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  - THIA -

*Sete anos mais tarde*

Silêncio.

Mais assustador do que qualquer arma de fogo ou explosão de um canhão. Mais alto do que trovões e dez vezes mais aterrorizante.

Levando uma das tortas de maçã famosas da Sra. Kitch com uma mão e segurando o guidão da minha bicicleta com a outra, eu passei pelas pedras e buracos na estrada de terra que levava até a pequena fazenda que eu morava com meus pais.

Todo dia quando eu chegava em casa do meu trabalho em tempo parcial na loja MayCenter, fui saudada pelas vozes das brigas de meus pais. Sem outras casas ao redor por quilômetros, suas vozes se ampliavam sobre as copas das árvores e podia ouvir bem antes de ver a luz na janela.

Antes do meu irmão mais novo morrer, eu nunca tinha ouvido eles brigarem. Quando outra cooperativa decidiu importar suas laranjas, o cancelamento de seus contratos com a fazenda da minha família, a briga se transformou em ódio cheio de gritaria.

Eu soltei a minha bicicleta no chão, deslocando cuidadosamente a torta de um lado para o outro. Incapaz de me abaixar para refazer o nó do meu cadarço que tinha se desfeito no passeio, eu continuei, tomando cuidado para não tropeçar nas cordas penduradas.

Arrepios irromperam sobre a minha pele úmida, fazendo os pequenos pelos na parte de trás do meu pescoço e meus braços se levantarem como se eu estivesse a momentos de distância de ser atingida por um raio.

Foi quando eu percebi.

O silêncio.

- Mãe? - eu chamei, mas não houve resposta.

- Pai? - eu perguntei quando eu abri a porta de tela. A lâmpada sobre a mesa lateral estava ligada, o abajur inclinado de lado como se ele também estivesse questionando o que diabos estava acontecendo.

Ouvi um tumulto no quarto de trás.

- Vocês estão aí atrás? - perguntei, colocando a torta no balcão. Eu fiz meu caminho pelo corredor, abrindo a porta do quarto do meu pai, mas estava vazio. O mesmo para o único banheiro e meu quarto.

No final do corredor, a porta para o antigo quarto do meu irmão estava rachada. Minha mãe mantinha o quarto de Jonny como um santuário para ele desde que ele tinha morrido, ela sempre mantinha a porta fechada e sussurrava quando ela estava no corredor como se ele estivesse lá tirando um cochilo e ela não queria acordá-lo.

- Mãe? - perguntei de novo, lentamente abrindo a porta.

- Venha, Cinthy. Nós estamos aqui. - ela disse alegremente. Foi a primeira vez que eu ouvi a voz de minha mãe tomar um tom feliz em anos, embora eu odiasse que ela me chamasse Cinthy.

Isso fez o meu estômago rolar.

Algo estava tão errado que eu quase não queria ver o que estava esperando por mim do outro lado da porta.

E eu estava certa. Eu não queria. Porque não era minha mãe sentada na cadeira de balanço velha que ela costumava ler para Jonas agarrando seu dinossauro favorito, balançando para trás e para frente, segurando o bicho de pelúcia em seu peito e se esfregando contra ele.

Seus olhos estavam bordados em vermelho com olheiras, mas ela tinha um sorriso no rosto.

- Estou tão feliz que você está em casa Cinthy-laa-laa! - ela disse cantarolando o apelido que ela não tinha me chamado em anos. - Você está pronta para ir? - ela perguntou.

- Onde? Ir para onde, mãe? Onde está o papai?

- Seu pai não queria esperar então ele já foi, mas eu queria que você viesse conosco, então eu esperei por você. - seu sorriso era grande, mas seus olhos estavam brilhando e completamente vazios de qualquer emoção.

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