já aconteceu antes com você...
- O que aconteceu ontem? - Pedi o interrompendo. Fiquei preocupada quando ele olhou para os lados ao invés de me olhar.
- É tão ruim assim? - Pedi.
- Hum... Bem, não. É que ontem a noite eu encontrei você no jardim. Eu não sei como você foi parar lá, mas achamos que talvez você seja sonambula, sabe...
- Hãm? Eu não sou sonambula! - Falei indignada. Isso nunca tinha me acontecido antes, não tinha como eu virar sonambula da noite para o dia!
- Ei, calma. Eu só vim ver como você está. - Falou levantando os braços em sinal de rendição. - Não vim te julgar nem nada assim. É que nós estranhamos ter encontrado você lá, só isso.
- Ah, desculpa. - Falei dando um sorriso nervoso.
- Tudo bem. - Disse ele se levantando. - Vou pedir para a mamãe preparar um chá para você, ok? Vamos ver se isso não melhora. - Disse ele sorrindo.
- Ok. - Falei sorrindo. Parei de sorrir assim que ele saiu do quarto. Eu odeio chá.

A Escolhida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora