Uma rosa vermelha. Olhei para ele sem saber o que falar, e imaginei se por acaso, ele estava aqui por seus pais. Seria uma forma fácil de descobrir como as meninas daqui são. Com seus filhos, provavelmente elas não se preocupariam muito, e uma hora, acabariam mostrando como realmente são. Então decidi ser sincera desde o começo.
- Eu... Sim. - Não sabia o que fazer então somente fiquei olhando para ele e a rosa. Parece que ele estava se divertindo comigo, porque ele começou a rir do nada e então estendeu a rosa para mim.
- Sabe, essa rosa é para você. Então seria legal se você a pegasse. Ela não morde, nem eu alias.
Estendi a mão e peguei a rosa. Instintivamente levei à ao cabelo e a prendi lá. Não sei o que ele esperava que eu fizesse, mas eu não ia sair por ai com uma rosa na mão.
- Obrigada. - Falei sorrindo, e então ele se levantou e estendeu a mão para mim.
- Que tal você me mostrar o orfanato? Gostaria de conhecer o lugar de onde minha futura irmã vem. - Disse ele sorrindo. Me levantei também, mas mantive minhas mãos junto ao corpo, a última coisa que eu queria era que alguém me visse de mãos dadas com ele. Pensei em Mary e no que ela faria se me visse com Daniel. Ou melhor, pensei no que EU faria se a encontrasse com Gabriel. Alias, será que ele está com ela agora? Sorri ao pensar nisso. Seria legal Mary ter alguém com que ficar, e se eles a adotassem? Talvez não nos vissemos mais, ou, talvez continuaríamos como sempre.
- Por onde quer começar? - Perguntei olhando para ele, que sorria enquanto me acompanhava em direção ao orfanato. Caramba, ele nunca para de sorrir?
- Podemos começar pelos quartos, o que acha? - Falou ele olhando para mim, fiz uma careta. Por que logo eu tinha que mostrar os quartos a ele? Ele podia ter ido para qualquer uma, mas não, tinha que ser eu.
- Ok, mas se alguma freira ou mesmo a diretora aparecer, você me obrigou. Eu não queria, mas você me convenceu. Ok?
- Ok. - Disse ele sorrindo. Mostrei a ele os quartos, a cozinha, e praticamente todo o resto do orfanato, e no final acabamos sentados nas poltronas em frente da lareira da sala. Durante nosso "passeio" topamos com o Sr. e a Sra. Hathaway, a diretora, algumas de nossas professoras, e várias das meninas do orfanato. Uma delas me mandou um olhar, que se pudesse, acho que teria aberto um buraco na minha cabeça. Outra fez uma careta e saiu conversando com duas outras garotas. E durante tudo isso, Daniel me contou sobre suas viagens, o que gostava de fazer e me encheu de perguntas que eu fiz o possivel para responder o mais claramente o possivel. Respostas rápidas e claras, deu, não há como haver dúvidas pensei comigo mesma.
- Deixe-me ver se entendi... então você não gosta do sol, mas também não gosta da chuva. Do que você gosta então? - Disse ele me olhando como com curiosidade.
- Gosto dos dias nublados. - Falei calmamente, como foi que acabamos falando disso?! Francamente, é isso o que acontece quando o assunto acaba.
- Também prefiro os dias nublados. - Disse ele acentindo para mim. - Nossa! Já são quase 12 horas, como foi que o tempo passou tão rápido? - Disse ele olhando o relógio. Fiquei com vontade de falar que na verdade o tempo não passou rápido, mas optei por ficar calada.
- Sério? Nossa, então já está na hora do almoço. Vem!
E então sai correndo em direção a sala de jantar, com Daniel logo atráz de mim. Quando chegamos lá as outras meninas já estavam sentadas, e percebi Gabriel sentado na frente de Mary. Ambos conversavam animadamente com outras meninas e eles pareciam se divertir juntos. Suzanna estava sentada ao lado de Debbie e parecia entediada enquanto ouvia seja lá o que ela estivesse contando, tanto ela quanto Gabriel olharam para nós quando entramos. Daniel assentiu para eles e puxou a cadeira para mim sentar. Ignorei os olhares que cairam sobre nós naquela hora e me sentei, Mary estava a 3 cadeiras de mim e vi quando ela acenou para mim. Logo ela se levantou e caminhou até nós.
- Posso me sentar aqui? - Falou ela ja puxando uma das cadeiras que estavam vazias do meu lado.
- Claro. Mas tem certeza de que quer sentar aqui? - Falei dando um sorriso malicioso para ela. Ela ia responder mas então ouvimos passos e logo a diretora, o Sr. e a Sra. Hathaway apareceram. Nós nos levantamos e esperamos até que eles estivessem acomodados e então, sentamos novamente. Permanecemos em silêncio o almoço todo somente ouvindo a diretora e os Hathaway's conversando. Quando haviamos terminado, a diretora se levantou e olhou para nós.
- Hoje a tarde, cada uma de vocês vai ter um tempinho para conversar com os Hathaway's. Então, quero que vocês permanesçam aqui, cada uma de vocês será chamada individualmente para comparescer a biblioteca e depois estará dispensada até o jantar. Alguma dúvida?
Fiz que não com a cabeça e olhei pro lado. Então, era isso. Fiquei feliz por Mary estar sentada perto de mim, assim poderiamos conversar e a espera não seria tão chata. Nós estavamos sentadas no final da mesa, o que indicava que seriamos umas das últimas a serem chamadas.
- Bem, essa é a hora em que eu vou. Vejo vocês lá dentro meninas.
Dito isso, Daniel se levantou da mesa e foi na direção dos pais, Suzanna e Gabriel se levantaram logo depois. Okay Lucy, agora é só esperar.
- Agora que estamos sozinhas. - Não estamos não, pensei - Quero que você me conte tudo! Entendeu? Tudinho, não emita detalhes.
Suspirei.
- Sobre o que?
- Como assim sobre o que? Daniel é claro! ... E eu não ia pedir do Jesse néh! - Acrescentou ela baixinho. Fiquei com vontade de dizer que não dúvidava disso, mas uma mesa cheia de garotas meio malucas e fofoqueiras me impediram.
- Lucy, quanto tempo você ficou com o Daniel?
- Sei la! Eu não tenho certesa, eu não uso relógios e não sei que horas eram quando ele me encontrou no jardim.
- Aff's. Okay. E você Mary? Passou algum tempo com algum deles?
Olhei para Mary e vi ela ficar vermelha. Qual é! Ela ta com vergonha de que? Olhei pra ela e dei um sorriso malicioso.
- Qual é, Mary! Conta pra gente! - Falei alto e comecei a rir quando vi a cara que ela fez. Se um olhar pudesse matar, eu estaria com problemas agora.
- Gabriel, conversamos um pouco até que a Debbie chegou e levou ele com ela. Não é Debbie?
Não creio. Que vadia! Olhei para Mary e ergui uma das sombrancelhas, em uma pergunta silênciosa que dizia: aquela vaca fez o que?! Ela olhou para mim e balançou a cabeça, depois deu de ombros e olhou para Debbie que parecia se divertir.
- Ora, eu não fiz nada além de poupar ele de perder tempo. - Disse ela sorrindo. Perca de tempo é a sua vida, pensei. Revirei os olhos e comecei a falar com a Mary, as garotas e iam e vinham, uma depois da outra. Tem algumas que eu não sei se chegaram a ficar 5 minutos la dentro. No final, quando chegou a minha vez eu ja estava super entediada e louca para poder sair para o jardim, ou para qualquer lugar fora daqui na verdade. Caminhei depressa e parei ao chegar na frente da porta. Bati e esperei que me deixassem entrar, Daniel abriu a porta e me pediu que entrasse.
A Srta. McCartney estava sentada em uma cadeira no canto da sala, e os Hathaway's haviam feito uma meia lua com as cadeiras. No centro da sala havia uma única cadeira, e era lá que eu devia me sentar percebi. Caminhei até lá e me sentei, a diretora olhava para mim séria e desviei os olhos para não acabar começando a rir. Tenho a péssima mania de rir quando não é hora. Olhei para Daniel que sorriu para mim, percebendo isso, a Sra. Hathaway sorriu e olhou para mim.
- Lucy, não é? - Disse a Sra. Hathaway. - Me lembro de você. Você era uma das meninas que encontrados na escada não é?
- Sim... éh sou eu mesma. - Falei sorrindo. Pelo menos deixei uma marca, pensei.
- Então Lucy, o que você acharia se fosse adotada por nós? - Disse ela me olhando. Arregalei os olhos, eles fazem esse tipo de pergunta? Olhei para a diretora que parecia confusa, mas vi quando ela sorriu de lado e balançou a cabeça.
- Eu... Não sei, eu não cheguei a pensar nisso na verdade. Por que... Bem normalmente os casais que vem aqui escolhem crianças ou saem sem adotar alguém... Ai eu parei de pensar nisso. - Falei nervosa, olhei a diretora e vi que ela me olhava estranho, triste talvez. Também, eu sou provavelmente uma das mais velhas que ainda estão no orfanato. Desde que a antiga diretora me achara na porta do orfanato ninguém quisera me adotar. Ninguém, vi amiga atras de amiga ir embora e sempre fiquei. Eu e Mary, se não fossemos tão diferentes poderia jurar que somos irmãs. Agora era eu que estava triste e percebi que estava quase chorando, tentei disfarçar e ergui a mão um pouco, olhei para o lado e esperei que ajudasse. Quando me virei pra frente de novo, todos olhavam para mim.
- Você sabia que tem olhos lindos? O azul é uma cor maravilhosa.
- A... Azul? Não... os meus olhos são verdes. - Falei e procurei qualquer espelho pela biblioteca que pudesse usar. Não havia nenhum, é claro.
- Ah, deve ter sido a luz então. - Disse a Sra. Hathaway sorrindo. Queria sorrir também, mas acho que não tinha mais vontade de tentar. Olhei para baixo e comecei a mecher na saia do vestido procurando qualquer coisa que ocupasse meus pensamentos para que eu não pensasse naquilo tudo.
- Bem, não precisamos continuar com isso. Lucy você poderia avisar as meninas que faltam que ja fizemos a nossa escolha? Sei que parece injusto, mas já decidimos então, não precisamos perder tempo.
- O que?! Hãm, ah claro. Licença. - Falei já me levantando e caminhando para a porta. Éh claro, pra que perder tempo? Era tão óbvio, e eu somente fiz papel de idiota, mas ok, a vida segue. Como sempre.
- Ah, e Lucy? Se quiser já pode começar a fazer as suas malas.
Parei no momento em que ela disse isso e me virei para traz tão rápido que cheguei a ficar meio tonta. O que ela disse?
- O que? Como... Como assim? - Falei tentando assimilar o que havia ouvido. O que ela quis dizer? Ela olhou para mim, sorriu e disse:
- Você não entendeu, Lucy? Você é a escolhida. Bem-Vinda a familia Hathaway.
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A Escolhida (Completo)
FantasíaApós 16 anos morando em um orfanato, Lucy se vê em frente a uma estranha família que parece querer adota-la. Ela não acha estranho o fato da família se vestir como se ainda estivesse no século passado, também não acha estranho eles quererem adotar...