Me ajeito do jeito mais confortável possível no sofá por que eu sei que, se a história fosse pequena e simples, os outros que eu perguntei sobre ela não teria feito tanto drama para no final acabarem nem me contado o começo. Vejo também, enquanto me arrumo ainda fitando os olhos em Sheyla, ela se posicionando no sofá e pairando o olhar sobre o chão e logo também sobre o teto, imagino eu, pensando em que parte começar.
- Você quer que eu te conte todo o contexto ou só o clímax?
- Pode me contar tudo o que conseguir.
- Ok. Você lembra quando Angel chegou?
- Quando você foi com ela lá em casa?
- Sim. Então .... Um dia depois... Quando saímos para o Shopping?
Me forcei a lembrar, porém a resposta foi decepcionante, para mim é claro.
- Não, não lembro disso.
- Ok, então acho que vai ser bom eu contar esse episódio.
Ao longo do que Sheyla foi me contando, me vieram à cabeça as imagens, como um filme, e então comecei a me lembrar:
Sheyla tinha acabado de chegar do enterro da mãe, e eu e Gustavo estávamos preocupados, mesmo que ela aparentasse ter total controle sobre tudo e normalmente sorria e fazia piadas e comentários irônicos sobre as situações, nós dois sabíamos melhor do que ninguém que quanto mais Sheyla se forçava a rir pior ela estava por dentro, mesmo que fosse uma característica natural dela. Nós sabíamos reconhecer quando esse riso era para disfarçar uma grande dor, e era muito parecido com aquele riso da noite anterior, quando nos deparamos com a incomum presença da nova Angel.
Eu e Gustavo sugerimos para Sheyla que fossemos ao shopping, e como já imaginamos, ela fez corpo mole, disse que tinha acabado de chegar de viagem e que tinha muitas coisas para arrumar e outras desculpas totalmente aleatórias, das quais você ouve e tem certeza que foram improvisadas, principalmente se for da Sheyla. Acabamos então conseguindo arrasta-la para um passeio sem compromisso. A intenção mesmo era tirar ela de casa e desviar sua atenção, para que ela não ficasse pensando naquilo, e pelo o que parecia, estava dando certo.
- SHEEEEEEEEYLA, SHEYLAAAAAAAAAAAA.
Eu gritava e Gustavo buzinava enquanto ouvíamos o som do carro estrondar. Logo ouvíamos ela gritando lá de dentro:
- ESPERA SACO!
Já irritada, e entre as gargalhadas que se misturavam com as batidas da música, continuávamos gritando, até que ela sai pela porta brava, porém daquele jeito de quem não consegue conter o riso.
- Que saco, se eu falo pra esperar é por que é para esperar, não para fazerem escândalo na porta da minha casa! Sempre que meus vizinhos veem vocês eles querem ligar para a polícia!- Sheyla diz logo após entrar pela porta de trás do carro.
Eu e Gustavo riamos disso, numa risada que estaria em perfeita sintonia se a minha não fosse tão escandalosa.
- FOI CULPA DO GUSTAVO!!! ELE QUEM ME MANDOU GRITAR POR QUR TAVA COM PRESSA!! - Digo enquanto fico o empurrando com as duas mãos, e rindo sem parar.
- Louca para! Eu vou bater o carro e alegar que a culpa foi sua, você estando morta ou não!
- NÃO!!!!! - não aceito para de gritar ou de rir.
Sheyla no banco de trás, como outra histérica também não para de rir, mas todos dizem que a risada dela não chega a ser tão feia quando a minha. Mesmo que pra mim as duas sejam normais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando fecho os olhos
FantasyAlice com inúmeros problemas acumulados, certo dia decide fechar os olhos e imaginar uma realidade diferente, onde tudo era perfeito, porém deixou de ser imaginação, e se tornou uma realidade alternativa. Ela podia viver a vida que quisesse simplesm...