PODE ATIRAR!

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O bar fica a vinte minutos a pé de meu edifício. Sento em uma das mesas da calçada para ficar recebendo a brisa e olhando para o mar. Peço Whisky quando quero beber pouco e ficar sentado muito tempo, peço vinho quando quero beber muito e sentar pouco.

Quero ficar pelo menos duas ou três horas sentado olhando o vai e vem do mar.

Devo está com uma aparência de poucos amigos porque um ou outro turista olha para mim com desconfiança.

Deixo o tempo passar e o tempo passa

É necessário bastante tempo para diluir no Whisky toda a astúcia que minha mente engendrou e injetou naquela frase de apenas duas palavras, pode atirar.

O balanço do mar continuava desafiando a eternidade quando um carro dos bombeiros passou com a sirene ligada. O incêndio é aqui perto, sei disso porque vários banhistas e transeuntes se aglomeram no calçadão da avenida para observar a fumaça, que sai de um edifício que não pode ser visto do local onde me encontro ancorado pela bebida.

Como eu poderia esperar que aquela foto imunda que emiti com a frase imunda iria atingir diretamente o "Kosmos" pessoal do pobre velho?

O álcool me faz filosofar. "Kosmos" seria um princípio ativo que atua no íntimo de todos os seres, desde as estrelas até as partículas subatômicas. Na nossa psique ele se faz algo "pessoal" e é o princípio responsável por fazer os arquétipos interpretarem, sinais, signos, imagens, como "ordens" inquestionáveis.

Deve existir algum outro principio que se oponha ao kosmos.

Mas claro que existe, sua vaca bêbada! Eu sou esse princípio, você mesmo me chamou de anti-arquétipo e pelo ridículo nome de Olot. Eu não tenho nome algum, mas sou conhecido desde a antiguidade pelo nome bonitinho de "caos".

O carro dos bombeiros passou de volta, o incêndio foi dominado. Caos perdeu a parada para kosmos desta vez.

Vários turistas saem de um hotel próximo para o banho noturno de mar, que é preferido pelos que temem os efeitos dos raios solares sobre a pele. Já bem começa à escurecer.
Sou míope mas com lentes apropriadas para uma visão a distância, posso enxergar razoavelmente bem até à uma boa distância.

Não quero acreditar no que estou vendo, mas é ela sim, Eme! Aquela ali é ela, no meio de outras mocinhas de mesma idade, de pé no calçadão, se preparando para um mergulho.

Ainda bem que bebi pouco, me levanto num expulso só é caminho resoluto em direção ao grupo das moças.

Estou agora a menos de dois metros dela, ainda quando a vi a pouco havia a possibilidade de que fosse somente uma alguém muito parecida com Eme, no entanto a visão de um pequeno sinal na bochecha esquerda que vi em sua fotografia, me dá quase a certeza de que mais uma vez kosmos chutou o traseiro de caos.

Arisco um primeiro contato. A senhorita se chama Eme Iri di Menenia?

Mi chiamo Eme!

Mas que coisa danada encontrar com Eme nesse fim de mundo em que moro. Tão longe da Europa, do primeiro mundo. Mas e o sobrenome, não ouvi ela pronunciar o sobrenome.

Devo ter pronunciado o sobrenome depressa demais e sem a correta dicção italiana das palavras.

Sinto alguém tocar em meu ombro e perguntar: desejar falar com minha noiva senhor?
Olho para trás e vejo como eu deveria me parecer a uns 50 anos. Se pareceria comigo só que mais alto.

Sim, obrigado por perguntar. Eu gostaria de saber se estive a falar com a senhorita Dona Eme Iri di Menenia.

Sim pois não ! Em que poderia-se ajudá-lo?

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