20

300 34 19
                                    


- THIA -

— Eu não posso entrar lá, — eu disse, evitando os degraus da porta da frente, os braços cruzados sobre o peito nu.

— Agulha e linha, — disse Niall, se encolhendo, ainda segurando minha camisa ensanguentada por cima do ombro. — Onde é que eu encontro? — ele perguntou e eu estava aliviada por ele não me forçar a entrar.

— A sala de costura é do lado de fora da cozinha, à direita e depois esquerda. Mamãe mantinha esse material em uma caixa ao lado da maquina de costura.

Niall desapareceu dentro da casa, emergindo alguns minutos mais tarde com a caixa da minha mãe. — Nada de luzes, — Niall disse, acendendo o isqueiro que ele vinha usando para guiar seu caminho através da casa escura, no bolso de sua calça jeans. Claro que não havia luzes. A conta venceu antes das mortes dos meus pais, e os mortos não pagam a conta de energia elétrica. Na nossa casa, na maioria das vezes nem os vivos.

Ele me jogou uma blusa azul que ele tinha pegado do meu quarto e eu corri para me cobrir com ela. — Obrigada, — eu disse. A resposta de Niall foi um pequeno grunhido.

Eu abri a caixa na varanda e peguei uma lanterna. Eu cliquei no botão e, felizmente, ele veio à vida. — Você já esteve aqui durante todo o dia e você não entrou ainda? — perguntou Niall, sentado no degrau mais alto, de costas para mim. Eu lancei a luz para baixo enquanto ele escolhia o que precisava da caixa de equipamentos.

— Eu não tinha planos de vir aqui.

— Então por que voltou aqui? — perguntou ele, abrindo a tampa da garrafa de vodka que eu não percebi que ele tinha trazido. Ele entregou a garrafa para mim. — Despeje na parte de trás do meu ombro.

Peguei a garrafa e usando a lanterna finalmente fui capaz de dar uma boa olhada no ferimento de Niall. Ele estava certo, estava completamente limpo, mas era muito mais profundo do que eu pensava. — Merda, — eu disse, deixando cair a lanterna. — Basta derramar, Ti e me diga por que está aqui se isso não fosse o seu plano.

Eu direcionei a luz em sua ferida e por algum motivo me vi fechando os olhos quando eu derrubei a garrafa e derramei o álcool diretamente em sua ferida. Todos os músculos do corpo do Niall ficaram tensos. — Ti, fale. Agora, — Niall disse, rangendo os dentes. Ele pegou a garrafa da minha mão e derramou o resto sobre o buraco na frente de seu ombro, apoiando a mão na borda do degrau da frente, ele arrancou um pedaço da madeira velha podre. Quando ele terminou, ele jogou a madeira para o quintal e baixou a garrafa, me entregando a agulha e linha.

— O delegado Donaldson não está até a tarde. Eu estava indo vê-lo, mas depois acabei por aqui e eu fiquei... distraída. — distraída foi um bom termo para Ben Coleman e sua audácia de até mesmo de pisar na fazenda.

— Você ia confessar? — perguntou Niall, a raiva em sua voz. Ele cruzou os braços sobre as coxas e se inclinou para frente para que eu pudesse ter melhor acesso à sua ferida. Eu deixei a lanterna no corrimão e usei o único ponto eu me lembrei que minha mãe me ensinou. Eu puxei a pele de Niall tão próximo quanto possível e tentei fingir que não era sua carne e músculo que eu estava remendando, mas uma espessa colcha ou couro resistente.

— Sim, eu pensei que seria melhor colocar tudo para fora, aceitar o que viria para mim. Meu amigo Beck é o substituto, talvez ele me dessa alguma ajuda. Não é como se eu fosse para a prisão alguém fosse sentir minha falta. O mundo ainda se transformaria. Ninguém sequer saberia que eu tinha ido embora.

— Eu iria.

— Sim, você saberia que eu tinha ido embora, mas você ficaria feliz em se livrar de mim, — eu disse amargamente.

KING ③Onde histórias criam vida. Descubra agora