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- THIA -

A chuva ainda não tinha passado no momento em que cheguei ao portão do clube. Um garoto magro montava guarda do lado de fora em um banquinho. Através da sua capa de chuva transparente eu podia ver a escrita em seu colete que se lia 'prospecto' (significa iniciante no clube). Ele me observou quando eu baixei minha bicicleta e manquei até ele, os músculos das minhas pernas ainda não tinha recebido a mensagem que eu tinha parado de pedalar.

— Eu preciso ver Niall, — eu disse. — Por favor. Pode dizer a ele que Thia está aqui para vê-lo? Thia do posto de gasolina. Da lojinha do posto. Eu preciso falar com ele. Isso é muito importante.

— Como é importante? — perguntou o prospecto, movendo o palito que pendia em seus lábios de um lado para o outro com a língua.

Tirando meu colar, eu segurei para que ele pudesse ver o anel do crânio de Niall oscilando dele. — Isso é importante. - eu disse.

O garoto olhou para o anel com ceticismo antes de sair do seu assento. Ele tomou o colar da minha mão e desapareceu atrás da porta do metal. Quando ele voltou dez minutos depois, foi como se ele fosse outra pessoa. — Eu sou Becker, — anunciou ele, dando um passo para o lado para que eu pudesse entrar. — Como você disse que era seu nome mesmo? — um sorriso substituiu sua carranca de antes.

— Thia, — eu disse, entrando no clube dos Bastards, embora eu teria chamado isso de outra coisa. Era um velho motel ou complexo de apartamento. Três andares com salas voltadas para um pátio circular abaixo, onde uma piscina vazia estava no centro. Ao lado havia uma porta de vidro transparente que parecia que costumava ser um velho bar ou restaurante e parecia que os Bastards ainda utilizavam para sua finalidade original. O bar foi totalmente abastecido e vários homens, todos com coletes do clube, jogavam sinuca em uma das três mesas de bilhar.

— Onde está Niall? — perguntei novamente. Sair da chuva e estar sob a proteção de um teto, meu queixo começou a tremer e os meus dentes batiam. Minha blusa molhada e calças se agarraram ao meu corpo. Meu cabelo está solto e sem vida contra a minha testa e bochechas, pingando água dentro dos meus olhos.

— Niall está ocupado agora, mas ele me disse que você pode esperar por ele em seu quarto, — disse Becker quando eu o segui até um lance de escadas para o segundo andar, segurando no corrimão de alumínio irregular para apoio. Eu cortei o dedo médio em um ponto especialmente acentuado, chupando a gota de sangue que se reuniu na superfície. — Desculpe, devia ter avisado a você sobre isso.

Chuva escorria para o pátio com tal ferocidade que os Bastards não precisariam de uma mangueira para encher sua piscina vazia. O telhado não era nenhuma proteção contra a chuva vinda da horizontal.

Becker parou na frente de uma porta verde escura e abriu, fazendo sinal para eu entrar. — Ele vai te encontrar aqui, — disse ele com uma risada. Eu entrei no quarto escuro, mas me virei novamente quando ouvi a porta bater atrás de mim.

— Onde você conseguiu isso? — perguntou uma voz ameaçadora. Minha garganta apertou e, lentamente, eu me virei para encarar o dono da voz. Na borda da cama, estava sentado um homem que se parecia muito com o que eu lembrava de Niall, exceto que este homem tinha cabelos grisalhos e um rosto cheio de linhas duras.

Ele levantou o anel de Niall.

— Onde está Niall? Você é o pai dele? — perguntei, abraçando meus braços em volta da minha cintura. O homem se levantou e riu, fechando a distância entre nós. Eu recuei para evitar o contato e minha cabeça bateu contra a porta.

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