Quando percebo, estou em cima do corpo dormente de Lucas, empurrando-o de um lado para outro e gritando para que acorde.
- Alice! Para! Não adianta. - Minha mãe me diz tentando me segurar para que eu parasse.
Me vem lágrimas aos olhos mas eu as mando de volta. Não posso continuar me dando ao luxo de ser tão frágil.
quando volto meus olhos para minha mãe, seus olhos estão pousados sobre a figura dormente de meu irmão, seu filho. Percebo seu olhar não só cansado, não só triste, mas amedrontado, com o medo que todos nós naquela sala estávamos carregando. Penso que devo a ela explicações, mas como explicar o que estava acontecendo. Como explicar que seu filho estava preso num mundo que eu criei, e que talvez, poderia ficar la para sempre pois esse mundo saiu de controle? Então me voltei para ela, fixei minhas mão com firmeza e, fixando meus olhos aos delas obrigando aqueles olhos espantados mas desamparados a olhar no profundo dos meus, tão fundo que talvez ela poderia dizer o que se passa em minha alma, e disse baixo, como num sussurro, para que só ela ouvisse, só ela entendesse:
- Mãe. Presta bem atenção em mim agora está bem? - ela sem reação apenas continua a me olhar - Talvez possam acontecer coisas que você ache difíceis, e talvez não saiba o que fazer, mas quero que saiba que o Lucas vai ficar bem! Eu vou me certificar disso! Entendeu?
Ela assente com a cabeça e eu dou um beijo em sua testa. Sinto que ela está chorando, por isso, mesmo já imaginando as lágrimas que tanto queriam traçar um longo e persistente percurso em meu rosto, as seguro, como nunca segurei, como nunca desejei que elas fossem presas o suficiente para as lagrimas de minha mãe parecerem únicas e, portanto, dignas de atenção.
Espero que todos saiam e que escureça. Meus pais insistem em ficar mas peço que vão. Peço que me deem espaço. Com eles por perto, não teria coragem de faze-lo novamente. Não teria coragem de trocar este mundo por aquele e pô-los em tal situação, mas afinal, é necessário. Se eu não fizesse isso, poderia nunca mais ouvir a voz de meu irmão, discutir com ele, brincar com ele, e ser cuidada por ele.
Enquanto estou dando o ultimo adeus, sinto que possa ser realmente um "até nunca mais", mas fico firme, me contento com um leve abraço em cada um e forço um sorriso de "vai ficar tudo bem". Espero na janela até que o ultimo rastro de seus corpos iluminados pela fraca luz dos postes se aprofundem na escuridão e virem a curva, me concedendo total privacidade, ou ao menos, a mim e a Lucas.
Vou em direção a cama, dou uma ultima olhada no corpo dormente ao meu lado e digo:
- Nos vemos logo.
Já sentada na cama rústica, ergo os lençóis brancos e me deito quase totalmente, por fim desligando a luz do abajur entre nós. Fecho os olhos, e com serenidade, cavalgo para o outro mundo sem nem mesmo perceber.
Quando chego la, vejo tudo do modo exato que estava antes de toda aquela loucura. Cada pequena coisa que eu organizei em seu devido lugar.
Olho ao redor e não vejo nada de estranho, nenhum movimento, nada vivo, incluindo a presença de Lucas, mas me digo:
- Ele está aqui em algum lugar, só tenho que achá-lo.
Me ponho numa nuvem e começo a flutuar pelo mundo, olhando de cima, procurando por ele. Sinto a brisa gelada cortando meu rosto enquanto os leves raios de sol derretem minha respiração. Por um momento, sinto tão imensa saudade que acabo me deixando levar pelos sentimentos, mas logo me corrijo dizendo em voz alta:
- Essa é a última vez que eu venho aqui.
Confesso que uma lágrima tentou escapar de meus olhos como se precisasse ser livre finalmente, mas a seguro, afinal, já chorei demais. Há um limite para ser fraca.
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Quando fecho os olhos
FantasyAlice com inúmeros problemas acumulados, certo dia decide fechar os olhos e imaginar uma realidade diferente, onde tudo era perfeito, porém deixou de ser imaginação, e se tornou uma realidade alternativa. Ela podia viver a vida que quisesse simplesm...