Capítulo 10

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Uma confusão inesperada

  - Oi, quanto tempo que não vejo vocês! Como vocês estão ? - disse Thaynnara

Levantei a cabeça para cumprimenta-los, e vi um rosto familiar: era Samuel, logo me lembrei de Sheyla, e junto com a tentativa de lembrar de algo a mais veio também uma enorme dor de cabeça. Tentei disfarçar, e disse :

- Oi Samuel, como você tá ?

- Oi Alice, já faz um tempo que não vejo você, como você esta agora ? Já se recuperou totalmente ? - ele se referia às minha pernas, percebi, e não achei que ele soubesse da minha perda de memória, então agi normalmente.

- Sim, estou muito bem agora, obrigada. Todos temos estado ocupados, então é difícil nos vermos com frequência.

Olhei agora para o outro, que estava conversando com Thaynnara, procurando saber quem é, mas não o reconheci. Thaynnara olhou para mim e percebeu que eu não sabia quem ele era, então me ajudou:

- Faz tempo que você não vê o Felipe também, não é Alice ?

- Olhei para ele, que sorriu para mim. Não lembrava dele mas pelo jeito ele lembrava de mim, então fiz como se estivesse tudo certo:

- É verdade! Faz um tempo! - disse e me afastei para o meio do sofá, dando espaço para que eles se sentassem conosco. Thaynnara veio para o meu lado, também os dando espaço, e sentaram-se cada um de um canto, Samuel do lado de Sheyla e Felipe ao meu lado.

Eles se sentaram, Samuel de frente para mim, ao lado de Thaynnara e o tal de Felipe do meu lado.

Voltei-me para o cardápio, pois não tinha muito o que falar, porém eles continuaram, até que Felipe parou e percebi que estava olhando para mim. Tentei fingir que não percebi por um tempo, porém ele continuou, o que me fez ficar imensamente incomodada, então olhei de volta e o encarei também. Ele meio que tomou um susto, porém não desviou o olhar, então sorri sarcasticamente e perguntei:

  - Tem alguma coisa que você queira me falar ?

Ele se espantou por um segundo, mas se recompôs, sorriu e disse:

  - É que você parece diferente, não sei se é por que faz um tempo mesmo, mas eu achei engraçado.

  - O que você achou engraçado ?

  - Sei lá... - ele riu - é estranho mas, até parece que você não lembra de mim, normalmente você estaria falando sem parar e dando altas risadas...

Agora eu me espantei. Não sabia que reação ter agora. Eu tinha que agir normalmente, mas como se eu não sabia qual era o meu normal com ele ? Analisei o que ele disse procurando por uma resposta que o deixasse sem mais perguntas, então sorri e disse:

  - Que loucura, eu me esquecer de você ! Eu só estou um pouco cansada, mas esta tudo bem! - Sorri e me voltei para Samuel, evitando qualquer outro comentário de sua parte.

  - Você vai ficar por aqui mesmo , Samuel ?

  - Sim, acho que vou ficar por aqui ainda esse ano.

Dei graças a Deus por que minha pergunta não estava desatualizada e ele pode responder, já que eu disse no improviso.

Estava nervosa, não sabia o que dizer, estava implorando para eles começarem a conversar no coletivo e esquecer a minha existência, mas parecia impossível, pois os olhares do Felipe para mim foram ficando cada vez mais incômodos, até que Samuel e Thaynnara perceberam, e novamente, fui na minha tentativa de disfarçar:

  - Vão pedir o que ? - disse voltando-me novamente para o cardápio que não tinha saído de minha mão.

  - Vou querer um hambúrguer e um copo de suco de laranja. - disse Felipe e virou-se para mim.- o mesmo Alice ?

  - Olhei para ele um tanto perplexa, e perguntei : como soube ?

Ele riu e disse :

  - Está frio,você deve ter comido muito doce hoje, não é ?

Assenti que sim e o encarei ainda confusa, até que ele me olhou de volta e me assustei. Ele riu de mim e me senti uma retardada, com vergonha abaixei a cabeça, e fiquei quieta. Percebi que ele estava me encarando mas dessa vez não tive coragem para erguer a cabaça, até que ele se aproximou lentamente, curvou-se até meu ouvido e sussurrou:

  - Como estão os sonhos?

Desta vez o susto não foi normal. Ao ouvir estas palavras me afastei tão bruscamente que a mesa se mexeu com o meu empurro, fazendo um barulho tão alto que não alertou só Thaynnara e Samuel, mas também todos da lanchonete. Ele, com a expressão tão assuntada quanto a minha ao ver minha reação, ficou perplexo e me perguntou agora com real preocupação:

  - Você está mesmo bem Alice ??

Não entendi como isso podia ser normal para nós dois, mas afinal eu não me lembrava dele. Então eu disse só para ele ouvir:

  - Precisamos conversar.

Ele fechou a cara, e disse com ousadia:

  - Concordo!

Então me pegou pela mão e saiu me arrastando para fora da lanchonete.

  - Espera, o que... - murmurei sem saber o que fazer ou dizer. Ele respondeu com o silêncio enquanto continuava me levando pela mão.

Todos estavam nos olhando, até que algo pior aconteceu. Gustavo entrara na lanchonete no momento em que estávamos em frente a porta para sair. Lembrei que devia ser seu turno, porém, na tentativa de  o cumprimentar, fui interrompida por Felipe, que insistia em me levar.

  - Ei, calm-

Dai percebi sua expressão de raiva olhando para Gustavo, e me espantei. Não pensei em como poderia ser a relação dos dois mas não imaginava tal coisa. Não estava tão assuntada até olhar para Gustavo, que o encarava com ainda maior repulsa. Gustavo parou em nossa frente não querendo o deixar passar, e disse a Felipe:

  - Solta ela.

- Nós precisamos conversar, se você puder nos dar licença.

Ele esquivou-se dele e continuou a me puxou rumo à porta. Quando fui dizer para que me soltasse, Gustavo segurou minha mão quando estávamos passando por ele. E repetiu:

  - Solta ela.

Desta vez ainda mais bravo.

E ficaram se encarando como se estivessem prestes a pular um no outro.

Quando fecho os olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora