Inimigos?

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Daniel narrando.

Saímos do orfanato para deixar Lucy se despedir, não que ela quisesse ir embora, mas porque seria melhor que ela tivesse privacidade para se despedir. Gabriel passou reto por mim e foi direto para o carro dele, nem mesmo olhou para traz enquanto entrava no carro e ligava o motor, quando começou a andar o carro parou bruscamente e Suzanna correu para alcança-lo. Revirei os olhos, o que tinha de tão legal naquele carro? Vi Gabriel olhar zangado para ela e aguardar ela entrar no carro, antes mesmo de ela colocar o cinto eles já estavam andando.
- Porque ela não larga mais ele? Falei olhando para meus pais. Eles também não pareciam muito contentes.
- Ela deve estar empolgada por poder sair, você sabe, sem os pais junto. - Falou minha mãe. Olhei para ela e assenti, mas eu acho que é por outro motivo. Não que eu fosse lhe contar, não ainda. A verdade é que eu suspeito que Suzanna venha usando seus poderes junto com Gabriel, para infernizar os humanos é claro. Temos regras a seguir, tipo, não usar o poderes no mundo humano a menos que você esteja em perigo, ou, não use os poderes no meio de uma rua humana para parar um carro. Não que eles liguem para isso, pensei. Cheguei ao carro e vi meu pai com algo que parecia uma... nota, na mão.
- O que é isso? - Perguntei me parando ao seu lado.
- Uma multa.
- Que? Porque você ganhou uma multa? - Olhei ao redor para tentar achar o que meu pai havia feito de errado. Não achei nada importante então só olhei para ele.
- Parece que eu não podia estacionar aqui por mais de 2 horas.
Ri, é sério isso? As leis humanas são as mais idiotas que eu conheço, francamente. Que diferença o tempo que meu pai estacionou aqui fez? Havia espaço para muitos carros ainda.
- Os humanos tem leis idiotas. Bem, isso não interessa muito, não vamos pagar a multa do mesmo, nunca pagamos.
- Idiotas ou não, são as leis desse mundo. - Falou ele colocando a multa no bolso e abrindo a porta do carro.
- Vamos ter de tirar o carro daqui - Falou ele ligando o motor, olhei para o orfanato e pensei em Lucy, o que ela faria se viesse para cá e não nos encontrasse?
- E a Lucy? - Perguntei.
- Você vem conosco, vê aonde vamos estacionar e depois volta para busca-la, a pé.
- Ok.
Entrei no carro e nem me preocupei em usar o cinto. Ele estacionou o carro na outra rua, que diferença! Sai do carro e caminhei em direção ao orfanato, só precisava virar uma esquina e já poderia vê-lo. Vi Lucy olhar pra dentro de um dos carros e depois se parar confusa do meio da calçada. Comecei a correr e gritei.
- Lucy! - Ela se virou para mim e parecia surpresa. Afinal, não é sempre que um Daniel Hathaway surge correndo no mundo humano, pensei.
- Tivemos de tirar o carro daqui, parece que há um limite de horas para um carro ficar estacionado aqui. - Falei dando de ombros, sorri enquanto ia até ela e lhe estendi a mão. Fiquei imaginando se ela ia se recusar a me dar a mão de novo, mas para a minha surpresa, ela a pegou. Sai caminhando, levando ela comigo mas me contive quando ela parou do nada quando chegamos perto do carro. A puxei um pouco para continuarmos andando mas ela continuou parada. Ela olhava para ele como se nunca tivesse visto um carro antes.
- Calma, ele não morde sabia? - Falei brincando, ela me olhou com uma cara de: você acha que eu tenho medo? E eu comecei a rir, chegamos ao carro e a vi olhar para dentro, procurando alguém supus.
- O Gabriel fez carteira a pouco tempo. Então ele praticamente só dirigi, e a Suze, bem... ela acompanha. - Falei imaginando que ela deveria estar procurando meus irmãos.
- Ah. - Ela falou parecendo satisfeita. Acertei em cheio no que ela tava pensando, pensei. Abri a porta para ela, mas ela pareceu não notar, ela só ficou olhando pela janela enquanto nos afastávamos do orfanato. A viagem seria longa, se ela pelo menos soubesse o que nós eramos, poderíamos abrir um portal.
Ficamos em silêncio parte do caminho até que notei que Lucy havia adormecido encostada no banco.
Me sentei ao seu lado e fiquei a observando dormir, ela parecia um pouco cansada mesmo, pensei.
- Ela dormiu? - Perguntou minha mãe.
- Sim. - Falei a olhando.
- Faça um feitiço, para ela não acordar. Assim poderemos abrir o portal. - Disse ela cuidando para que Lucy não acordasse.
Sussurrei um feitiço do sono e a segurei enquanto atravessávamos o portal. Logo estaríamos em casa.

...............

Jesse narrando.

Esperei Lucy durante quase 3 horas até que finalmente, me convenci de que ela não viria. Me levantei da grama e sai de trás da grande árvore em que eu e Lucy costumávamos nos encontrar. E quando eu digo grande, é grande mesmo. Essa arvore já tem mais de 40 anos e até hoje, ninguém sabe quem a plantou. Ela só nasceu e cresceu aqui, ninguém veio rega-la, ninguém veio cuidar dela. Ela só sobreviveu, como nós eu diria. A arvore ficava nos fundos do orfanato em um área que era proibida para todos. Nem mesmo a diretora vinha aqui, bem... eu diria que as únicas pessoas que vinham aqui eram eu e Lucy. Comecei a caminhar mais rápido, pulei o muro que cercava toda a propriedade e corri em direção a minha casa. Que não era perto, alias.
Quando cheguei em casa, tentei fazer o minimo de barulho o possível e me joguei na cama. Fiquei pensando em quando eu conseguiria ver Lucy de novo e no final, dormi pensando nela.
Acordei com o canto do galo, e pulei da cama quando vi que já eram quase 7 horas. Peguei uma maça de sima da mesa e sai para ir trabalhar. O caminho até a padaria do Sr. Avilla era curto, mas a minha vontade de ir até lá não era das melhores hoje. Levei um susto quando um gato dos infernos pulou na minha frente do nada, e a dona dele ainda me xingou por estar andando muito perto da casa dela. Muito perto! Vê se pode, eu tava quase no meio da rua.
Quando cheguei na padaria o Sr. Avilla estava preparando um fornada grande de pães para entrega, fui arrumar a bicicleta e depois me sentei em um canto da padaria enquanto esperava.
- Jesse! Ei garoto, ta acordado? - Falou o Sr. Avilla vindo até mim. - Levanta ai. Ou você vai se atrasar para ver a sua garota.
- Que? - Falei me levantando em um pulo. Minha garota, Lucy! - A entrega é no orfanato? De novo? - Falei sorrindo. Agora sim, agora meu dia melhora.
- Pelo jeito eles comeram muito ontem. - Falou o Sr. Avilla rindo. Corri para pegar a caixa com os pães e a prendi na parte de trás da bicicleta.
- Vá com calma garoto. Ela não vai fugir. - Falou ele tentando olhar sério para mim.
- Pode deixar Sr. Avilla. - Falei já saindo com a bicicleta. Tive que dirigir devagar para os pães não esfriarem muito. Mas quando cheguei ao orfanato praticamente corri com a caixa para a cozinha.
- Bom dia Senhoras e Senhoritas. - Falei colocando a caixa em sima da bancada.
- Bom dia Senhor Jesse. - Falou a irmã Camille séria. - O Sr. Está bem feliz hoje não?
- Mas é claro. Já viram como o dia está lindo hoje? - Respondi sorrindo. Conversei mais um pouco com as cozinheiras e depois sai em direção ao jardim. Lucy não estava lá, fiquei a esperando por um tempo até que vi Mary se sentar em um dos bancos do jardim. Olhei ao redor e quando vi que não tinha ninguém por perto fui até ela. Me aproximei devagar, tentando não fazer barulho e pulei do lado dela no banco.
- Bom dia Mary! - Teria sido bem divertida a cara dela se ela não tivesse gritado e me empurrado do banco.
- Ai Mary! Qual é o seu problema? - Falei me levantando e tirando as rosas que haviam caído em sima de mim.
- Meu problema?! Você quase me matou de susto! - Gritou ela. Que exagero, meu Deus.
- Relaxa Mary. Vem cá, cade a Lucy? - Perguntei me apoiando no banco, percebi que havia algo errado quando ela ficou pálida e desviou os olhos.
- Mary, o que aconteceu? A Lucy se machucou? O que houve Mary? - Comecei a falar depressa e cada vez mais alto, até que ela me mandou ficar quieto de uma forma nem um pouco gentil.
- Você aprende essas palavras aqui? - Perguntei sem me conter.
- Jesse. Cala a boca e me ouve. Odeio ser eu a te contar isso... mas a verdade é que a Lucy foi adotada. Ontem.
- Que? Como assim? Adotada? Não, isso não é possível. Por quem?
- A Lucy é uma Hathaway agora Jesse. A família que veio ontem já a levou, ela não ficou nem para o jantar.
- O que? Mais que merda! Ela nem se despediu de mim.
Ela me olhou com uma cara estranha e eu a encarei.
- Que foi? - Pedi.
- E você teria deixado ela ir?
Não, sem dúvidas não. Fiquei em silêncio olhando para ela, e mesmo não tendo falado nada, acho que ela viu a resposta nos meus olhos.
- Foi o que eu imaginei. - Falou ela. Ficamos em silêncio por um tempo, até que algo veio a minha mente.
- Aonde eles moram? - Pedi baixinho. Ela me olhou como se não tivesse entendido a pergunta e eu pedi de novo.
- Aonde eles moram Mary?
- Eu não sei. Ninguém além da diretora sabe, por que?
Ninguém sabe... sempre há alguém que sabe e a diretora não vai me contar, pensei. Então eu preciso de um plano. Virei as costas para ela e sai correndo em direção a entrada. Não me virei quando Mary me chamou, somente peguei a bicicleta e fui embora. Eu vou descobrir onde ela está. E terei ajuda para isso, afinal, eu conheço alguém que pode encontra-la para mim.





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Gente, acho que alguns de vcs devem ter reparado, que eu mudei a capa da história. Eu achei que essa capa aqui ficou melhor, mas eu queria saber o que vcs acham. E então, ficou bom?

A Escolhida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora