desconstruir para sentir

5 1 0
                                    

Decidi me prender em Lucca, nesse momento, na qual nem sei se ele está vivo ou não, se ele sangra, chora ou sorri.

Sou tão suficiente que quero transbordar. Transbordar amor por onde passar.

Faço a reflexão em poucos minutos, quem assiste de longe pode pensar que foi fácil demais chegar a essa conclusão, mas demorou anos e anos para que o ponto de interrogação fosse tirado da minha mente. Precisou que muitas pessoas passassem na minha vida para que eu entendesse que a única pessoa que nasce e morre comigo, sou eu mesma.

Enquanto me amo, vejo a única coisa que pode me fazer me amar mais.

Lucca.

Com alguns curativos no rosto e um olhar perdido.

Corro em sua direção, enlaço meus braços no seu pescoço. "Eu amo você" ele diz entre lágrimas, "Eu devo ser boa demais para merecer que alguém como você diga isso" nós nos ajoelhamos no chão. Lucca chora mais do que o normal, e um aperto no meu peito me diz que algo não está correto.

Sofí se abaixo conosco e abraça seu irmão, "nunca mais pense em sair de perto de mim" ela diz enquanto aperta os olhos em desespero. L se desvencilha do meu corpo e ainda abaixado olha nos olhos de sua irmã.

"Sofia.." L diz segurando suas mãos, ela balança a cabeça ao ouvir seu nome. As lágrimas e lamentos dos dois formam uma sinfonia triste de seu ouvir.

"Ela não sentiu dor, eu juro" ele diz em um tom de desculpas. Eu vejo os filhos chorarem.

Eu sei o que a morte de uma mãe causa em um filho, eu sofri isso uma vez.

"Desculpa meu amor" peço perdão para Lucca por que sei o quanto isso vai doer, pelo resto de sua vida, pelo resto de seus dias.

Ângela foi uma mulher mais mulher que muito ser humano.

Levanto e assisto os dois se permitirem a sentir o luto. 

Nada mais humano que se permitir sentir. Olho ao meu arredor, muita gente sente. 

"Pequena?" atendo a ligação de Kitty "É Jesse, S" "Tia? Lucca está bem" digo e um alívio corre pelas minhas veias. "E Ângela?" minha tia se aproximou muito da mãe de L depois do ocorrido com Pablo. "Tia.. Angel não resistiu" digo tentando ser forte o suficiente para todos que já se fizeram fortes por mim. A ligação cai. 

Lucca caminha em minha direção. Ele parece não enxergar um palmo a sua frente, e eu entendo qual é a sensação da anestesia mental que a dor aplica em nós. 

Sentamos onde eu e Sofí havíamos esperado por diversas horas. É bom ver a imagem dele ao meu lado, sua mão na minha. 

"Somos orfãos" L diz para sua irmã. "Somos" digo olhando para eles. 

Ficamos dezenas de minutos em silêncio, contemplando a dor. 

Recebo uma mensagem de Jake, eles vieram ver L e Sofí. 

"Nossa família está aí fora, eles querem ver vocês" digo baixo, tentando não perturba-los. "Isso é bom de ouvir" Lucca diz sorrindo ainda encarando o chão. 

Jenna, Jake, Philip, Kitty, Jesse, Black, Martín e Mica formam um paredão ansioso esperando Sofí e L. 

Ao ver Mica, as lágrimas que desciam do rosto de Luc desabam mais rápido. "Obrigada por esse presente, obrigada" ele diz enquanto beija a testa da sobrinha. "Eu prometo, serei o melhor segundo pai do universo. Nunca deixarei faltar amor para você" ele abraça o cisco de criança que Micaella é em seu colo. 

Sofí desaba as lágrimas no abraço de Jesse e Kitty deixa escapar o rosto molhado. 

"A morte tem uma contemplação afinal" Philip diz a Lucca "Faz com que as pessoas deem mais valor á vida, e as ensina lições eternas" P diz enquanto abraça L e sua sobrinha. "Meus pêsames" Phil sibila em um som quase inaudível. "Obrigada" agradeço "Isso não foi por você" ele responde.

"Vamos para casa?" pergunto para ele, "Nossa casa" ele corrige sorrindo. "Posso cuidar das papeladas do velório, sei que vocês não tem cabeça para isso agora, e não devem ter. Deixem comigo" Jesse diz enquanto acalma Sofí. 

"O seu por do sol não fica preto e branco nunca, obrigada" ele diz enquanto caminhamos até o carro. 

"Um passo de cada vez" digo observando nossos pés, "sempre buscando o sol" ele completa sorrindo.

FinalmenteWhere stories live. Discover now