O LOUCO O ENFORCDO E O BESOURO

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Não entendo nada sobre tarot. Leio alguma coisa sobre o assunto, me interessa particularmente a interpretação da carta La Force, não a sua interpretação esotérica e condicionante mas sim uma interpretação "heurística*" dessa carta XI.

O chapéu de mago cuja forma lembra o numeral 8 deitado, símbolo do infinito, que a mulher(uma versão medieval da feiticeira Circe da mitologia grega) está usando, foi o que mais me despertou a atenção.

*heurística é um método de análise lógica desenvolvido a partir da capacidade natural da psique de, automática, intuitiva e inconscientemente resolver questões difíceis envolvendo signos visuais e signos verbais, simplesmente decompondo os signos complexos em signos mais simples.
Por exemplo : o chapéu da mulher (símbolo visual complexo ) despojado de seu ornamento semântico, o signo verbal denominado de "chapéu de mago" é o (símbolo visual simples ) do infinito.
Existem várias formas de heurística, entre elas a heurística de julgamento, que pode levar ao erro de preconceito por se basear em estereótipos. Por exemplo : todo cretense é mentiroso, fulano é mentiroso, logo, fulano é cretense.

De heurística eu entendo. Para mim heurística deixou de ser um comportamento psíquico que beira o transtorno mental, para ser um estilo de vida.

Antes de partir dessa cidade vou me encontrar pela última vez com o artista do ateliê. Não perguntei o seu nome, hoje em dia o nome das pessoas não é tão importantes como o número do seu celular. Ele não me deu seu telefone, me deu uma carta de baralho.

Subo os lances de escadas que range cada uma emitindo o seu próprio som particular, diferente em cada escada, como se fossem quatro diferentes instrumentos musicais sendo afinados. A última tábua solta uma nota aguda, um Fá estridente que aumenta e afina o meu permanente chiado no ouvido. Minha consciência cantando em Fá me acusa de ter gostado de matar aquele cachorro, de ter desenvolvido psicopatia. Sim tenho que admitir que gostei de matar o cachorro para a minha consciência parar de cantar em meu ouvido com sua voz horrível. A subida termina, caminho em um pequeno corredor até a porta do ateliê que fica sempre aberta, entro e vejo um enforcado que logo reconheci ser o artista.
Quando olhamos calmamente para o enforcado notamos o seu rosto tranquilo, ele está em paz e quando chegamos mais perto, parece até que está meditando.
Olhando atentamente, notamos que nem amarrado ele está, ou seja, está aí porque quer ou, mesmo que alí tenha sido colocado contra a sua vontade, continuará dependurado apenas pelo tempo que quiser.

Abro a gaveta de onde antes ele tirara a carta. Pego o maço de cartas. Manuseio o baralho e retiro a carta do enforcado.

Olhamos para a XII carta do tarot e encontramos um homem pendurado, de cabeça para baixo, a primeira reação instintiva é a de virá-lo ao contrário.
Viro a carta ao contrário e percebo que a posição das pernas do pendurado tem a forma do número 4.

Retiro a carta IV do baralho.
É o Imperador.

O Imperador, duro, inflexível e rico, acompanhado de seres de chifres, conspira, planeja, coloca em prática seus astucioso planos de dominação e controle do mundo. Para tanto, ele tem a sua disposição todas as condições matérias, estruturais e financeiras.
Largo a carta do imperador e procuro a carta do mago, por causa do chapéu da mulher da carta XI.

O Mago é a carta I.
O perfil psicológico do Mago é o de um charlatão, golpista, um manipulador que não tem os melhores interesses em mente.

A ordem numérica das cartas remetem portanto para uma ordem heurística.

A próxima carta na ordem numérica e a XIII, a "carta sem nome" mas que é conhecida como La Mort.
Um Esqueleto revestido com uma espécie de pele tem uma foice nas mãos, do chão negro brotam flores azuis e amarelas entre restos mortais de seres humanos, no primeiro plano, à esquerda, uma cabeça de mulher, à direita, uma cabeça de homem com uma coroa.

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