Itnaclavac é o sobrenome do clubista escrito de trás para diante. Penso não desconhecer totalmente as razões que o levaram a escrever certas palavras assim.
Açnerolf, Eficer, Gnok Gnoh, Ecarret Ook Man, Ohniletsac, Assor Atrop Aiv, Itnaclavac Aiv Agitna.Segundo o que consegui ler até agora da teoria da psique paranebular, trabalho dificultado pelo fato da desordem em que se encontra a "biblioteca" em que os papéis estão todos misturados, sendo necessário um paciente e demorado trabalho para separar e organizar tudo segundo o seu conteúdo, a luz, desde a nebulosa primordial, imprime na substância escura da psique, as imagens de tudo que percebemos, incluído palavras, ao contrário e de cabeça para baixo. Mesmo depois de o cérebro "corrigir" este efeito ótico da luz na nossa retina, lá no fundo da mente as imagens permanecem tal e qual foram impressas pela luz.
"O erro vem da luz" diz os teóricos da "psique negra" outro nome poético da psique
Paranebular. E para corrigir um erro em escala cósmica nos contamos apenas com o nosso cérebro. Apesar de, como já disse , desconfiar da sanidade mental desses teóricos, tenho que admitir que o que eles dizem tem sua lógica. A divinização inconsciente da luz pode levar a cultura baseada em imagens arquétipas à um poço sem fundo.Itnaclavac é o nome ao contrário de uma antiga família que na Idade Média se estabeleceu em Florença.
O clubista acreditava que o seu sobrenome, de alguma forma, influiu na sua entrada para o Vale dos Ventos. Ele escreveu que, assim como ele, muitos dos que têm sobrenomes iguais aos que figuram no Inferno da
Divina Comédia, foram convidados para as festas do clube e terminaram "arrebatados" pela psique da deusa do claroscuro *e hoje se encontram vagando perdidos no Vale dos Ventos.
Não li a Divina Comédia mas sei que três ou quatro personagens com o sobrenome igual ao do clubista estão mesmo no Inferno.Vale dos Ventos, segundo o clubista só tem duas entradas para o Vale dos Ventos e uma só saída. Uma das entradas é um edifício chamado Castelinho que fica em Recife, e a outra é em algum ponto da Via Porta
Rossa em Florença. A saída, como já sabemos, é o prédio do Nam Koo Terrace em Hong Kong, que se encontra bastante estragado pela ação do tempo e do abandono.Ele, que esteja vivo ou morto, tem que está em algum lugar. Eu, que não sou de acreditar em tudo que leio, tenho que admitir que agora mesmo gostaria de poder procurar essas entradas e assim quem sabe, esclarecer esse mistério que até agora tem desafiado a minha mediana inteligência e abalado o delicado equilíbrio existente entre a minha psique consciente e a inconsciente.
Pelo que sei até agora, ha pelo menos um indício do seu paradeiro , um bilhete em forma de poema, que a sua namorada lhe deixou ante de ir para Florença. Ele pode ter ido atrás dela e ficado por lá.
Mas por via das dúvidas, se ele está mesmo de corpo e alma no inferno, por que ainda não tentou sair de lá pela porta do Nam Koo Terrace??
Um pensamento de arrepiar me passou agora pela cabeça, e se me acontecer o mesmo, será que meu sobrenome também está no livro de Dante???. Eu só aceitei Cora por consideração à nossa antiga amizade, e só pretendia escrever algumas linhas para não deixar passar em branco o seu verdadeiro sumiço do mundo.Agora foi que notei, a forma dessa massa de papéis que separei da pilha maior lembra as formas sinuosas de
um corpo de mulher, deitada sensualmente no chão. Se eu tivesse uma imaginação de artista, diria que estou vendo Cora esparramada no chão, me seduzindo... Fique comigo, fique comigo. Fique com Cora! Não foi o que ele me pediu?Itnaclavac tem uma dívida para com a deusa, ela quer a sua imagem. Como pode ser uma coisas dessas. Como ele pode lhe dar a sua imagem? De início entendi imagem no sentido de reputação. Ele violentou a virgem sacerdotisa da deusa. Agora a deusa exige que ele perca a sua imagem de poeta, foi isso que ela quis dizer com as palavras"o preço à pagar é a sua imagem". Na minha opinião ele pagou o preço quando não quis mais ser tratado de poeta.
De início, como já disse, entendi assim, mas agora admito que me enganei. Olhando para a mulher de papel aqui deitada aos meus pés e imaginando ver nela a imagem da sacerdotisa nua e suja de sangue, mas com um ar de radiante felicidade no rosto, intui que a imagem que a deusa quer como pagamento é o seu sobrenome, mas um Cavalcanti para o inferno! E se foi isso, ela o conseguiu.
A expressão de prazer que continuo imaginando vê na face de Cora
praticamente confirma que foi isso.
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História sem Título
General FictionUma história sem nome pode não ser uma grande história, mas as coisas anônimas também podem ser universais.