Capítulo 11 - Nostalgia

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VICENTE

   O sol já havia se escondido quando enfim consegui sair sem que Helena percebesse, mas a noite ainda não dava nenhum sinal de chegada. O dia ainda estava claro, porém bem mais fresco.

   Naquele horário a tarde já estava bem mais agradável devido ao calor. Apesar de muitos anos haverem se passado, assim que deixei a casa reparei a cada passo que dava o quanto a cidade em que eu havia nascido e do qual cultivava as mais doces recordações não havia mudado tanto assim. Ela estava bem mais moderna claro, era visível, havia crescido em tamanho e em movimento de pessoas pra lá e para cá, inúmeros estabelecimentos do qual me lembrava haviam sido substituídos ou reformados afim de chamar mais a atenção da juventude atual. O que eu lamentei, eram lugares que eu apreciava por suas características únicas das quais eu amava retratar em minhas telas.

   Parei um momento apenas para respirar fundo aquele ar de nostalgia e saudade do entusiasmo daquela época que eu não havia perdido pelo tempo, e principalmente da alma que essa mesma cidade esbanjava e que ainda é possível sentir apenas em observa-la com paixão, o que eu acredito que as pessoas hoje em dia não percebam tanto assim julgando pelo vai e vem frenético sem ao menos olhar para o lado, sempre para frente, como se estivessem sempre atrasadas para fazer algo.

   Alguns bons minutos de caminhada, já foram capazes de me revigorar por completo, reviver emoções por cada esquina, cada lugar, cada pequeno detalhe que ainda não havia sido substituído, uma ou duas construções ainda permaneciam as mesmas, nunca me esqueceria dos detalhes, tudo ainda continuava lá... Simples recordações que me arrancavam sorrisos ao povoarem o viver de minhas lembranças.

   Após algum bom tempo navegando pelas ruas da minha antiga e nova cidade revivendo momentos. A noite me alcançou e eu o meu destino, já havia chegado ao último bairro da cidade, aonde ainda não haviam tantas casas, era um lugar que  continuava conservado, inclusive o grande lago que sempre existiu ali, a grande atração da cidade.

   O bairro era conhecido como '' o ninho dos apaixonados '' na época era uma maneira divertida de chamar aquela praça bem em frente ao lago do qual nos fins de tarde sempre se enchia de casais para apreciar o pôr do Sol espelhado em suas águas claras, era extraordinário a visão que ele oferecia. No verão muitos se arriscavam até a entrar e se refrescar, era uma verdadeira farra, inclusive eu e meus amigos sempre estávamos por lá, mas essa não era a minha lembrança preferida daquele lugar.


    Sentei – me em um daqueles bancos vazios, ao lado de uma grande árvore que imaginei proporcionar uma grande sombra ali nos dias quentes. Não haviam muitas pessoas por ali e com isso era possível curtir o silêncio da noite e o entoar das cigarras se preparando para o canto.

  O sol já havia se despedido, mas o inicio da noite refletindo-se no lago continuava sendo uma visão maravilhosa de se ver e contemplar.


    Aquele lugar, aquele lago, aquela vista, eram sagrados tanto para mim, quanto eram para Alice. Apesar de não ter sido ali que um evento extraordinário aconteceu. Não foi ali nosso primeiro beijo, não foi ali que a pedi em namoro ou casamento, mais foi ali que nossas almas se reencontravam todo fim de tarde, o que já fazia todos os dias serem inesquecíveis com coisas simples.

    Não era necessário um beijo para que eu a pudesse sentir, apenas ao observa-la a luz do pôr do sol, nossos olhares se encontrarem, seu sorriso... Eu já me perdia por completo sem a menor intenção de me achar.


    Naquelas tardes sempre nos reuníamos para conversar e ver o por do sol, estávamos apenas saindo, mais eu já me sentia inteiramente dela. Ficávamos jogando conversa fora e ela sempre ria das coisas que eu dizia com a intenção de curtir o som da gargalhada dela que me fazia ter vontade de rir também. Eram momentos muito agradáveis e nos sentíamos bem apenas pela presença um do outro. As horas quase sempre acabavam voando, e nós nem tínhamos a mínima consciência de quanto tempo havia se passado até a praça começar a se esvaziar e eu deixa-la em casa. Eu sempre fazia questão e aceitava o convite para entrar um pouco e cumprimentar seus pais, não era necessário que ela pedisse ou explicasse nada, eu sabia o quanto era importante para ela, eles estarem tranquilos tendo a certeza de que ela estava segura.


   As horas que passávamos ali eram totalmente indescritíveis, eu me sentia revigorado apenas por vê-la. Muitas dessas tardes dispensávamos palavras, mas o silêncio que bailava entre nós tinha uma melodia tranquilizadora nos permitindo que apenas sentíssemos um a presença do outro. Para mim essas era as melhores, apesar de amar o som da voz dela não existiam palavras que pudessem preencher ou se igualar a um de seus sorrisos sem um motivo aparente, ou ao calor do seu olhar me aquecendo, e claro, a sensação eletrizante que era tocar por acidente sua pele ou apenas pelo toque de segurar sua mão.

   Sorrindo e retornando a realidade contemplei a noite invadindo de mansinho revivendo minhas mais apaixonantes saudades, e logo virou uma imensa escuridão que me fez perder a noção do tempo, eu sabia que já era hora de voltar para casa ou logo estariam anunciando o meu sumiço na rádio.


   Havia trago o caminho todo e colhido do jardim da antiga casa um lindo buquê de rosas amarelas que eu mesmo fiz questão de montar com todo carinho. Rosas raras e delicadas como minha Alice. Deixei o buquê com toda delicadeza no banco ao meu lado, onde ela costumava estar e ainda que não pudesse mais vê-la ainda estava. Eu podia senti-la ali.

  Antes de me levantar para percorrer todo o trajeto de volta, uma brisa fresca dançou por mim trazendo com ela o seu perfume, fechei os olhos e naquele momento eu a senti no silêncio,omo  palavras eram totalmente desnecessárias perto da sensação de ter certeza de que ela estava ali.

                                                           


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