História sem Título

A QUEDA DOS ANJOS

Estou na Itália. Escolhi um vôo com destino em Pisa. Quis ver Pisa em primeiro lugar por motivo pessoal. Não sabia que a dor dessa perda pudesse machucar tanto a carne da minha alma.

Se vê de longe a torre.

A torre de Marfim, a torre alada!
Esquia e triste sob o céu cinzento.

Corredores de brumas congeladas!
Galerias de dúvidas e lamentos.

Os peixes podem criar assas!
As assas brancas também podem gerar vermes.

A torre de marfim fez-se esqueleto!
E o esqueleto desfez-se num momento.

Olhei a torre de marfim exangue!
É vi a torre transformar-se em brasa.

E a brasa rubra transformar-se em "sangue"!

Ela já estava morta a 1 ano quando recebi a notícia. Por que não me avisaram antes?

E quem é você para que o Clube lhe preste contas do que faz??

Eu sou um feixe de moléculas nervosas saturadas de arquétipos vagabundos. E você!  Quem é ??

Eu sou aquele que foi, é, e será!

Sei, sei, estou falando com o kosmos coletivo e isso significa que pirei de vez.

Você me chamou pelo meu nome moderno, beleza é que é o meu nome primitivo. Todos os seres primitivos viam a beleza e a adoravam pela sua aparência e nada mais. Agora você está com ódio de mim por causa da dor que está sofrendo.
A dor é própria da substância de que somos feitos, mas somos capazes de sentir beleza na dor.

Você está me dizendo que o suicídio dela foi um ato eminentemente estético, e não um miserável ato de covardia.

Estou lhe dizendo que foi as duas coisas. É estupidez dizer que só foi belo. É estupidez dizer que só foi miserável e feia covardia.

E como não ser estúpido?

Não podemos deixar de ser estúpidos.
O que podemos é não optar pela estupidez.

Mas é daí, que diferença faz não optar pela estupidez se continuamos estúpidos?

Quando optamos pela estupidez só estamos aumentando a força do caos.
Ponha-se no meu lugar, você pode ganhar assas, quando eu não opto pela beleza, estou me comportando quando como sou chamado de kosmos, e sou entendido como uma ordem, posso ser também uma ordem sim, mas uma ordem cruel, desumana, a um passo do caos.

Gostaria de ter assas agora!

Então dê assas a sua imaginação, voe na direção oposta à que viaja as imagens na luz e volte ao passado.
Isso... Isso... Recue no tempo... Procure entre as imagens que passam, aquela que é o seu ícone mais sagrado, aquela que gerou dentro de si a "imagem da sua imagem".

Vemos a esfinge fêmea do, Figuras Invertidas de Pessoas e Cães perante o Sol, subindo à torre  acompanhada do ídolo macho. Aquela cabecinha, que na cena da pintura, aparece na ponta do falo do cão, está agora na barriga da fêmea. As duas figuras pulam do alto da torre... O sol vermelho, a estrela negra de 8 pontas, e os outros signos, que entram em cena por trás das duas que estão à cair juntas de cabeça para baixo, permanecem imóveis, transcendentes, distantes, indiferentes para a desarmonia a sua volta.

Agora é a hora de você acordar e eu dormir. Deixo a imaginação por sua conta, imagine o que você quiser sobre o que vimos juntos.

Imagino os corpos de Cora e seu amante esparramados aos pés da torre de Pisa. A polícia traça com giz o contorno dos cadáveres na posição em que ficaram depois da queda...depois uma viatura remove os dois e vai embora. Agora os contornos de giz lembram figuras do tottomondo.