Ir para a casa de seu Emanuel havia sido com certeza uma boa escolha, já estava prestes a escurecer e eu não podia continuar vagando pela cidade para sempre, nem continuar ignorando as inúmeras ligações e mensagens de Marcus, Elisa... e Anne, mas atender ou voltar para casa também não era uma opção.
Assim que encostei minha moto e tirei o capacete, vi seu Emanuel vir ao meu encontro limpando suas mãos sujas de graxa.
- Você sabe que esta de folga, não é.
A desliguei saindo de cima dela, suspirei fazendo uma pausa em silêncio antes de responder.
- Eu sei... Só não sabia mais para onde ir
- Jonas aconteceu algo ? Você discutiu com Elisa outra vez ?... Está cheirando a cerveja.
- Não... Estava no cemitério.
Olhei para a moto e mantive meu olhar baixo por um momento. Seu Emanuel havia percebido, sabia bem como ir lá me deixava emocionalmente abalado.
- Venha garoto, vamos entrar.
Eu tinha sido completamente sincero, não sabia mais para onde ir, portanto assim que seu Emanuel me acolheu de braços e coração aberto como sempre fazia, soube que estava no lugar certo.
Ainda eram 20:00 mas o dia já havia escurecido, e junto com a noite e o céu totalmente estrelado também havia esfriado muito. Acompanhei seu Emanuel em silêncio até a porta que eu já sabia de cor, limpei minha bota antes de adentrar o interior da casa que estava sempre limpa e muito bem organizada ,apesar de seu Emanuel ser viúvo, sua casa dava a impressão de que uma mulher morava ali, ele fez questão de conversar tudo como a esposa havia deixado. Antes de entrar observei que a luz da garagem estava acesa e pela quantidade de peças sobre a mesa supus que ele ficaria ali até bem tarde preso em seus pensamentos como costumava fazer aos feriados.
- Você está com sorte, passei o café agora a pouco.
Me sentei envolvendo a xícara com as minhas mãos absorvendo seu calor.
- Elisa deve estar preocupada... Ligou para ela ?
Me limitei a gesticular a cabeça em um sinal que ele já esperava.
- Jonas, Jonas... Então eu o farei, não saia daí.
Preferi deixar oculto o detalhe que ela havia me ligado o dia todo e eu preferi não atender. Elisa e eu não mantínhamos um bom relacionamento. Eu convivia com ela por ter minha guarda, mas nossa convivência era no mínimo '' complicada ''. Desde de que escondeu de mim por meses a morte de meus pais não conseguia me forçar a conversar com ela ou perdoa-la, quem faz isso com alguém da própria família ? Esconder que seus próprios pais nunca voltarão para casa? Que você nunca os verá outra vez...
- Ela disse que tentou te ligar o dia todo, Jonas Elisa está muito preocupado, disse que você saiu pela manhã.
Seu Emanuel retornou a cozinha me livrando dos meus pensamentos, da minha própria prisão, minhas lembranças.
- Eu não devo ter visto.
Tomei um gole do café quente o suficiente para aquecer todo o meu corpo por dentro.
- Ou não quis atende-la.
Dei de ombros confirmando sua hipótese ele me conhecia bem demais para negar.
