Correspondências

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Até que o chá não era tão ruim assim, na verdade, ele até que era bom. Depois de terminar o chá que a Suze trouxe para mim, comecei a me sentir melhor. Tão melhor que em menos de 30 minutos sai correndo do quarto para ir a cozinha. O chá tinha me deixado com fome, com muita fome. Corri escada a baixo e dei de cara com o Daniel e a Suzanna caminhando em direção a escada.
- Lucy! Está melhor? - Pediu Suzanna vindo até mim e me dando um abraço.
- Estou, e muito! - Falei sorrindo enquanto a abraçava.
- Ótimo. Pra onde estava indo com tanta pressa?
- Pra cozinha. Estou com muita fome... - Falei sorrindo. Suzanna começou a rir e me soltou.
- Dani, leva a Lucy lá. Que eu vou começar a me arrumar pra hoje. - Disse ela começando a subir a escada. Logo só estávamos mais eu e ele lá parados.
- O que tem hoje? - Pedi quando Suzanna já tinha sumido de nossas vistas.
- Compras. - Disse ele sorrindo e me puxando. Corremos para a cozinha, e me sentei em frente a bancada enquanto Daniel pegava de tudo para eu comer.
Comi até estar totalmente satisfeita, e eu fiquei ouvindo Daniel contar sobre todas as lojas para onde Suzanna provavelmente me arrastaria durante o dia.
- Satisfeita? - Pediu ele quando terminei.
- Sim. - Respondi rindo. Me levantei e comecei a caminhar em direção a porta. Sai e ouvi Daniel gritar atras de mim.
- Okay, não precisa me ajudar! Eu arrumo tudo sozinho!
- Obrigada! - Gritei de volta e comecei a rir, sai correndo antes de ele responder.
Percebi que ainda estava com minha roupa de ontem então subi para o quarto e fui tomar um banho. Não sabia ao certo o que vestir, ainda mais se nós fossemos sair hoje. Peguei minha mala, que eu nem sei porque ainda não tinha desfeito, e a abri. Eu não tinha nada lá muito bonito, mas mexendo em minhas coisas achei algo que não era meu. Uma blusa vermelha, continuei olhando e encontrei mais uma calça e uma jaqueta. Pensei em ir pedir a Suzanna se por acaso eram delas as roupas, mas, elas estavam na minha mala e me pareciam... familiares.
As usei e me parei em frente ao espelho, eu conhecia aquelas roupas... E meus olhos saíram de foco.
A floresta, o medo, a dor e Daniel. Tudo voltou, eles não tinham me encontrado no jardim, eles estavam mentindo para mim. Olhei meu reflexo no espelho e jurei que meus olhos estavam azuis, mas antes de eu fazer qualquer coisa, o espelho rachou e se quebrou.
Arregalei os olhos e sai de perto da moldura do espelho. Era um milagre não ter caído nada em mim, a porta se abriu em questão de segundos depois disso.
- Lucy, você está bem? O que aconteceu? - Perguntou Suzanna vindo para perto de mim. Ela olhou o espelho e arregalou os olhos, depois olhou para mim e ficou muito pálida.
- O espelho se quebrou. - Falei olhando séria para ela.
- Hum, que... que estranho. - Disse ela olhando do espelho para mim. - Você ainda não respondeu a minha primeira pergunta Lucy. Você está bem?
- Ótima. Acabei de lembrar de quando você e sua familia me encontraram ma floresta ontem a noite. - Falei fria. Ela ficou ainda mais pálida.
- Oh, Lucy. Por favor, não conte a mais ninguém o que lembrou. Por favor. - Ela falou parecendo meio... desesperada.
- Não vou. Mas não sei que diferença vai fazer. - Falei ainda olhando para ela. Mas é verdade, se aquilo aconteceu mesmo, eu contar não vai mudar nada. E eles são minha família agora, seria idiotice querer arranjar confusão com eles.
Ela não conseguiu me responder por que naquele instante Cassandra entrou correndo no quarto.
- O que aconteceu? - Pediu ela nos olhando.
- O espelho quebrou. - Falei sem olhar para ela.
- E vocês estão bem? - Pediu ela vindo até nós.
- Sim. - Respondemos juntas.
- Ah. Ótimo, nesse caso, se já estiverem prontas, o carro está esperando lá em baixo.
- Quem vai nos levar? - Pediu Suzanna para a mãe, de repente muito feliz.
- Gabriel. - Respondeu ela. Vi Suzanna dar uns pulinhos e em seguida ela me puxou e falou para a mãe.
- Eba! Estamos prontas, tchausinho. - Disse ela me arrastando porta a fora. - Vamos! Vai ser divertido.
E depois ela saiu correndo escada a baixo comigo logo atras.
Quando saímos da casa, Gabriel estava sentado dentro de um enorme carro preto nos esperando. Suzanna se sentou no banco da frente e eu fui atras. Logo eles começaram uma emocionante conversa sobre uma tal de Amanda e ela ter colocado silicone. Não sei em qual momento eu me desliguei da conversa deles, mas quando voltei em mim, eles estavam me chamando.
- Ei garota! Sonhando acordada? - Falou Gabriel me olhando irritado.
- Lucy, vamos! - Chamou Suzanna impaciente. Tirei o sinto e sai do carro, Suzanna saiu na frente e eu somente a segui.
Devemos ter ido a pelo menos 10 lojas diferentes, e em todas, Suzanna comprou montes de roupas, acessórios, e sapatos. Gabriel tinha ido encontrar um amigo, e só apareceu de novo quando havíamos terminado as compras. Devemos ter encontrado pelo menos metade da escola de Suzanna durante o dia, foi meio frustante ter que ficar ouvindo eles conversarem e explicar que eu era a nova "irmã" deles toda hora. Fiz alguns amigos, mas na maior parte do tempo fiquei sobrando, então agradeci quando Suzanna finalmente disse que voltaríamos para casa.
Havíamos feito tantas compras que quase não consegui mais me sentar no carro. Quando finalmente chegamos em casa, tivemos que levar tudo para o segundo andar, e ficamos quase meia hora indo para lá e para cá. Provavelmente teríamos terminado antes se Gabriel tivesse nos ajudado. Parecia que não tinha ninguém em casa, então, Suzanna e eu ascendemos a lareira e pegamos algumas besteiras para comer.
Dei mais uma mordida em um bombom e taquei o papel em Suzanna.
- Cade a sua família afinal? Até o Gabriel sumiu. - Falei olhando para ela.
- NOSSA família. - Disse ela pegando outro bombom. - Não sei onde estão, provavelmente em algum lugar bem legal, se divertindo pra caramba sem a gente. - Continuou ela.
Já havia passado das 2 da manha quando Daniel entrou pela porta da frente com seus pais. Ele nos olhou assustado e então disse.
- Ainda acordadas senhoritas? - Pediu ele vindo até nós e se jogando no sofá. Seus pais sorriram para nós enquanto caminhavam pela sala.
- Sim. - Falou Suzanna. - É que queríamos ver que horas seriam quando vocês se lembrariam da nossa existência. - Emendou ela em seguida. Cassandra franziu o cenho e olhou para o marido.
- Mas nós avisamos o Gabriel de que teríamos que sair. E falamos para vocês não nos esperarem, e se me lembro bem, mencionei algo sobre não comer besteiras para ele também. - Disse ela olhando para as dezenas de embalagens de bombons que estavam jogados pelo sofá.
Corei e olhei para Suzanna, ela parecia pensativa.
- Ele não nos falou nada. Na verdade, pensamos que ele tinha ido encontrar vocês, já que sumiu assim que chegamos em casa. - Disse ela olhando para a mãe.
- Estranho... Bem, agora não importa mais. - Disse ela indo em direção a escada. - Agora, é hora de irmos dormir, todos nós. - Disse ela ainda caminhando.
Me levantei do sofá e comecei a ajuntar os papeis de bombons que estavam jogados por lá, Suzanna também se levantou e começou a arrumar tudo o que havíamos bagunçado e Daniel só ficou lá sentado nos olhando. Acho que isso é uma espécie de vingança por eu não ter ajudado ele na cozinha, se bem que nenhuma das coisas é lá muito difícil. Quando terminamos, subimos cada um para seus quartos, me joguei na cama e apaguei antes mesmo de pensar em trancar a porta.

A Escolhida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora