A DANÇA DE AVA

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O ponto alto da festa foi a apresentação de uma dançarina anunciada como Ava a Luz del Fuego.
A dançarina estava nua e segurava uma serpente acima da cabeça
quando ocupou o centro do salão e
começou a dançar.

De onde ela vem?!

De onde vem essa luz?!

A serpente se enrola perigosamente em seu tórax, mas não a esmaga como faria à qualquer um outro tipo de animal. Delicadamente desliza sobre
sua pele, seus seios, suas nádegas, sua
genitália, suas coxas, suas pernas, seus pés.

Ava tem agora a serpente aos seus pés, pisa bem de leve em sua cabeça enquanto a segura e puxa novamente para seu corpo bamboleante.

Ava beija a boca da serpente, beija os olhos da serpente, beija a bifurcação da língua da serpente, beija a cabeça da serpente e enfia dentro do sacrário
do sexo.

As luzes se apagam e acendem, se apagam e acendem, se apagam e acendem, se apagam novamente e quando voltam a ascender Ava e seu anjo já não estão mais ali.

Eu estava lá assistindo, mas não me lembro de nada, só sei o que se passou por que o poeta que eu era colocou por escrito o que vi e eu li.

Em que outro momento da festa eu  fui hipnotizado senão este da dança?

A palavra Ana me fez sair momentaneamente do transe e depois não funcionou mais.

Escrevo  as palavras Ana Ava na expectativa de que uma seja o contraponto psíquico da outra para quebra o elo semântico da cadeia hipnótica. Leio as palavras e nada de meu ego retornar do limbo.

Peço a opinião de Cora só por brincadeiras, porque ela não tem como entender o que estou tentando fazer.

Cora escreve AVA RELER REVER RIR, eu leio e o fenômeno acontece .

*          *          *            *           *   .     *
Mário! Mário ! Acorde! Sou eu Maria!

Cora me acorda me chamando pelo nome de Mário. Fico sabendo que desmaiei tão logo li aquela frase.

*                *          *            *           *

Sonja! Vejo Sonja, estou em transe hipnótico.

Aquelas quatro palavras reativaram o meu transe hipnótico
latente.

Eu me enganara quando julguei que a palavra Ana me tirou do transe. Foi a frase Ana reler, rever, rir que me levou ao transe, e não o contrário.

*       *        *          *         *           *       *

Sonja reaparece no salão vestindo apenas aquela leve camada de ouro em pó com que dançou com a serpente ainda ha pouco. Os mamilos dos seus seios estão invisíveis sob o pó dourado.

Uma forte brisa vinda do mar lembra aos presentes que eles estão no vale dos ventos.

Todos estamos terminando de nos fantasiar cobrindo nossos corpos seminus com talco , o que nos deixa completamente brancos até os cabelos. Maria entra na festa e me chama.

A visão acaba, sai do transe, dessa vez sem desmaio. Não recordo do que falei, ainda bem que Cora gravou tudo.

ANA RELER REVER RIR

AVA RELER REVER RIR

Sei agora que essas duas frases, cada uma à seu tempo, me fizeram entrar em transe. Agora no entanto elas já não fazem nenhum efeito. Quem me hipnotizou queria que o transe fosse permanente mas virtual. Mudando apenas a primeira palavra da frase ocorre o transe. Deve existir uma série de outras "primeiras palavras" que virtualmente podem me fazer entrar em transe. Desconheço quais sejam essas palavras.

Cora percebe que estou mesmo estressado, para me divertir um pouco começa a ensaiar uma dança em volta da coluna de arquivos  que começa a se formar ao lado da pirâmide. Ela tem um corpo leve, ágil, flexível, daria uma ótima dançarina de balé. Volteia graciosamente, pula, corre, rodopia e rir, rir, rir, e eu contagiado pelo seu riso acabo rindo também.

Quero entrar em transe outra vez, quero voltar para aquela festa, ao vale
dos ventos, ao inferno, quero recuperar a minha alma.

Nada acontece, não consigo entrar em transe à minha vontade.

Talvez nem valha a pena recuperar a alma perdida.

Talvez seja melhor por à venda sua alma.

Queria que a dança não acabasse nunca! Minha alma por essa dança!

A deusa para de dançar, senta de cócoras e escreve com o dedo no chão palavras que só ela consegue vê.


História sem Título Where stories live. Discover now