Querido Diário

Cuidado

Vitória adentrou na cozinha e assustou-se rapidamente.

- Solta ela Matheus.

Matheus não sabia o que fazer, suas mãos pareciam segurar a faca posicionada estrategicamente no pescoço de Lunna.

- Tia me ajuda !

Lunna sorria por dentro, suas mãos seguravam as mãos de Matheus, seu corpo parecia estar totalmente refém, lágrimas escorriam vagamente de seus olhos e Vitória estava notavelmente abalada.
A faca havia sido jogada no chão o som ecoava por toda a cozinha. Em uma tentativa de tentar contar a real história a Vitória o homem foi rapidamente impedido por Lunna. Em um movimento simples seu corpo foi ao chão, os joelhos tocaram o azulejo frio e a garota chorava friamente sem parar. Matheus não sabia o que fazer, sua cabeça rodava e nada fazia sentido. Seu corpo parecia pesado de mais, seus olhos não conseguiam ficar mais abertos, Lunna havia o golpeado na barriga.
Vitória não sabia quem ajudar, se era o homem que ela ainda amava mesmo vendo todo aquele teatro ou se era sua sobrinha que chorava muito encostada na pia.

- Lave as mãos Lunna agora. Deixe essa faca desta forma.

Vitória correu em direção a Matheus que gemia de dor sobre o chão.

- Lunna me ajude aqui.

Lunna não debateu, apenas lavou as mãos como foi ordenado e seguiu em direção a Matheus. O homem parecia estar com medo, mas não tinha força o suficiente para afastar-se da garota.
As mãos dela eram suaves, macias e delicadas. Durante um bom tempo em sua adolescência Vitória ensinou sua sobrinha algumas formas de primeiros socorros e agora querendo ou não teria que os por em prática. Levantando-se e deixando Lunna assumir o lugar, a mulher já muito abalada correu em direção a seu quarto em busca de algo. Sem pensar duas vezes Lunna aproveitou sua oportunidade.

- Eu te avisei não foi ?

Seu sorriso era maquiavélico, seu olhar calmo e frio. Por algum motivo Lunna sentia uma imensa vontade de terminar o que havia começado. Suas mãos apertavam covardemente a ferida de Matheus que gritou.

- Você mexeu com a pessoa errada meu querido titio. Te avisei, eu ainda fui boazinha. Lembra do meu pior lado ?

Passos vindos das escadas fez com que Lunna mudasse sua estratégia. Voltou a fazer com que suas mãos estancassem o sangue que descia por toda a barriga.

- Já chamei a ambulância e a polícia.

- Polícia tia ?

Lunna estremeceu mas manteve seu disfarce de boa moça. Ajudou a retirar a blusa de Matheus pensando em como sairia dessa.

- Desculpa tia, apenas me defendi. Ele..

Lunna estava cabisbaixa parecendo inconsolável.

- Eu sei. Desculpe isso tudo foi culpa minha. Você já passou por tanta coisa e eu ainda cai na lábia desse homem.

Lunna olhou dentro dos olhos de Matheus desejando poder fazer algo para acabar com sua vida ali mesmo. Nada podia ser pior do que ver a única pessoa que realmente á amou sofrer. Matheus ainda se retorcia quando a campanhia havia tocado.

- Deve ser alguém da ambulância. Fique com ele por alguns instantes.

Vitória levantou-se apressada seguindo em direção a porta principal com as mãos ensanguentadas com o sangue de Matheus. Seus olhos ainda estavam tristes e sua pele parecia mais clara que o normal. Tudo estava perdendo o sentido.
Lunna deliciava-se com a dor do homem a sua frente. Seu corpo se retorcia em uma agonia terrível e ela se deliciava a cada expressão de dor. Lunna piscou o olho direito para Matheus e o sufocou por alguns instantes fazendo com que ele estremecesse ainda mais. Seu olhar era assustador .

- Tia ele não esta respirando.

Lunna gritou por sua tia ainda com as mãos tampando a respiração do homem, retirou-as segundos antes dos socorristas adentrarem na cozinha junto com Vitória.

- Afaste-se moça, assumimos daqui.

Lunna afastou-se satisfeita. Com passos largos e rápidos a garota saiu da cozinha indo em direção a porta.

- Onde vai Lunna ?

Vitória estava ajudando os socorristas quando viu a garota saindo sem falar nada.

- Preciso tomar ar.

Lunna saiu sem falar mais nada com um sorriso imenso em seus lábios.

- Hora de terminar o que comecei.

Indo em direção a ambulância parada em frente a calçada da casa Lunna abriu a porta do veículo sem que ninguém notasse.