"Eu não acredito que Black te fez trabalhar justo no primeiro dia do ano" Lucca resmunga ainda de olhos fechados, "Lindo, eu já te disse. Ela não nos obrigou, apenas disse que podemos optar ir ou não" ele grunhe "E por que você tem que ir?" paro para pensar, não há um motivo específico, eu apenas gosto de lá. "Philip estará lá?" L abre um olho só para tentar me questionar seriamente, mas seu mau humor matinal me faz rir "Você sabe a resposta, era amigo dele antes mesmo de eu o conhecer" ele ergue as sobrancelhas sonolentas "Eu apenas jogava futebol com ele" balanço a cabeça e digo ironicamente "Não era amigo não, onde foi mesmo que eu te conheci?" ele joga um travesseiro em minha direção, já reclamando por saber da resposta. "Na festa de aniversário dele" Luc responde baixo, "Ah O.K" digo ironicamente, cantando vitória.
Saio do quarto e Jenna está na cozinha, "A criança acordou com fome hoje" ela diz com a boca cheia de pão de forma enquanto segura um copo com leite. Dou risada, ela não é de acordar cedo, apenas quando é obrigada a ir á faculdade. "Hoje ela faz 5 meses" Jen aponta para sua barriga, com um olhar que apenas mães possuem, abaixo na altura de seu ventre, que já é enorme em proporção á pequena e delicada forma física da minha melhor amiga, e sorrio "Bom dia preguiçosa" Jenna dá um pulo alto, que derruba o leite no chão. Me assusto achando que há algo de errado, "Fale mais" ela pede "Mica?" digo, o nome que gostaria que o bebê de J+J se chamasse, "Mica? De onde tirou esse nome?" ela me pergunta, "É o feminino de Miguel, Micaella. Sinto que é uma menina, você tem cara de mãe de menina" ela sorri, aparentemente encantada e satisfeita com a explicação.
"Eu já tinha sentido alguns movimentos antes, mas agora é inacreditável. É como se houvessem borboletas dentro de mim" Jenna diz, respirando fundo e apreciando a dança que a criança faz sob seu ventre, é lindo de ver e deve ser muito mais sentindo.
Fico emocionada e vermelha. Odeio ficar emocionada e vermelha.
"Eu te chamaria para ser a madrinha, mas não vou batiza-lo" sei bem o que Jenna pensa, "Concordo com você" sorrio dizendo, "Seria muito injusto batizar meu bebê logo quando nascer, não? Como ele vai saber qual sua religião com poucos meses?" faço que sim com a cabeça, " Eu aceito ser a tia predileta" "Com certeza será!" olho para o relógio, atrasada.
"Desculpa Mica, a tia precisa ir" dou um beijo na barriga de Jenna e saio correndo em direção a porta, J grita da cozinha "E se for menino?" eu dou risada respondendo "Não será!"
Chego no trabalho.
A agência está mais ocupada do que eu imaginava, infelizmente Philip já está postos em sua mesa. Sento sem qualquer resquício de empatia no meu rosto, "Bom dia para você também" P acena com a cabeça e dizendo alto o bastante para todos os funcionários se dirigirem a nós. Forço um sorriso, tentando não parecer carrancuda na frente de quem ainda não conheço.
Vejo Black na ponta da escada, seu rosto está fechado, assim como o meu a segundos atrás. "Philip Mann e Serena Wallen. Minha sala" eu e Phil nos entreolhamos, a curiosidade e o medo são maiores que a nossa vontade de irritar um ao outro. Matt levanta da cadeira e sussurra no meu ouvido enquanto caminho em direção a escada que leva ao terceiro andar "Serena Wallen?" uma mulher com 40 e poucos anos repete meu nome em voz alta, sua dupla, um homem da mesma idade comenta algo sob seu ombro, ela aparentemente recorda e logo me olha de um modo constrangedor.
Pelo jeito não foi só ela que reconheceu meu sobrenome pelo tão falado Caso dos Wallen, abaixo a cabeça no curto caminho e tento repetir a mim mesma que só estão comentando sobre o modo rude como Black se referiu a mim e Philip.
O andar ainda reservado apenas para nossa chefe é solitário e vazio, e isso cria uma atmosfera de autoridade sem igual. "Por que meus amigos me ligaram agradecendo o "toque" dado pelos meu advogados?" Black nos pergunta com um tom de voz inigualável e faz as aspas do "toque" com raiva nas mãos.
Philip me olha como se pedisse socorro. Esqueço por um momento da onda de problema que está por vir.
"A culpa é minha" P diz firmemente. "Vocês são uma dupla, eu não os julgo separado se o caso for de ambos" ela responde automaticamente, como se conversa fosse um texto de novela ou algum livro que ela já tenha lido e decorado o trecho.
"Por este mesmo motivo tenho que dizer a vocês ..." Black levanta da cadeira que provavelmente custou o mesmo que meu apartamento. Ela apoia as mãos na mesa e nos encara, com um silêncio mortal, me lembrando a personagem da série que eu vi a um tempo atrás, uma advogada renomada e maldosa. Black poderia muito bem representa-la na vida real.
"Eu deveria agradece-los, vocês passaram no meu teste" consigo ver o peso que sai das costas do homem ao meu lado, eu poderia até dizer que nesse exato momento, seus olhos cinzas se tornaram um pouco mais humanizados e tornaram-se mais verdes. Mas decido focar no restante do discurso da minha chefe.
"Eu já tinha tentado de tudo com eles. Desde dizer que divórcios são burocráticos demais para serem realizados, até que era muito difícil apresentar todos os papéis juntos e que daria muito trabalho se separar. Mas aparentemente, vocês dois conseguiram, através da linha de raciocínio unida e palavras bem formalizadas, o que eu não havia conseguido" respiro fundo também, ouvir isso é de um alívio tremendo.
"Ser advogado não é o número de clientes que atende, mas sim quantas tragédias vocês viram acontecer e fizeram algo para ir contra a maré. O que seria do médico se apenas diagnosticasse os pacientes e não tentasse os medicar ou opera-los?" eu e Philip fizemos sim com a cabeça, repetidamente, em um esforço de entender e tentar aplicar cada lição dada ali em nossa carreira.
"Porém..." ela encaixa em sua fala, P bate os braços em volta do corpo "Sempre há o porém" Black assente, "Sempre há querido. Porém, vocês não podem tentar ser o herói sempre que conhecerem novos clientes. Se precisassem de psicologo não teriam vindo a uma agência de advogados. Lembrem disso sempre. Até mesmo o médico sabe quando não há operações ou medicamentos necessários a certos diagnósticos"
Saio do terceiro andar sorrindo, fico feliz em saber que sei ser profissional. Consigo aprender no trabalho e sou capaz de lidar com um ser humano desprezível.
Olho para o lado, e o desprezo em pessoa sorri de forma genuína. Ainda há muito que eu preciso entender da vida, muito.

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Finalmente
Misterio / Suspenso"Encaro novamente o ínicio da nova viagem, seguro na mão ao meu lado, aparentemente a minha própria, sorrio para mim mesma, me abraço e tomo cuidado do meu corpo."