Finalmente

Feliz Ano Novo

Eu estou sentada na poltrona desse avião. Observando as nuvens sendo deixadas, as casas ficando menores, as pessoas ao meu arredor sorrirem de êxtase. Minha família inteira parece embarcar no mesmo caminho que eu. 

Eu me acomodo no assento, sinto o frio na barriga que andar de avião é, como se fosse a primeira vez. E eu já fiz quase vinte viagens como essa, mas se há uma coisa que aprendi em todos esses anos, é que nenhuma é como a outra. As durações de cada excursão são sempre insistentes, as turbulências são desastrosas e os intervalos de descanso são deleitosos. 

O roteiro está em minhas mãos, estudei e planejei esse passeio, mas também me deixei levar por todos os imprevistos que sei que virão. Eu observo o alçar do voo da minha cabine, mas eu poderia muito bem ser o piloto. 

Sei que há diversas escalas nessa experiência e ainda não me sinto pronta para desembarcar em todas elas, mas sei que ao chegar o momento certo, deverei ter coragem o suficiente para colocar os pés para fora desse transporte de linha reta. 

Encaro novamente o ínicio da nova viagem, seguro na mão ao meu lado, aparentemente a minha própria, sorrio pra mim mesma, me abraço e tomo cuidado do meu corpo.

Sou eterna viajante nessa vida, e minha passagem está no meu nome, é intransferível e irrevogável, a única saída agora é respirar e tentar aproveitar o novo voo que está por vir. 

Esse é o ano novo, a viagem. 

Eu poderia ser a tripulante, a comissária, a pilota. 

Sou qualquer posto que há dominação do caminho, posso ser tudo isso e passageira. 

Observo o ano atual virar ano passado e o número ganhar mais um companheiro. Agora temos um ano a mais de vivência e um ano a menos de viver. 

O tempo passa enquanto vejo o alçar da aviação. 

Estou nas nuvens, e com o pé no chão, seria disso possível?

Paro de tentar pensar por alguns segundos, olha ao arredor. 

A mesma descrição que antes. Estamos no último dia do ano, que também é o primeiro. 

Mal posso esperar para a próxima estação.