Capítulo 22

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Quando as letras estiverem em:

Itálico : lembranças
Normal: presente

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Todos os dias ele vinha tentando me convencer da mesma coisa:

  - Alice, quando você vai voltar para casa? Você não tem a mínima noção do que está fazendo com sua família? Minha mãe praticamente mora naquele hospital, meu pai fica inventando desculpas para as pessoas não ficarem sabendo, você não tem um pingo de remorso do que está fazendo?

  - Eu já disse para você dizer para os nossos pais que eu não vou acordar, finja que eu estou morta, é simples. - Digo enquanto ando pelo jardim criando mais, e pensando no que falta para ficar perfeito.

  - Por que você continua fazendo isso? Sabe o que esse mundo está fazendo com você! Já faz uma semana e tudo o que você faz é criar mais e mais coisas aqui. Não percebeu que quanto mais você cria mais você definha?

  - Para com esse drama Lucas, eu pareço estar definhando para você? - dou uma risada bem sarcástica - Eu estou ótima, tenho dó de vocês que então naquele mundo ainda... Já sei, e se eu fizer desenhos com as nuvens? Por essa você não esperava! - Saio satisfeita dando pulinhos pelo jardim que crio, enquanto procuro os melhores lugares para mais decorações. Lucas vem atrás de mim ainda sem parar de falar.

  - Você aqui não, mas seu corpo lá está cada vez pior. E você também está muito diferente a Alice que eu conhecia.

  - Pelo amor de Deus Lucas, você vem aqui só pra me encher o saco? Faz alguma coisa que preste. Ou você me ajuda ou me deixa em paz, se não quiser me ajudar aceito com prazer a segunda opção.

Percebo o olhar triste de Lucas mas continuo o que estava fazendo.

  - Eu vou voltar, já basta você em "coma", minha mãe fica dizendo que eu não me importo com você ou com eles por que eu durmo todos os dias à tarde. Já não estou mais conseguindo encontrar desculpas.

  - Pode ir, quando estiver menos chato sabe onde eu estou.

Ele ainda cabisbaixo põe a mão sobre os olhos e some. Sei que ele acordou. Eu apenas continuo passeando pelo meu cantinho pensado no que mais criar.

Ultimamente estou muito ocupada com esse mundo, faço muitas coisas nele, já por que não pretendo mesmo sair daqui, ou caso eu morra de vez, quero que seja aqui.

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  - Foi eu quem criou tudo isso? Eu pensei que tivesse sido você.

Lucas me olha, em resposta a minha pergunta, e responde:

  - Fazia muito tempo que eu tento criar o mínimo possível aqui.

  - Desde quando?

  - Desde que eu entendi que quando mais se cria, mais esse lugar exige de você. É um pouco óbvio no fundo mas é a última coisa que pararíamos para pensar: como qualquer sistema em funcionamento, ele precisa buscar energia em algum lugar. O mundo real tem suas fontes de energia, mas esse mundo está em nossa mente, portanto é dela que ele se alimenta para funcionar, e com dela, eu me refiro ao que mais dá vida a nossa mente, que são nossos princípios, nosso caráter e as mais fortes que formam e definem todos eles: as memórias. Por isso você as perdeu, esse mundo começou em sua mente, portanto ele exige muito de você, e você não parava de criar, eu tentei muitas vezes te avisar mas acho que sua mente já estava muito danificada a aquela altura.

Quando fecho os olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora