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- THIA -

Eu não tinha a intenção de bisbilhotar. Eu queria SAIR. Mas quando eu descobri que outra porta estava trancada, me prendendo por dentro, eu não pude evitar escutar quando eu tinha ouvido vozes do outro lado.

"Eu não me importo com a menina"

Quando Niall disse aquelas palavras, não deveriam ter doído no coração. Eu já sabia que ele não se importava. Foi só depois que ele já tinha saído que me lembrei o que Bobby tinha dito sobre o anel e sobre Niall ter feito a promessa como uma brincadeira.

Isso ainda era, provavelmente, uma piada para ele. Eles provavelmente não iriam para Jessep, a minha cidade. Eles estavam, provavelmente, na caminhonete a caminho de algum tipo de convenção de tatuagem onde Niall iria dizer a todos sobre o truque estúpido que ele jogou em uma garota que realmente se apaixonou por sua mentira estúpida e voltou anos depois, ainda segurando um anel que tinha significado tudo para ela enquanto crescia e nada para ele a partir do momento em que ele colocou na minha mão.

Eu sabia que ele não se importava comigo. Não aqueles anos atrás. Não agora.

"Então, por que eu sinto como se alguém tivesse me dado um soco no estômago?"

Depois que meu irmão morreu, meu pai sempre me disse que sob o peso da grande tragédia, vinha uma grande responsabilidade. Eu levei isso a sério e, como o passar dos anos eu me encontrei em mais e mais responsabilidade na fazenda, assim meu pai poderia cuidar da minha mãe, que estava escorregando mais e mais em seu delírio. Antes da imobiliaria cancelar nosso contrato, eu tinha quase dezessete anos e gerenciava a fazenda inteira, muitas vezes faltando à escola para me encontrar com fornecedores ou me certificar de que os pedidos saíssem na hora certa. Uma noite, durante uma geada extremamente rara, eu reuni os trabalhadores e passamos a noite toda regando as laranjas para não perdê-las para o frio.

Sob o grande peso da tragédia eu assumi a responsabilidade, mas sob o peso das novas dificuldades foi demais, muito pesado, e foi me esmagando antes que eu pudesse fazer quaisquer decisões racionais ou responsáveis.

Por que eu saí da cidade? Por que eu não simplesmente chamei o delegado? Eu sei por quê. Eu entrei em pânico. Pânico e medo nublou qualquer tipo de lógica, mas quando a lógica começou a tomar peso mais uma vez, o mesmo aconteceu com a gravidade da minha perda. Eu amava meu pai. Ele me ensinou a dizer quando as laranjas estavam maduras para a colheita pela forma como eles cheirava. Ele me ensinou a pescar. Ele me deixou sentar na frente dele no trator quando ele cortava o campo atrás da casa, o único espaço não ocupado por laranjeiras. Eu não acho que perdê-lo era algo que eu jamais seria capaz de superar. Meu irmão tinha morrido quando eu era jovem e, apesar de doer como o inferno, o que doía mais era ver meus pais sofrendo.

Eu amava minha mãe, mas eu não sentia falta dela. Não da mesma maneira que eu sentia falta do meu pai. Ela não tinha sido minha mãe por muito tempo. Meu pai pegava sua folga nos dias que ela se recusava a sair da cama, se recusava a tomar a sua medicação, ou depois que meu irmão morreu, se recusava a reconhecer que ela ainda tinha uma criança viva.

Na noite em que ela matou meu pai ela tinha estado mais maníaca do que eu jamais vi. O olhar da morte rodava em seus olhos.

Eu não tinha escolha e meu único e verdadeiro arrependimento foi não chegar lá mais cedo. Não ser capaz de salvar o meu pai.

A responsabilidade não significava fugir. Não é isso que eu tinha feito? Eu tinha fugido. E se eu voltasse para Jessep? E se eu dissesse ao delegado o que aconteceu. Eles conheciam a minha mãe e, embora ela e meu pai tivessem feito um grande esforço para encobrir os problemas mentais dela, eles tinham que entender que eu não tive escolha. Não é dessa forma como a justiça funcionava?

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