Qual o seu problema?

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Saímos da loja de chapéus e caminhando pelas ruas agora bastante movimentadas, aonde será que vamos agora? Segui Lilian de longe, desde nosso encontro com Jade ela está irritadinha, e eu é que não quero discutir com ela. Vi ao longe um casal sentado em um banco, ela estava com um boque de rosas na mão, romântico... Lembro-me de quando Jesse me deu um, quando fiz aniversário esse ano. Desviei o olhar, faz semanas que não o vejo, e ele não me escreveu mais... Percebi que havia parado de caminhar e estava parada no meio da rua, algumas pessoas me encaravam e outras passavam resmungando. Voltei a caminhar e apressei o passo para chegar em Suzanna logo.

- Ei, Suze! Me espera. - Falei ao chegar até ela, comecei a caminhar ao seu lado então.

- Por que você tinha que ser "amiga" da Jade? - Pediu-me ela então. Assim, de repente. A olhei sem saber o que falar, mas o que de tão ruim a Jade fez para eles?

- Ela é legal comigo. - Falei a olhando. - Nunca fez nada para mim. - Continuei falando. - Não sei por que vocês não gostam dela, ela é legal. Mas vocês não lhe dão uma chance. - Falei, Lilian que andava a nossa frente se virou então e veio até nós, ela parecia furiosa.

- VOCÊ NÃO PODE ANDAR COM ELA! ELA É MÁ, É CRUEL, E VOCÊ A CONHECE A O QUE? DOIS OU TRÊS DIAS!? - Gritou ela, praticamente se atirando para cima mim, fiquei paralisada na rua, a encarando. Algumas pessoas se pararam para nos ver, mas eu deixei de prestar atenção assim que o impacto de suas palavras chegaram em mim. 

- Qual o seu problema?! - Falei calmamente. - Eu a conheço a mais tempo que conheço você. E você NÃO PODE decidir por mim. - Falei dando um passo a frente para ficar mais perto dela, eu não vou demonstrar medo. Não vou. Quem ela pensa que é? Ela não me conhece nem a cinco horas e acha que pode mandar em mim, decidir por mim. Ficamos nos encarando por uns segundos, Suzanna estava paralisada nos olhando, as pessoas na rua não desviavam os olhos. O vento começou a balançar meus cabelos, e a medida que nos encarávamos ele ficava cada vez mais forte. As árvores começaram a balançar, chapéus começaram a voar, o céu ficou escuro e ouviu-se trovões ao longe. As pessoas começaram a sussurrar e então senti alguém pegar o meu braço, me virei e vi Daniel me encarando. Ele parecia preocupado, olhou ao redor e depois se virou pra Lilian.

- Já chega! As compras acabaram e a Lucy, vai pra casa comigo. - Disse ele olhando sério para Lilian. Suzanna assentiu e Lilian somente ficou me olhando, me virei para Daniel e o deixei me levar embora. O dia foi um fracasso.

Caminhamos em silencio por um tempo, e aos poucos o vento foi parando e o sol reapareceu. Olhei para o céu e suspirei, por que nada pode ser fácil? Até um simples dia de compras virou um desastre, e nem pude conhecer a cidade. Daniel me levou até uma rua quase vazia e nós entramos em uma lanchonete, ou algo do tipo pelo menos. Tudo lá era antigo, parecia um museu de fora, mas aos poucos fui percebendo que  a cidade inteira era assim. São poucas as construções novas ou com menos de 100 anos até onde eu vi.

Nos sentamos em uma mesa mais afastada, algumas pessoas nos olhavam novamente. Será que está escrito olhe pra mim na minha testa? Por que as pessoas só fizeram isso desde que eu cheguei na cidade.

- As pessoas daqui são bem curiosas né? - Falei para Daniel, ele olhava o cardápio e o colocou de lado para me olhar.

- Nem tanto. É que você é nova por aqui, e normalmente nós conhecemos uns aos outros desde bebes sabe? Você pode odiar uma família, mas vai vê-los envelhecer e morrer. É assim, todo mundo conhece todo mundo. - Disse ele. - Vai quer o que? - Pediu-me então. Peguei o cardápio para ver quais eram as opções mas não consegui ler nada, isso aqui ta escrito em que? Grego? 

- Hã... Vou comer o mesmo que você. - Falei colocando o cardápio de lado e dando um sorriso. Ele me olhou e pegou o cardápio de novo.

- Desculpe. - Disse ele voltando a ler o cardápio. - Esqueci que você não sabe sabe ler isso. - Continuou ele então. - Você... que torta? Café? Cappuccino? - Pediu ele me olhando.

- Hã... cappuccino? - Falei olhando para ele. Me virei para a janela e olhei para fora.

- Não é incrível? - Falei, ele olhou para mim e olhei para fora novamente. - O Sol, antes estava começando uma tempestade, e agora isso está assim. - Falei.

- Sempre é assim aqui. - Disse ele então. Ergui uma sobrancelha e o olhei. Se sempre é assim, o que foi aquilo antes? - Aquilo Lucy, foi uma bruxa, não a natureza. - Disse ele então.

- Lilian? - Pedi o olhando.

- Não Lucy, eu acho que foi você.

Chegamos em casa perto das 6 horas da noite, Daniel ficou me enchendo desde a lanchonete com aquela história da tempestade. Para ele, o meu poder era o dom da natureza, o que é uma besteira alias. Entrei em casa e fui direto para o meu quarto, joguei as sacolas de compras em um canto e me taquei na cama. Não acredito que Daniel ainda me levou para fazer compras quando saímos da lanchonete, fomos à uma joalheria onde ele me comprou um colar (muito lindinho alias), e depois fomos a uma loja de roupas aonde comprei algumas coisas por que ele ficou me enchendo. Da pra acreditar que ele saiu escolhendo roupas para mim, ou pior, da pra acreditar que ele escolheu roupas para mim e vestiu algumas? 

Quase morri de vergonha quando ele fez isso, na verdade, eu quase sai correndo naquela hora, mas não achei mais a saída da loja. Me virei na cama e comecei a procurar a minha mochila, onde eu a coloquei mesmo? Me levantei e sai caminhando pelo quarto, fui até a escrivaninha que Suzanna havia conseguido para mim e me sentei. Minha mochila estava jogada no chão, a peguei e comecei a tirar tudo de dentro, eu vou achar aquele bilhete. Tirei os cadernos, folheei-os e depois peguei os estojos, também não tinha nada. Em seguida, peguei os livros e a agenda, não achei nada. Joguei tudo em um canto e comecei a vasculhar a mochila, coloquei a mão dentro da mochila e senti algo, um papel. Isso! Peguei-o, e o abri.

Lucy
Já se resolveu com seus irmãos?
Se não, me liga!

                    ****-****
Jade

Finalmente achei esse bilhete! Agora tenho o número da Jade... mas, eu não tenho celular. Vou pedir um para Suzanna amanha, guardei o bilhete em uma das gavetas e me levantei. Decidi descer para pegar algo para comer e sai do quarto, vi Lilian conversando com Suzanna na sala e passei reto. Só o que me faltava ela ainda ter vindo para cá, tomara que vá embora logo, pensei enquanto entrava na cozinha.

A Escolhida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora