ELE TINHA OLHOS HUMANOS

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Sai de Arezzo em direção à uma nova cidade. Os olhos daquele cão, sei que já vi olhos iguais aquele. Os olhos de Odo, eles emitem aquele brilho intenso que todo olho de psicopata tem. E é difícil de esquecer os olhos de um psicopata que está apontando uma arma para você  dizendo que vai te matar. Afinal aonde esse sujeito pode está? Sei que não foi ele quem morreu em Pisa, e sei que falta saber alguma coisa a mais sobre ele. Aqueles olhos... Suponho que ele é um cobaia de experiências genéticas. Só assim se explica que olhos iguais aos seus fossem parar em um cão. E quem sabe se genes de cachorro não foram implantados nele?

Me comunique-i com a revista pedindo para me enviarem um guia turístico e sugerindo o nome de Odo. Minha estratégia é simples. Para se caçar um animal e necessário saber onde o animal se encontra. E a revista sabe onde o assassino dos dois turistas se encontra.
Sim foi ele que empurrou os turistas do alto da torre. Dá para imaginar a cena toda. O homem-cão fica de plantão no alto da torre fingindo ser guia turístico. Os dois turistas turcos sobem a torre para apreciar uma visão panorâmica de Pisa. A fera percebi a chegada deles e telefona para a revista  informando que os pombos pousaram na varanda e se deve faze-los voar. A revista responde : está brincando ? Faça o seu trabalho! Ele se aproxima sem fazer o menor ruído, os pombos estão entretidos demais com a paisagem para perceber aquilo que está parado as suas costas a vinte centímetros de distância, e quando sentem o toque das suas patas são menos dois turcos na Europa.

O meu pedido, para minha decepção, foi atendido pela revista. Digo para minha decepção porque não quero aquele tipo por perto, só queria me certificar de que ele vive e em que lugar se encontra. Informações como essas só posso obter através da revista. Esperava que me respondessem que o guia escolhido por mim não se encontra disponível por está trabalhando na tuttImmagine da Cochinchina ou outro lugar remoto qualquer.

Tudo está acontecendo rápido por aqui. Não tive tempo de terminar o café da manhã em Cortona* porque perdi o apetite ao receber em minha mesa o próprio Odo vestido com a farda azul da revista(o azul é a cor preferida dos internos em clínicas psiquiátricas pesquisados sobre as cores de sua preferência). O azul é a sua cor Odo.
Ele havia mudado desde à última vez que o vi a 15 anos, está mais parecido com um pitbull, impressionante como esse fenômeno é comum entre criadores de cachorros, eles se parecem no caráter, e até em traços na fisionomia, com a raça de animais que mais admiram.

*Cortona fica no alto de uma colina e possui raízes etruscas que remontam
ao século IV a. c.
Inclui Cortona em meu itinerário por causa do livro de Frances Mayes que inspirou um filme chamado Sob o Sol da Toscana.
No livro a autora encontra um "afresco original" quando faz uma reforma em uma casa antiga, e descobre também as trilhas que o poeta Virgílio percorreu nessa região, entre outras "descobertas".

O guia quer saber o que eu gostaria de ver primeiro em Cortona.
Respondi( só por responder, porque não queria a companhia de um assassino psicopata) que estava muito interessado na Villa Bramasole, que foi residencial da escritora Frances Mayes.

Como já expliquei, só estou interessado no "afresco original"( quero saber o que está pintado ali e quem pintou), e nos lugares visitados por Virgílio(imagino que tais lugares tem algo a ver com o conteúdo do afresco).Não li o livro é nem vou ler. Não assisti o filme é nem vou assistir. Não espero encontrar o tal afresco na casa da escritora. Basta saber que foi ela que inseriu, com a "descoberta por acaso" do tal afresco, a "cena" da Toscana antiga no cenário da Toscana moderna.

Partimos a pé, o guia parece conhecer o local pois segue na frente com passos ágeis, sem parar aqui e ali para se certificar do caminho, claro que está tudo bem sinalizado por placas, qualquer turista poderia encontrar o caminho para a Villa sem necessidade de um guia.
Chegamos no local em cerca de meia hora.
Houve um contratempo. A casa está temporariamente fechada para visitas porque está passando por uma restauração.
Não vejo sinal de vida. O pessoal que trabalha na restauração não está trabalhando hoje.
Aproveitei a ocasião para entrar e olhar a vontade para aquele mural sem ter que entrar numa fila e ficar sujeito a um horário fixo.
Odo não gostou do meu atrevimento, prefere não infringir as regras. Acalme-se! Disse eu, não vamos danificar nada, não somos vândalos,e se houver alguma multa pela invasão, estou disposto à pagar. Odo ouviu o que falei mas a sua atenção estava distante, como se estivesse ouvindo algo que eu não podia ouvir.
Entrei e ele veio atrás. Em seguida tomou à minha frente e ficou farejando algo no ar.
Não percebi nada até o último instante. Um cão de guarda, um pitbull malhado, apareceu correndo em nossa direção, Odo se vira para mim e corre na minha direção, salta sobre mim, me derrubando no chão, em seguida, correu em direção ao cão. A uma certa distância os dois pararam e ficaram rosnando um para o outro. Começaram então à se insultar mutuamente com latidos antes de se atracarem numa briga de morte.

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