História sem Título

DICOTOMIA

Dicotomia, a imagem pintada em três cores, branco, vermelho e preto não me sai da cabeça. Num canto da tela uma assinatura em letras miúdas quase passa despercebida: Itnaclavac. Me aproximo e me afasto da tela procurando a distância certa para a minha apreciação. Então resolvo examina-la mais de perto. Por fim pego o quadro e o giro invertendo a sua posição. Por simples curiosidade olho atrás do quadro, e para minha surpresa vejo que a parte de trás da tela também está pintada com o mesmo círculo, o mesmo triângulo, o mesmo fundo vermelho e, espere aí, o triângulo agora é branco e tem um "buraco" vermelho dentro dele, já o círculo acima é preto. O quadro tem dupla face . mas por que será que ele não pintou dois quadros separados em lugar de mostrar um para esconder um outro?
Está certo que a primeira pintura simboliza uma Koré virgem e a segunda é um símbolo explícito de uma Koré estrupada , mas por que essa preocupação excessiva em esconder uma imagem sobre outra ?

Concentrei a minha pesquisa nos estudos preparatórios para o quadro, feitos em cadernos de desenho que felizmente encontrei  dentro daquela pilha enorme de papéis, que ele chamava de sua biblioteca e que foi se acumulando desordenadamente durante os anos e anos que trabalhou naquele quarto. Encontrei a primeira versão de Dicotomia esboçada em lápis de cor. Lá estava o círculo, só que ele é metade branco e metade preto. O triângulo também é branco e preto e no centro da sua figura se encontra um círculo preto e branco, o fundo é vermelho.
Na segunda  versão o círculo é completamente branco, o triângulo é preto com um círculo branco em seu interior, o fundo continua vermelho.
Na terceira versão o círculo é preto, o triângulo é branco com um círculo preto bem visível sobre a figura branca do triângulo.

Por um momento ou dois imaginei que encontraria o meu desaparecido amigo dentro daquela montanha de papel que se elevava até o teto. Mas que ideia mais idiota a minha.