Capítulo 32 - Jonas

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    Me arrastei para fora da cama fazendo um grande esforço para mover meu corpo que parecia pesar em protesto, em saudade, em dificuldade para compreender o incompreensível, ela não estava mais naquela casa, nem em qualquer outro lugar, nenhum deles estava, nem Sebastian, nem meu pai... não era real aquela '' vida '' desfrutada minutos atrás na minha cabeça, não tinha como ser por mais que desejasse desesperadamente que fosse.

   A noite era pior, o silêncio ecoava ausência e um luto que fugia sem perceber, os minutos se arrastavam e o sono se recusava a me dar um descanso, não costumava ser pesadelos, no geral nunca eram, tinha me obrigado a parar de imaginar como aquele maldito navio havia afundado já fazia meses, mas os sonhos bons pareciam ser piores, quando despertava realçavam  sentimentos que tentava esquecer.

    Lá fora na sacada o clima era fresco, o céu ainda estavam abarrotado de estrelas, anos atrás ele mesmo se forçaria a ficar acordado apenas para conseguir assistir ao espetáculo que era aquela vista, mas agora tudo parecia meio apagado. Quando olhava pra cima reconhecia algumas constelações e se forçou a lembrar das outras, mas nada, algumas delas ele até já havia lido algumas características em algum livro que agora devia estar empoeirado no porão, não sentia vontade de procura-lo não naquele momento.

   Continuei ali, sentado, imóvel, sentindo o vento morno tocar por inteiro meu corpo ainda banhado de suor se colando nas roupas que usava, apreciando o pequeno choque térmico que causava. Fechei os olhos cansados sem resistência em meio ao silêncio aconchegante de quem dormia em serenidade e calmaria. Notei os ruídos incessantes na minha cabeça cessar aos poucos sem que eu resistisse ou fizesse qualquer esforço, me sentia entregue a tudo e era só isso.

   A sensação de alguns minutos de quietude era indescritível, era como se eu tivesse me esquecido de como era estar em sossego sem precisar pensar e lutar contra nada e nem ninguém dentro de mim. Me permiti quase sem perceber um sorriso leve, natural, refletindo o que se passava ali dentro, um leve curvar de lábios em gratidão por uma '' folga ''.

    Eu estava presente, estava ali, consciente do que se passava ao redor, sem nenhum ruído na minha mente, apenas o som da minha respiração que fazia o peito subir e descer em um ritmo tranquilo. Meus pensamentos não existiam, não divagavam, nem me enlouqueciam, era como se eu tivesse naquele momento total controle sobre eles, sobre o que acontecia , sobre estar ali, sobre a minha vida, sobre querer estar ali, naquele momento tudo parecia surreal, estava vivendo aquele momento, aquele dia que despertava depois de um sono em paz e minha alma que começara a se descarregar de carga desnecessária.


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