Capítulo 2

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    Vovô me ofereceu o braço e juntos começamos a percorrer uma rua vazia e silenciosa, as luzes das casa estavam acesas, porém mal se ouvia algum ruído vindo delas, estava ligeiramente ansiosa pelo que eu viveria ali. Caminhamos devagar e vez ou outra um vento frio nos embalava, porém a noite estava magnífica,a lua estava cheia em toda a sua beleza e infinitas estrelas brilhavam serenamente junto dela.

- Sua avó e eu costumávamos caminhar todos os dias ao anoitecer, ela também amava esse céu, o olhava com tanta ternura e reverência que parecia fazer parte dele.

   Sorri a cada palavra de vovô, sempre que falava dela, era de um modo tão carinhoso, que eu gostaria de o ouvir por horas.


- Penso nela todos os dias.

   Vovô sorrio saudoso olhando para cima, como se cumprimentasse as estrelas com cumplicidade.

- Eu também querida.

   Pensava em vovó como uma flor, que apenas deixou de florescer aqui, para nascer em outro lugar. Lembrava dela com uma saudade bonita,aprendi com ela saberes sobre a vida que me transformara para sempre.

    Aos meus doze anos, quando meus primeiros fios grisalhos começaram a aparecer e eu os arrancava com raiva, foi vovó que me ensinou que aquela era minha natureza e era linda, e que em vez de me enfurecer com ela, eu devia ama-la. A transição foi a fase mais difícil que enfrentei na minha pré adolescência, não que seja fácil hoje, ainda existem os olhares aqui e ali, mas naquela época eu só era uma menina inocente querendo se sentir bonita mesmo não se encaixando no padrão, e foi nessa idade que aprendi que as pessoas não reagem bem ao diferente. A diferença agora, é que eu aprendi a ama-los, e a me amar também.

Lembrar disso me tocou profundamente, ela estaria tão orgulhosa de mim se me visse agora.

- Como é estar de volta?

Vovô estava navegando em suas lembranças e demorou um pouco a responder.

- É sempre bom estar de volta, em especial para este lugar, carrego memórias alegres por estas e tantas outras ruas dessa cidade.

Descemos devagar um pequeno morro que levava a Catedral e a praça principal da cidade.

- Por que você e vovó decidiram se mudar?

Vovô sorrio apreciando a Catedral.

- Quando sua avó sentiu que estava grávida de sua mãe, decidimos juntos nos mudar para uma cidade pequena e levar uma vida com mais contato com a natureza, criar Helena com mais simplicidade em algum lugar onde a vida não passasse tão depressa. Dom Viçoso parecia ótimo e Alice se apaixonou por lá.

   Sorrindo recordei lembranças da minha antiga cidade, de como foi incrível crescer ali, bem no meio de inúmeras montanhas, que com o tempo se tornaram as minhas favoritas, dos apaixonantes ipês amarelos e de toda aquela magia de cidade pequena, quase fora do mapa.

- Acho que sempre será meu lugar favorito no mundo.

   Descemos o morro até a praça, vovô e eu nos sentamos no primeiro banco que encontramos, bem embaixo de um Ipê amarelo encantador começando a florescer, uma visão linda, como eu adorava o mês de Setembro. Conversamos ali por horas, pedi que me contasse suas histórias de garoto quando morava ali. Ele adorava conversar sobre isso e contou com inúmeros detalhes que era quase possível sentir que estava lá também. Descreveu como se lembrava da cidade, de como eram seus amigos, os comércios, as festas... Ele sempre se emocionava quando começava a contar de como havia conhecido minha avó, o amor deles era tá vivo, tão sincero, acabei me emocionando também.

   Quando os sinos da igreja anunciaram nove horas, resolvemos voltar, caminhamos sem pressa pelo mesmo caminho e vovô me prometeu que no dia seguinte bem cedo, ele me levaria para conhecer alguém muito especial.


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