Eu? Mas nós praticamente não conversamos! Olhei para a diretora, sem saber o que fazer. Ela olhou para mim e sorriu.
- Vá! Converse com Mary, se despeça, eu dou a notícia as meninas.
Mary... será que eu vou voltar a vê-la depois de ir? Olhei para os Hathaway's e então sai da biblioteca. Não voltei a sala de jantar, subi as escadas correndo e me atirei na cama quando cheguei no quarto. Não liguei para as meninas que estavam lá, a única coisa que não saia da minha cabeça era que talvez, eu nunca mais visse Mary... e Jesse. JESSE, ai meu Deus! Eu não tenho tempo de contar a ele, e em pensar que ainda está manha eu lhe garanti que não seria adotada. O que ele vai pensar? Pensei em escrever uma carta para ele, Mary poderia entrega-la, mas assim que estendi a mão para pegar um papel e uma caneta no criado mudo ouvi passos e logo Mary entrou correndo do quarto.
- LUCY! Eu não acredito. Você foi adotada. Ai meu Deus, você vai sair daqui! - Disse ela correndo até mim e me abraçando. As meninas que estavam no quarto arregalaram os olhos e olharam pra nós.
- Mary, fica quieta. - Falei baixinho.
- Ta maluca? Pode ser que nós nunca mais nos vejamos e você quer que eu fique quieta? Eu vo é falar, e muito. - Disse ela me encarando. - Quer ajuda com as malas?
- Eu... claro. Porque não? - Falei me levantando e indo até o armário pegando uma das malas guardadas lá dentro. Cada uma de nós tem direito a uma mala para quando formos embora, peguei uma mala preta de tamanho médio e a levei para a cama. O que eu coloco aqui dentro?
- Vamos começar com as roupas. Acho que você vai ganhar roupas novas, mas vamos colocar algumas ai só para garantir. - Disse ela indo até o armário e arrancando todas as minhas roupas dele. Ela as jogou na cama e começamos a ver quais eu levaria. Coloquei um vestido, o único além do que eu estava usando que eu poderia levar, umas calças e algumas blusas lá dentro. Eu tinha dois moletons que peguei e enfiei lá dentro. A questão, é que nos emprestávamos roupas sempre, então nenhuma de nós tinha muitas. Eu não tinha nenhum sapato que prestava para levar, notei isso quando Mary jogou cada um deles, um a um em um canto no quarto.
- Meu Deus Lucy, você vai ter que ir descalça pra lá. - Disse ela rindo.
- Haha, muito engraçado Mary. Mas eu não vou descalça. - Falei e levantei os pés para ela ver as sapatilhas. Ao vê-las ela começou a rir mais ainda.
- Lucy, isso ai já é tão velho que é milagre você ainda conseguir usa-los. - Falado isso, ela foi até a parte dela do armário e tirou um par de sapatilhas verdes de lá. - Aqui. - Disse ela, me estendendo-as.
- Que? Nem pensar Mary. São suas, foram seu presente de natal.
Ela revirou os olhos e as estendeu de novo para mim.
- Eu nem uso sapatilhas. Qual é! Eu detesto ter de usa-las, você sabe. Só uso quando meus saltos não combinam com a roupa.
Comecei a rir, e as peguei, eram lindas. E ficavam bem com os meus vestidos, sorri e os guardei na mala. As garotas que antes estavam no quarto já haviam saído, provavelmente para contar as outras o que tinham ouvido. Aproveitei que estávamos sozinhas e puxei Mary para a cama e ela se sentou na minha frente.
- Ah, Mary. Será que ainda vamos nos ver depois disso? - Falei baixinho, e então a tristeza que não deveria existir se abateu sobre mim. Isso deveria ser um momento feliz não é?
- Lucy... é claro que vamos. Afinal, quem irá nos impedir? - Disse ela me olhando, a voz dela estava carregada de incerteza. Ela não sabia o que ia acontecer, que nem eu, mas tentava parecer forte. Forcei um sorriso e a olhei.
- Ninguém. - Falei, dei uma olhada ao redor do quarto para ter certeza de que estávamos sozinhas e então resolvi partir para um assunto delicado. Jesse.
- Mary, quando Jesse vier novamente para a entrega preciso que conte para ele o que aconteceu e que lhe diga que vou dar um jeito de entrar em contato com ele. Assim como vou tentar entrar em contato com você Mary.
- Ai Lucy, porque eu? - Falou me olhando.
- Porque você é a única que sabe dele Mary! Só não vá encontra-lo a noite. Ele sabe que as vezes eu não posso ir, e isso vai fazer com que ele dê um jeito de vir aqui durante o dia. Fique atenta. Você faz isso por mim, não faz?
- Claro. - Falou ela suspirando. Ela e Jesse não se dão muito bem desde... sempre. Nem sei se há algum motivo e ela sempre desconversa quando pergunto. Já Jesse ignora por completo a pergunta quando a faço. Me levantei e abri a gaveta do criado mudo, de lá tirei a única coisa que eu ainda tinha para levar, um porta joias, velho e pequeno. A diretora me dissera uma vez que ele tinha sido uma doação a muito tempo atras, e que por eu ser uma das garotas que estava a mais tempo lá, ela decidira da-lo para mim. Lá dentro tinha um colar, que eu ganhara uma vez, em forma de coração. Tirei-o da caixinha e estendi-o para Mary, que o pegou com curiosidade.
- De onde você tem isso Lucy?
- Eu ganhei, a muito tempo. Nunca usei, e acho que nunca vou usar, então quero que fique com ele.
- Que?! Eu não posso aceitar Lucy, ele é tão lindo... De quem você ganhou?
- Da diretora, acho. Não lembro ao certo, mas eu quero que fique com ele. E toda vez que olhar para ele ou usa-lo vai se lembrar de mim. Ela ficou olhando para o colar por um tempo, e depois de pensar um pouco, ela disse.
- Vamos fazer assim, eu fico com ele por um tempo, quando nos vermos de novo, te devolvo. Assim toda vez que vê-lo vou lembrar que tenho que te encontrar. - Disse ela sorrindo. Acenei com a cabeça e me levantei. Peguei o colar de sua mão e coloquei-o em seu pescoço onde ele ficou imóvel, parecia brilhar contra a luz do sol. O que fez ele perfeito para Mary, que sem dúvidas, era a alegria e a luz de todo lugar em que estava. Não que ela percebesse.
- Certo. - Falei voltando para a cama e fechando a mala. Será que já está na hora de eu descer? Eu não sei como isso funciona. Decidi ficar no quarto conversando com Mary até que me chamassem.
- Então, é isso. - Falei me sentando na cama de novo. Eu devia estar cheia de assunto, mas nada vinha a minha mente. Ou melhor, tudo vinha a minha mente, mas eu não sabia o que falar. Olhei para Mary e ficamos sem falar nada, eu não sei quanto tempo se passou, mas quando percebi estávamos abraçadas chorrando. Era por isso que eu não consegui pensar em nada para falar, porque dizer adeus é muito difícil.
- Lucy, você está pronta? - ouvi uma voz me chamar, me separei de Mary e vi a diretora parada à porta. Passei a mão pelos olhos e tentei limpar todas as lágrimas, mas acho que não funcionou muito bem, porque a diretora me pediu se eu não gostaria de ir ao banheiro me arrumar antes de ir. Acenei com a cabeça e fui até o banheiro, meus olhos estavam vermelhos por causa do choro, e meu rosto inchado. Me lavei e fiquei lá, parada esperando minha respiração voltar ao normal, quando sai Mary não estava mais no quarto, nem a diretora, nem a minha mala. Então sai e desci a escada devagar, quando cheguei na sala, a família Hathaway estava lá, junto com a Srta. McCartney e Mary.
- Espero que não se importe, mas já levamos a sua mala para o carro. - Disse a Sra. Hathaway vindo até mim.
Fiz que não com a cabeça e fiquei lá, parada olhando eles. Nenhuma das outras meninas veio se despedir de mim, não que eu fosse a garota mais "popular" daqui, mas eu pensei que viriam 2 ou 3 garotas se despedir pelo menos. Suspirei, a Sra. Hathaway agora estava parada na minha frente e fiquei um tanto surpresa quando ela me deu um abraço.
- Não fique triste. Isso não é um adeus. - Disse ela me olhando.
- Não? - Falei sem pensar. Vi Mary sorrir ao longe e então ela veio até mim.
- Não. Eu te conto outra hora, por enquanto é melhor você só manter isso em mente Lucy. Não existe um adeus.
Hãm? É pra mim adivinhar o que isso significa por acaso? Olhei-a com curiosidade, mas quando ia lhe pedir o que ela queria dizer com aquilo outra voz foi ouvida na sala.
- Talvez, seja melhor nós irmos agora. A viagem até em casa é longa. - Olhei para o Sr. Hathaway e percebi que essa era, provavelmente a primeira vez em que o ouvia dizer algo.
- Realmente. - Disse a Sra. Hathaway. - Acho que agora você deve se despedir da Srta. McCartney e de Mary, sim? Nós vamos aguardar no carro. - Dito isso ela saiu caminhando rumo a entrada do orfanato. Seu marido e seu filhos foram logo atraz.
- Espero que dê tudo certo Lucy. - Disse a Srta. McCartney sorrindo enquanto me abraçava. - As outras meninas queriam vir - Disse ela - mas não achei que seria bom. Você sabe... elas ficaram um pouco... ah, surpresas com a escolha dos Hathaway's.
Surpresas. Ah, claro. Sorri e me virei para Mary que me olhava com lágrimas nos olhos.
- Vejo você em breve. - Disse ela me dando um abraço apertado. Queria pedir quando seria esse "em breve" mas não tive coragem. Poderia demorar, muito. Acenei com a cabeça e me virei para a porta. Dei um último sorriso e sai, não olhei para traz em nenhum momento, com medo de começar a chorar de novo.
O portão estava aberto e fiquei em dúvida em relação a em qual carro deveria entrar, havia pelo menos 5 estacionados em frente ao orfanato. Comecei a olhar para dentro de todos os carros a procura de algum dos Hathaway's, mas não encontrei nenhum deles. Comecei a olhar em volta e a imaginar onde eles estariam quando ouvi alguém me chamar.
- Lucy! - Virei para traz e vi Daniel correndo em minha direção, bem, pelo menos eles não me esqueceram. - Tivemos de tirar o carro daqui, parece que há um limite de horas para um carro ficar estacionado aqui. - Disse ele, dando de ombros e sorrindo. Ele me estendeu a mão e desta vez, eu a peguei. Não saberia dizer se ele estava surpreso ou satisfeito com isso mas a questão é que eu parei de prestar atenção quando vi o carro que me esperava.
Ele era enorme e de um vermelho vivo, nunca entendi muito de carros, então não saberia dizer qual o modelo. Mas se tem uma coisa que eu sei, é que esse carro deve ter custado MUITO caro. Daniel me olhou quando parei de caminhar e me puxou para mais perto do carro.
- Calma, ele não morde sabia?
Ele achava que eu estava com medo por acaso? Essa não seria a primeira vez em que eu sairia de carro, só a primeira a sair com um carro que provavelmente custou mais de 100 mil. Caramba, como eles deviam ser ricos! Segui Daniel até o carro e fiquei surpresa ao ver que nem Suzanna nem Gabriel estavam lá dentro. Percebendo a minha cara Daniel já começou a falar.
- O Gabriel fez carteira a pouco tempo. Então ele praticamente só dirigi, e a Suze, bem... ela acompanha.
- Ah. - Fez carteira, é isso explica um pouco. A viagem foi silenciosa, nem sei quanto tempo ficamos dentro daquele carro, só sei que, uma das últimas coisas de que me lembro, foi de ter dormido apoiada no banco.................
Oie gente. Então, to passando aqui pra avisar que o próximo capitulo vai ser narrado por outros personagens (vamos dar uma folga para a Lucy, haha). Queria fazer isso para vocês conhecerem um pouco do ponto de vista de outros personagens, e espero que isso dê certo.
Espero que estejam gostando. Bjos.P. S. O que vocês acham de capítulos narrados por outros personagens?
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A Escolhida (Completo)
FantasiApós 16 anos morando em um orfanato, Lucy se vê em frente a uma estranha família que parece querer adota-la. Ela não acha estranho o fato da família se vestir como se ainda estivesse no século passado, também não acha estranho eles quererem adotar...