Irmãozinho Querido

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O silêncio que se abateu sobre a biblioteca no momento em que Cassandra disse que Mary voltaria para o orfanato foi tão forte, que por um momento jurei que todos tinham parado de respirar. 

- Mãe. - Ouvi Gabriel dizer, me levantei e me virei para ele.

- A culpa é sua. - Falei o interrompendo, e que se dane o que vão pensar, a culpa é dele mesmo. - Se você conseguisse seguir as regras... - Continuei lhe mandando um olhar cheio de raiva.

- Não Lucy, a culpa não é dele. - Ouvi Mary dizer, me virei para ela e a encarrei, não ouse defende-lo, pensei enquanto a encarava. - Nós sabíamos que eu teria que voltar uma hora ou outra. - Continuou ela calmamente, que droga.

- Você vai ter que voltar para o orfanato. - Falei a encarando. - Não estava gostando de ficar aqui? Se você for embora não vai poder mais me ver com tanta frequência. Ou ver a ele. - Falei lançando um olhar para Gabriel.

- Eu sei. - Disse ela. - Mas vamos dar um jeito, como sempre damos. - Continuou ela dando um sorriso.

- Se você acha. - Falei antes de me virar e sair da biblioteca, isso não pode estar acontecendo. Agora que finalmente me deram permissão para sair, agora que poderíamos sair juntas para nos divertirmos. Logo agora, eu fui mesmo muito idiota ao pensar que talvez Cassandra e Nicklaus adotassem Mary. E se a culpa não é do irresponsável do Gabriel, é de quem então? Minha? É, deve ser, afinal, fui eu quem a jogou para cima dele. Fui até meu quarto e bati a porta ao entrar, se Mary voltar para o orfanato, quando eu irei vê-la novamente? Me joguei na cama e fechei os olhos, a porta se abriu logo em seguida.

- Lucy, nós sabíamos que isso ia acontecer. - Ouvi Mary dizer calmamente, me sentei na cama e a encarrei.

- Você não me contou que estava com Gabriel, foi a biblioteca com ele mesmo sabendo que não podia ir lá. - Falei, ela veio até a cama e se sentou a minha frente. - Por que? - Pedi-lhe então.

- Não foi por mal. - Disse ela. - Não planejamos nada, ele só chegou em mim um dia e disse "E ai? Quer ir comigo a um lugar?" e eu fui. Ficamos pela primeira vez naquele dia, e depois começamos a ir sempre a biblioteca. - Disse ela, a olhei e ergui a sobrancelha.

- Acho que sei porque Tiki tem encontrado bagunça na biblioteca então. - Falei calmamente, ela me olhou parecendo confusa.

- Do que você está falando? Nós nem tocamos nos livros quando estavámos lá. - Disse ela séria.

- Como não? Então quem...? - Que droga, preciso contar isso a Tiki, e logo. Talvez Cassandra mude de ideia se descobrirem que não foram eles, talvez... - Hum... Mary? Lembrei que tenho que tirar umas dúvidas sobre os livros com a Tiki. É muito importante, sabe... - Falei me levantando da cama.

- Está bem. - Respondeu-me ela antes de eu sair. Fui em direção a biblioteca e cheguei bem na hora em que Cassandra e Gabriel saiam de lá. Cassandra me olhou surpresa por uns instantes antes de voltar a seu estado normal, séria. 

- Algum problema Lucy? - Pediu-me ela tranquilamente. Neguei com a cabeça e dei um sorriso.

- Não. Eu só queria tirar umas dúvidas com a Tiki. - Falei calmamente.

- Ah, sim. - Disse ela saindo de meu caminho. - Então siga em frente. - Disse ela, e eu segui. 

- TIKI?! - Gritei ao entrar, a porta se fechou atrás de mim e sai caminhando pela biblioteca calmamente. Logo Tiki apareceu voando em minha direção.

- Lucy, esqueceu alguma coisa? - Pediu-me ela sorrindo.

- Não. Eu só queria falar com você. - Falei, ela me olhou e acenou em direção a poltrona, fui até lá e me sentei. - Falei com a Mary, não foram ela e Gabriel que mexeram nos livros. 

- Gabriel disse a mesma coisa. - Disse ela calmamente. - Mas não temos como saber. - Continuou ela. - E então? Era só isso? - Pediu-me ela.

- Ah, era. - Falei, ficamos em silencio por um tempo. - Hum, então eu vou indo... - Falei ao me levantar, Tiki me olhou e sorriu. - Será que você podería falar com Cassandra sobre...?

- Não, lamento Lucy. Agora eu preciso ir ali arrumar alguns livros... Se não se importa. - Disse ela, sorri e me virei para ir embora, é claro que não me importo. Sai da biblioteca e voltei para o quarto, Mary não estava lá, novidade. Me joguei na cama e peguei um dos livros que tinha que ler "Feitiços de Nível 1, para bruxos iniciantes". Esse livro é para crianças, Suzanna me disse que o leu quando tinha 7 anos. Abri-o e comecei a ler, fiquei no quarto então até o anoitecer. 

                        ......

- Lucy. - Ouvi alguém me chamar, levantei da cama e fui até a porta.

- Sim? - Pedi ao ver Gabriel na porta, ele olhou ao redor antes de me empurrar para dentro do quarto e entrar fechando a porta atrás de si.

- Ei ei ei. O que você quer? - Pedi-lhe enquanto o via ir até a minha cama e se sentar. - Sai da minha cama. - Falei o olhando, ele riu.

- Calma maninha. - Disse ele se deitando, que abusado. - Só quero conversar.
- Sobre o que? - Pedi-lhe cruzando os braços.

- Mary ué, não quero que ela vá embora. - Disse ele sério então. 

- Tarde demais para você querer isso não é? Tivesse pensado nisso antes de quebrar as regras, Mary não teria que ir embora. - Falei calmamente. Ok, talvez falar isso tenha sido maldade, pensei ao ver a cara que ele fez. - Olha, desculpe, é que Mary é como uma irmã pra mim, e vocês tão namorando e tals e não me falaram nada. E agora ela vai ter que ir embora... - Falei enquanto ia até a cama e me sentava a sua frente. 

- Tudo bem. - Disse ele se sentando também. - Você tem razão. 

Uau, eu tenho razão, ele disse que eu tenho razão. Sorri, uma hora alguém ia acabar percebendo isso.

- Você está adorando o fato de eu ter dito isso, não é? - Pediu ele, comecei a rir.

- Claro. - Falei rindo. - Sua mãe disse quando quer que Mary vá? Aliás, onde ela está agora? - Pedi-lhe, ele me olhou e deu de ombros.

- Só porque estamos juntos, não significa que eu tenha que saber onde ela está o tempo todo. - Disse ele, sorri, é verdade.

- Quando querem que ela vá? - Pedi-lhe então, ele me olhou sério.

- Amanha, logo pela manha. - Disse ele, fiquei o encarando por um tempo, eu tenho somente algumas horas para convencer Cassandra a deixar Mary ficar. Mas dessa vez, ficar para sempre.

- Gabi, nós temos até amanha de manha para convencer a sua mãe a deixar Mary ficar. - Falei calmamente, ele me olhou sério.

- O que você tem em mente maninha? - Pediu ele, sorri.

- Precisamos de um plano. - Falei antes de trancar a porta e começar a contar o que tinha em mente. Vamos ter trabalho pela frente.

A Escolhida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora