"Espero que você esteja bem." "Um pouco abalada e intensamente perdida, você com certeza me ajudará" Black me tem em um olhar preocupado, como o de mãe, mas ela sabe que o que tem a dizer me salvará.
Sentamos todos na sala, Jenna senta no chão comigo e me dá sua mão. "Bom Serena, sua situação no momento é incerta. Já foi aberto o caso novo para apurar. Devemos esperar a próxima vez que o juiz falar." "Qual a sua opinião, quem jogou a bomba?" Lucca pergunta intrigado "Sinceramente? Achei estranho Catherine passar mal e sair do tribunal e logo depois a bomba ser lançada." "Então você acha que foi ela que jogou?" Pergunto a fim de tentar entender mais aquele dia "Não querida, Catherine não é o tipo de mulher que coloca a mão na massa" "Quem poderia fazer isso por ela?" Jeny pergunta "Existe tanto louco no mundo" Eu digo tentando raciocinar. "Mas o mais importante é, você é uma figura pública agora, as pessoas se dividem entre achar que foi sua culpa a explosão entre a achar que você sofreu nas mãos do casal." "Não é óbvio? Eu perdi meus pais" Lucca senta no chão ao meu lado, e enlaça seus dedos aos meus. Ele não precisa dizer nada, ainda bem. "Sim querida, vamos trazer justiça pra você" Black me conforta, mas fico aflita sempre que penso no que ela dirá na próxima vez que vier em casa.
"Ainda dói?" Jake aponta para a tipóia, "Demais, os remédios fazem efeito, mas parece que não são o suficiente" "Philip a deixou com dor aguda" Lucca resmunga baixo, mal sabe ele que a dor na clavícula não chega aos pés da dor do coração. "Você já consertou isso" e mal sabe Lucca de qual dor eu falo, ainda tento entender. "Espero que você melhore querida Serena, uma cirurgia agora é o que você menos precisa" "Com certeza" Eu e Jenna dizemos juntas.
Nos despedimos de todos e sinto uma sensação boa ao fechar a porta e não ficar preocupada com a solidão, não sofro mais desse mal.
"Eles ficaram pouco, não?" "Acho que Black não tinha muito a falar, e Jenna já tinha me falado que ia embora rápido, ela disse algo sobre ir ao shopping com a sogra" "Ela é tão mais feliz. Lucca" "Sim" "Como você me conheceu? Você me disse uma vez que tinha sido por Philip" "Agora não é o momento" "Qual é o problema de vocês? Não existe momento certo nunca? Que saco!" "Como assim?" "Jake me contou sobre Philip e Pam, o que eles tinham" "Já vi Pam passear pelo campus algumas vezes, mesmo sabendo que ela não era da cidade e muito menos fazia faculdade" Se Philip mentia para Jenna, que era sua namorada á anos, por que não mentiria para mim?Me lembro das vezes que Philip foi pra casa dos pais, algumas vezes quando procurávamos pistas sobre o que aconteceu no caso dos Wallen e algumas vezes quando terminamos e ele conseguiu ver Márc na casa do Manning "Você sabe algo sobre os pais de Philip?" "São divorciados, e moram em outro estado, algo assim, não sei direito. Por que?" "Ele me traia Lucca?" "Serena" Ele diz como se me confortasse de algo não dito entre nós e muito bem descoberto por mim "Lucca, ele me traia?" "Você ainda está com ele? Não mais, então fim de papo" "LUCCA" Ele sai da sala e eu vou atrás dele "Preciso saber" imploro. "Eu nunca vi nada, havia alguns boatos, nada confirmado. Eu conheci você assim, Philip disse no vestiário que namorava uma menina famosa na cidade dele, que era linda e ingênua" Náuseas. Lucca me olha como se estivesse sentindo uma dor profunda "Eu não te conhecia, hoje se referissem assim á você, eu não conseguiria reconhecer, você não é nada disso." "Me deixa um pouco sozinha" "Você não quer isso de verdade, quer?" "Não" "Então você precisa de mim" "Só um pouquinho" Ele me abraça, pela milésima vez no dia. Lucca passa seus dedos no meu cabelo, seus dedos roçam nos fios bagunçados e ele espera calmamente minhas lágrimas cessarem. "Ele está com Pam?" "Não acho que você precise saber disso agora" "Não preciso" O silêncio se faz presente novamente. "Serena, olha pra mim" "Philip não está aqui, ele não merece tudo isso, não merece que você perca seu tempo chorando por ele. Tenho ideia melhor." "O que?" "Vem comigo" "De novo Lucca?" "Achei que você já tinha se acostumado" Eu olho seus olhos suplicando, eu consigo entender que se eu estivesse em seu lugar, eu veria um par de olhos aclamando por ajuda. As coisas não acontecem por acaso, eu não sei com quem, ou como eu enfrentaria tantas decepções se não tivesse Lucca ao meu lado agora. Já houveram dias em que eu me liberei chorar, houveram dias em que segurei as emoções e hoje, hoje é o dia em que eu tento aproveitar o lado bom. Nossa vida não circunda em volta das situações ruins, nós que fazemos delas o foco do momento, hoje eu permitirei Lucca tentar me fazer feliz.
Ele estaciona em frente á uma loja gigantesca, consigo enxergar latas de tinta e milhares de objetos de decoração, eu já sei exatamente o que ele vai fazer. "Você disse que topava" "Eu não desisti" "Gosto assim" "Eu também" Colocamos o pé e uma vendedora começa nos seguir. "Pois não?" Karen era o nome escrito no broche "Bom dia Karen, gostaríamos de ver decoração em preto e amarelo" digo sorridente "Então você já escolheu?" Lucca me olha tirando sarro "Se quiserem eu posso dar um tempo para o casal decidir" eu não consigo esconder a risada, Lucca se gaba olhando pra mim "Não podemos contrariar as grávidas, sabe como é" Eu olho para o lado e não consigo acreditar no que ouço, além de casal nós somos pais agora? "Meus parabéns, já sabem o sexo?" Lucca diz com um brilho nos olhos e me faz desejar por um minuto de que seja verdade "Ela quer uma menina, eu quero um menino" "Na verdade, não escolheremos, deixaremos ele/ela ser o que quiser, se preferir mudar quando for maior, nós também não nos importaremos" concluo, e Lucca enlaça seus dedos aos meus "Ótimo, me acompanhem, começaremos por algumas peças que tenho aqui" a gentil moça vai na frente, enquanto encaro Lucca, ele me abraça por trás, coloca a mão na minha barriga. Não perco a oportunidade de perguntar "Você gostaria que fosse verdade?" "Você gostaria?" ele rebate e não há tempo de mais nada. "Vocês gostam de vasos?" "Gosto muito."
Muito tempo depois nossa compra está feita, dois galões de tinta amarelo cinzento, da qual quase terminei o relacionamento que não possuo com Lucca, e decidimos levar o amarelo que não parece um letreiro do McDonalds. Há também vasos amarelos e pretos que escolhemos, sem briga dessa vez. Alguns porta-retratos novos para renovar aqueles da qual possuem fotos antigas e quero que permaneçam perto de mim, mais alguns que Lucca quer colocar para os pais e um porta-retrato chamativo para colocar a foto do bebê, segundo ele.
É ridículo, mas pela primeira vez, eu enxergo um futuro. Um futuro da qual eu sou feliz, que faço compras com meu marido e converso com outra mulher sobre minha gestação. Mas infelizmente é do futuro que falamos, e em relação ao que ainda vai acontecer, nós não temos nenhum controle. Então o que me resto é voltar pra casa com um sorriso no rosto por poder ficar feliz em viver algo que talvez nunca terei.
Decido aumentar o volume do rádio para aumentar ainda mais o sentimento de paz que me circunda. Mas o rádio me traz uma voz conhecida e se fosse possível, eu poderia até sentir o calor do cantor do outro lado do aparelho. Talvez seja possível, talvez o cantor esteja ao meu lado e talvez ele tenha acabado de me mostrar uma parte sua sem querer.
É Lucca que canta, e quando percebe que ouço, já é tarde demais.

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Finalmente
Misteri / Thriller"Encaro novamente o ínicio da nova viagem, seguro na mão ao meu lado, aparentemente a minha própria, sorrio para mim mesma, me abraço e tomo cuidado do meu corpo."