Casa de retalhos

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Lunna caminhou por toda a casa ainda descalça fazendo com que seus pés ensanguentados marcassem o piso. Tudo estava diferente, desde os moveis a cor da casa. Um azul tomava conta das paredes podendo penetrar ate mesmo na imaginação. Peças elegantes em cima da mesa na sala mostravam que Magno tinha bom gosto. A única coisa que permanecia da mesma forma eram as escadas simples mas bem feitas. Lunna subiu-as vagarosamente passando as mãos sujas pelo corrimão, alguns degraus mais a cima já podia ser visto quase que por completo um corredor e a porta de um quarto. Estava escuro e frio, janelas sem cortinas estavam abertas e um vento gélido invadia todo o lugar. Seu coração acelerou parecendo que seu cérebro havia lembrado de algo. A imagem de Regina surgira a sua frente como se fosse real, seu vestido habitual verde claro com o cabelo preso em um coque simples e desajeitado. Uma menina que parecia ter uns 7 anos corria pelo corredor batendo na porta dos quartos com uma colher de pau aparentemente feliz por tal ato. Regina retirava a sandália de seus pés e batia enfurecidamente nas pernas da garotinha. Os olhos de Lunna encheram de lágrimas e escorreram por seu rosto. Era uma lembrança tola de supostos corretivos que sua mãe dava. Suas pernas claras permaneciam com marcas vermelhas e muitas vezes com a a marca da sandália de Regina. Nunca havia ganhado um abraço ou um feliz aniversário nem se quer um presente.  Seu único amigo era um urso velho e rasgado de pelúcia que havia encontrado por acaso no jardim mas que também fora retirado de seus braços quando Regina o encontrará. Lunna ainda lembrando de sua infância caminhou pelo corredor parando na terceira porta a abrindo lentamente. Seus cabelos molhados pingavam pelo chão, seus pés pareciam estarem pisando na lama pelo sangue acumulado. Apenas uma cama e um guarda-roupa enfeitavam aquele quarto vazio. Era seu antigo quarto, onde passa a maior parte do tempo. Caminhou ate a cama e sentou-se molhando o colchão sem medo e sem pensar em nada. Era sua antiga casa, herança de Regina que ela recusará no tribunal. Um sofrimento a consumia e suas mãos apertavam o lençol amarelo claro. Seu choro se tornou contante e uma fúria a tomou. Lunna rasgou o lençol com as mãos e arremessou o travesseiro na porta. Retirou o colchão da cama e jogou no chão. Dentro de si se perguntava o por que tudo havia acontecido com ela. Por que o único desejo de quando era pequena era simplesmente receber um abraço sincero de Regina e ouvir um "Eu te amo".
A fúria havia cessado e suas pernas fraquejaram fazendo com que sentasse no chão.

- Eu nunca fui amada. Sempre fui um objeto para todos e agora todos seram meus objetos.

Lunna levantou-se tentando limpar o rosto quando marcas de sangue de seus dedos a sujaram ainda mais. Saiu do quarto deixando a porta aberta e desceu as escadas como se estivesse correndo. Procurou nos comodos materiais de limpeza e produtos. Acho-os e seguiu para cozinha onde uma enorme poça de sangue havia se formado rodeando o corpo sem vida de Magno. Abriu alguns vidros de álcool e deixou o botijão de gás aberto. Encharcou os moveis com o líquido enquanto o odor de gás invadia o lugar. Acendeu uma vela e deixou-a na sala saindo pela porta principal prestando atenção na rua vazia. Entrou em seu carro e dirigiu por alguns metros ate o momento em que ouviu uma explosão.

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