Capítulo 14

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Me ajeito do jeito mais confortável possível no sofá por que eu sei que, se a história fosse pequena e simples, os outros que eu perguntei sobre ela não teria feito tanto drama para no final acabarem nem me contado o começo. Vejo também, enquanto me arrumo ainda fitando os olhos em Sheyla, ela se posicionando no sofá e pairando o olhar sobre o chão e logo também sobre o teto, imagino eu, pensando em que parte começar.

  - Você quer que eu te conte todo o contexto ou só o clímax?

  - Pode me contar tudo o que conseguir.

  - Ok. Você lembra quando Angel chegou?

  - Quando você foi com ela  lá em casa?

  - Sim. Então .... Um dia depois... Quando saímos para o Shopping?

Me forcei a lembrar, porém a resposta foi decepcionante, para mim é claro.

  - Não, não lembro disso.

  - Ok, então acho que vai ser bom eu contar esse episódio.

Ao longo do que Sheyla foi me contando, me vieram à cabeça as imagens, como um filme, e então comecei a me lembrar:

Sheyla tinha acabado de chegar do enterro da mãe, e eu e Gustavo estávamos preocupados, mesmo que ela aparentasse ter total controle sobre tudo e normalmente sorria e fazia piadas e comentários irônicos sobre as situações, nós dois sabíamos melhor do que ninguém que quanto mais Sheyla se forçava a rir pior ela estava por dentro, mesmo que fosse uma característica natural dela. Nós sabíamos reconhecer quando esse riso era para disfarçar uma grande dor, e era muito parecido com aquele riso da noite anterior, quando nos deparamos com a incomum presença da nova Angel.

Eu e Gustavo sugerimos para Sheyla que fossemos ao shopping, e como já imaginamos, ela fez corpo mole, disse que tinha acabado de chegar de viagem e que tinha muitas coisas para arrumar e outras desculpas totalmente aleatórias, das quais você ouve e tem certeza que foram improvisadas, principalmente se for da Sheyla. Acabamos então conseguindo arrasta-la para um passeio sem compromisso. A intenção mesmo era tirar ela de casa e desviar sua atenção, para que ela não ficasse pensando naquilo, e pelo o que parecia, estava dando certo.

  - SHEEEEEEEEYLA, SHEYLAAAAAAAAAAAA.

Eu gritava e Gustavo buzinava enquanto ouvíamos o som do carro estrondar. Logo ouvíamos ela gritando lá de dentro:

  - ESPERA SACO!

Já irritada, e entre as gargalhadas que se misturavam com as batidas da música, continuávamos gritando, até que ela sai pela porta brava, porém daquele jeito de quem não consegue conter o riso.

  - Que saco, se eu falo pra esperar é por que é para esperar, não para fazerem escândalo na porta da minha casa! Sempre que meus vizinhos veem vocês eles querem ligar para a polícia!- Sheyla diz logo após entrar pela porta de trás do carro.

Eu e Gustavo riamos disso, numa risada que estaria em perfeita sintonia se a minha não fosse tão escandalosa.

  - FOI CULPA DO GUSTAVO!!! ELE QUEM ME MANDOU GRITAR POR QUR TAVA COM PRESSA!! - Digo enquanto fico o empurrando com as duas mãos, e rindo sem parar.

  - Louca para! Eu vou bater o carro e alegar que a culpa foi sua, você estando morta ou não!

  - NÃO!!!!! - não aceito para de gritar ou de rir.

Sheyla no banco de trás, como outra histérica também não para de rir, mas todos dizem que a risada dela não chega a ser tão feia quando a minha. Mesmo que pra mim as duas sejam normais.

Quando fecho os olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora