A primeira vez
No meio daquele turbilhão de pensamentos, parei e me acalmei. Comecei a notar as cortinas que levemente se mexiam apesar de não haver portas ou janelas abertas, a noite estava consideravelmente clara, não pude ver mas deduzi que fosse lua cheia. Me correu um leve desejo de observa-lá, desejo que me corroeu todo o momento em que estive acordada a partir do momento que lembrei que não podia. Tentado pensar sobre outra coisa notei as paredes mal pintadas, o piso torto e arranhado, o teto levemente reformado e então me dei conta de que eu não estava trabalhando, e que meu pai era o único da casa a trabalhar na época, então fiquei novamente preocupada com o fato de que eu não estava pagando nada daquilo, mas sim outra pessoa, e na pior possibilidade seria o meu pai. Quis mudar de pensamento novamente, porém percebi que nada que eu pudesse pensar que envolvesse minha vida atual poderia ser bom, pois quanto pior o seu estado, mais infeliz se tornam seus pensamentos, então decidi dormir.
Tentei dormir por muito tempo, percebi que por volta de duas horas e meia, ja que sempre abria os olhos para observar o relógio que juntamente com o uivos de vento provocados pela janela enferrujada, tomara com seus tic-tac o domínio do som de todo aquele quarto.
Então me veio à frase:-"Posso ser quem eu quiser, nem que seja por uma noite".
Então fechei os olhos e adormeci.
Eu estava no alto de uma colina ao pôr do sol. Jurava que podia sentir a brisa riscando meu rosto, os leves raios solares que restavam agir em minha pele e o cheiro da umidade em minhas narinas. Com os olhos fechados e os braços abertos consumo cada gota daquele momento quando vou dar um passo a frente e perco o equilíbrio. Numa queda de quilômetros entro em desespero, não consigo respirar enquanto me debato pensando no que fazer, vendo já o meu destino alguns quilômetros abaixo entre muitas pedras. No meio daquele caos me dei por conta e pensei: "nada disso é real". Foi ai que abri os braços e em vez de cair rumo ao monte de pedras, começo a voar rumo ao pôr do sol. Nada daquilo fazia o menor sentido, as leis da física reprovariam totalmente uma situação como aquela, um ser humano poderia planar no céu com apenas os braços? Mas é claro que isso não me impediu de aproveitar aquele momento como um em um milhão, como se fosse real.
Queria que aquela sensação me tomasse por completo. Que aquela liberdade se tornasse parte de mim, da minha realidade.
Até que abro os olhos.
Me deparo com o teto do hospital claro pela luz do amanhecer que cruzava as cortinas, e o som do relógio ao meu lado agora mais abafado.
- Foi só um sonho... - disse a mim mesma desapontada.
Quando acordei, voltei ao estado
depressivo que estava antes de dormir, me dando conta de a realidade não era assim tão bonita.Comecei a olhar ao meu redor e não vi notável movimento, apenas barulhos habituais de um hospital ao lado de fora da porta.
Quis chamar alguém mas preferi ficar calada, até que meia hora depois minha mãe entrou no quarto.
- Como você está? - Ela pergunta enquanto vem em minha direção e me dá um beijo na testa.
- Onde estão os outros? - Pergunto me esquivando da pergunta que ela fez. Sei que se eu respondesse com cinceridade ia começar um clima que eu não estava a fim de aguentar.
- Seu pai e o Lucas acabaram de ir para casa buscar algumas coisas para eles e para você. - Ela diz enquanto se acomoda na cadeira em frente a minha cama.
- Eles passaram a noite aqui no hospital? - Falo com incômodo na voz enquanto me ergo para sentar na cama em vez de permanecer deitada.
- Nós passamos.
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Quando fecho os olhos
FantastikAlice com inúmeros problemas acumulados, certo dia decide fechar os olhos e imaginar uma realidade diferente, onde tudo era perfeito, porém deixou de ser imaginação, e se tornou uma realidade alternativa. Ela podia viver a vida que quisesse simplesm...