Capítulo 5 - A Rosa

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   Os Beatles cessaram e foram substituídos por uma banda local ao vivo, como eram comum no baile, sempre havia alguma atração e música ao vivo.

   Não me animei no começo estava curtindo a música, mas assim que começaram a tocar reconheci que eram realmente bons, o que gerou aplausos do público em geral. Observando aquela cena me imaginei materializando-a em uma tela, a energia, os detalhes que captaria, a emoção...

    Até que fui surpreendido por uma jovem, mal a ouvi ou a vi chegar, mas já me recompondo e voltando ao mundo real, comecei a arranjar algumas desculpas para me retirar, ou recusar educadamente qualquer dança, até me virar e finalmente olhar para ela...

    Foi a coisa mais estranha, e intensa que senti, um misto de coração acelerado, desconforto e uma leve paralisia ao olhá-la. Apesar da cidade pequena nunca a havia visto, me lembraria de um rosto daquele com toda certeza, ou do seu cheiro que se espalhou por ali. Eu ainda estava praticamente imóvel, totalmente.

   Diante da beleza dela algo em mim se acendeu, uma faísca, algumas chamas, até virarem brasas me queimando por dentro. Ela era tão linda ! não um linda comum, ela era maravilhosa, tinha uma postura suave, uma expressão serena e gestos tão delicados como uma flor... não qualquer flor, ela tinha a graciosidade de uma rosa. Palavras não conseguiam descrever como ela era linda aos meus olhos, e pela primeira vez na vida senti que não conseguiria reproduzi-la nem um centímetro perto de sua beleza.

 - Oi ? Tem alguém aí ?

Ela riu chamando minha atenção e eu finalmente percebi que ainda estava a encarando com uma expressão distante sem ter a menor ideia do que ela havia dito antes.

- Desculpe o que disse ?

Em vez de responder apenas apontou para minha cerveja a centímetros de cair do balcão em cima de mim. Rapidamente me endireitei evitando o quase desastre, e a minha postura, me sentindo ligeiramente envergonhado e até corado com o fato de a ter encarado por tanto tempo a ponto de me esquecer totalmente de todo o resto. É que era foi tão fácil me perder naquele sorriso, me hipnotizando como o canto de uma sereia...

- Estava um pouco distraído...

Dei um sorriso olhando para tudo menos pra ela, precisava dizer algo para me justificar e retirar qualquer impressão errada que ela estivesse feito de mim.

- É eu percebi

Mais quando a olhei ela estava sorrindo aparentemente se divertindo com a situação. E com essa rápida olhada pude perceber como ela esbanjava atitude, primeiro que estava sozinha, não estava acompanhada de nenhuma amiga, estava apenas se divertindo sozinha e supondo de como ela era bonita, se ainda não estava na pista de dança com algum rapaz era porque não queria, o que me trouxe uma estranha sensação boa. E segundo que estava tomando uma cerveja, normalmente as moças nunca tomavam pois achava que isso afastava os rapazes e eles achavam que isso não era feminino, mas ela particularmente não se importava, o que me fez gostar dela, da forma como bebia calmamente, sem pressa, e se divertia segura de si, sem nenhuma companhia.

Quando ela se virou assistindo a banda tocar sem dizer mais nada, tive uma intensa necessidade de estender nossa conversa, conhece – lá talvez até uma dança, ou jogar uma conversa fora apenas, qualquer coisa me faria satisfeito só por estar ali, ao lado dela.

- Está... Está gostando ? Digo do baile.

Ela sorriu e se virou novamente para mim, causando uma descarga elétrica imediata.

- Sim, já os ouvi tocar antes, gosto das letras... Me fazem refletir.

Ela sorriu apontando para a banda.

As letras pelo que eu já havia percebido, falavam muito sobre viver, sobre desabrochar junto a primavera e se permitir viver, o que naquele instante fez parar e me permitir apenas ouvi-la, senti-la, como ela parecia fazer, a garota ainda sem nome, ela ficava em silêncio enquanto ouvia e a sensação que eu tinha era que ela estava sentindo a música ao invés de só ouvi-la.

- São muito bons, acho que surpreenderam a todos.

Ela apenas concordou com a cabeça sorrindo.

A música e a batida foram diminuindo, e os casais também aos poucos iam acompanhando. Aquele era o momento em que a '' magia '' da Primavera finalmente acontecia envolta na música e em todo aquele clima romântico. E pela primeira vez de todas as vezes que estive naquele baile, tive vontade de a convidar para dançar e de me unir a primavera em vez de lutar contra ela.

Sabia que havia chances dela dizer não, provavelmente mais do que ela dizer sim, mas mesmo assim queria a convidar, queria dançar com ela, sentir o seu cheiro mais próximo, poder toca-la...

Terminei minha cerveja e me levantei.

- Você, gostaria de dançar ?

Ela sorriu divertida.

- Eu não danço.

Não consegui esconder totalmente o meu desapontamento, mas me esforcei para sorrir e apenas aceitar.

- Não com estranhos...

Ela completou logo em seguida, me fazendo sorrir também.

Me curvei entrando na sua brincadeira

- Vicente madame.

Ela se levantou deixando a cerveja de lado.

- Alice. Encantada !

Dei o braço a ela e fomos até o centro da pista de dança.

Eu segurei firme em sua cintura, estávamos tão próximos que eu podia sentir a respiração dela, calma, tranquila... Seu cheiro estava me causando um vício, ela tinha um frescor doce, era suave, e a textura suave da sua pele tocando com a minha com tanta maciez, se igualava a uma pétala, eu estava em overdose por ela... Naquele curto instante senti tantas emoções incapaz de descrever. Só sentir

- Obrigada !

Sussurrei sem quase não me dar conta .

-Estava tão desesperado assim ?

Ouvi-la dizer rindo.

- Faz três anos que frequento este baile e nunca danço com nenhuma moça, acho que minha mãe vai voltar a ter esperanças de que não sou tão azarado.

Ela riu e sua risada me contagiou. E eu só conseguia curtir o som da risada dela como a mais doce melodia...

- Só não me proíba de tomar minhas cervejas e eu serei a nora perfeita.

Naquele instante tive a certeza de que passaria o resto da minha vida, completamente apaixonado por ela. Alice...


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