Angel mãe

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Com minha bebida preferida na mão, espero a senhora da qual não sai da minha cabeça. 

Sinto sua mão quente em meus ombros e sorrio pelo toque maternal. Ela me abraça antes de se sentar a minha frente. "Como está?" minha sogra me pergunta "Eu estou ótima Angel, e você?" ela dá risada "Corta essa S" ela debocha de minha resposta como Jenna faria. Ela poderia facilmente ser minha mãe. "O que quer dizer com 'corta essa'?" "Você e meu filho brigaram ontem, eu vi." ela diz em um tom fraternal, como se tentasse entender "Bom, não foi muito bem uma briga. Nós não discutimos, só fugimos um do outro" "E por quê? Ele dormiu em casa hoje. Fazia meses que eu não o via assim" "Me desculpe" me sinto constrangida, como se ele estivesse vindo para me cobrar da tristeza de seu filho. "Não querida, não se desculpe. Não é sua culpa" "Não entendo. Por que veio aqui então?" "Serena, por meses meu filho sofreu por causa de Julia. Ele ficou em luto e matou uma parte dele, que afetou todos da família. Por muito tempo isso nos incomodou. Mas você foi uma espécie de cura para ele." "Ah, não fui apenas eu. Ele me arrancou de um lugar em que eu jamais achei que sairia. Me trouxe felicidade, humildade, me desafiou em milhares de coisas" "O que Constance fez ontem. É imperdoável. Ela te humilhou na frente de todos e eu vim pedir desculpas por ela" "Pelo amor de Deus Angela, você não precisa fazer nada" sorrio, ela me encara como se esperasse que eu falasse mais alguma coisa. 

"Mas?" ela me pergunta "Mas, Lucca pisou na bola?" ela me questiona novamente "Ele não veio atrás de mim, não entendi por que" ela dá risada, sua risada é alta. "Ele não foi atrás de você?" ela pergunta em tom irônico. "Ele rodou a cidade toda até pensar que você poderia estar em casa. Mas Jenna não o deixou ir falar com você, ela achou que espaço seria melhor. Aliás, Lucca tem certeza que você não quer nem olhar na cara dele" "Mas é claro que quero" "Acho que vocês dois tem coisas a acertar então" ela me diz, sorrindo "Acho que sim" sorrio de volta. 

Encarando minha bebida, lembro de ter que cobrir as marcas em seu braço. Olho pra janela, um sol quente, céu sem nuvens e todos que andam pela calçada com no mínimo camiseta de manga curta. Menos Angela. Ela anda de calça jeans e uma jaqueta de manga comprida também. "Calor aqui né?" eu a provoco indiretamente "Dá mais calor ainda de ver você toda cheia de roupa assim" dou risada, completando o raciocínio. Ela me devolve um sorriso pobre e suspeito. "Não quer tirar a jaqueta? Levantar a manga? Qualquer coisa só pra passar o calor né?" dou mais uma risada, que se parece forçada. Quero demais que minha sogra converse sobre ontem comigo. "Você não saber ser sutil, sabe?" me faço de desentendida "Como assim?" "Serena, eu considero você como uma filha já. Devo confessar que você não é nada sutil, mas eu não posso e não vou conversar sobre o momento que tivemos ontem" engulo seco "Sim senhora" sorrimos uma pra outra, ela poderia ter sido rude, mas falou todas as palavras com uma doçura imensurável. Tenho sorte.

"Preciso ir querida, pense com carinho em tudo que te falei" e fico sentada na cadeira, observando aquela bela senhora ir e me deixando com inúmeras perguntas. 

Dirijo até o Vista Cay, esperando que Jenna não esteja brava comigo. Toco a campainha, mas ninguém atende. Com pressa, antes de sair de casa, eu não levei chave, tendo certeza que J+J estariam em casa. Mas me enganei, e fiquei pra fora.

O dia é bonito, e decido os esperar nos degraus de frente do apartamento, uns minutos á sós não irão cair mal. Não demora muito e ouço alguém subindo as escadas. "Jenna?" sem resposta, levanto e começo a descer os degraus, mas esbarro com um perfume da qual não canso nunca de apreciar. Olho pra cima sem ter a mínima certeza se gostaria de encara-lo. "Não é Jenna" seu sorriso me leva até a lua e me traz de volta em questão de segundos. "Gostaria que fosse ela?" ele pergunta, e mal consigo responder, por que mal olhei em seus olhos e mal mencionei seu nome. "Claro que não Luc" Lucca, sorrio ao saber o gosto bom que sibilar seu nome possui. "Quer falar comigo?" "E por que eu não gostaria?" pergunto a ele, mas a pergunta é pra mim na verdade. 

Entro no apartamento, que como sempre cheira a produto de limpeza. Jenna não sabe viver sob o mínimo de bagunça. Eu e Lucca agradecemos por isso. "E então?" pergunto sentando ao sofá. "O que você tá sentindo?" "Diminuída?" respondo, tentando ser sincera ao máximo. "Não precisa se sentir assim, você sabe, não?" "Não" respondo secamente, levantando de onde estava e atravessando a sala em direção ao quarto. 

Não tenho paciência com o que os outros pensam que devo sentir. Ninguém vive e pensa por mim, não há um ser no planeta capaz de entender inteiramente o que o outro sente e seu ponto de vista. O pior julgamento é aquele que se desfaz do sentimento do outro, não tenho tempo para isso.

"Serena?" Lucca sai apressado atrás de mim, furioso. "Lucca, EU NÃO DEVO ME SENTIR ASSIM? Sua antiga sogra me compara com sua ex-namorada, e você não faz nada! Como quer que eu me sinta?" "Não é nada disso S. Eu passei por muito tempo ouvindo o que Constance dizia. Ela é assim, julgava Julia por tudo!" "EU NÃO SOU A JULIA, LUCCA!" levanto e fecho a porta, não posso ouvir ele me comparando com sua antiga namorada.

"Não é assim que se resolve as coisas Serena" "Você quer que eu faça o que?" algumas lágrimas caem, e sinto que estou prestes a chorar. Minha cabeça começa a doer, como se por qualquer exaltação emocional fosse um gatilho automático para a liberação de dor de cabeça e maxilar. "Eu tenho esse sentimento, esse lembrete em meu pensamento o tempo todo..." aponto violentamente para minha mente, descontrolada "... ele me diz que não sou suficiente, para mim mesma, para você, para tudo de bom na minha vida. Eu aceito as coisas ruins, eu sou merecedora delas, mas olha pra isso.." faço um gesto em seu corpo "... olha pra você. Eu não conhecia Julie, mas eu sei que ela era melhor que eu. Como acha que me sinto sabendo que você pertencia a ela e que se Julia não tivesse morrido, você ainda seria dono dela?" "Pra começar Serena, eu estou com você por opção, então eu não preciso que seja melhor do que ela. Preciso que seja você, com todos os problemas, todas as situações, tudo.." ele senta ao meu lado na cama, as lágrimas ainda caem, ele as enxuga. 

"É verdade, Julia era sensacional. Mas sabe qual é o motivo que eu mais amo dela? Ela me trouxe você, e isso S é motivo pra que eu agradeça todos os dias. Você fala da Julie e como ela te acompanha em cada passo meu. Mas já parou pra pensar que eu possuo Philip em cada passo meu? Não é fácil conviver e tentar ser melhor que ele..." Lucca dá risada olhando para o teto "... é sério, olha só pra aquele cara. Você já reparou nos olhos dele? Tenho certeza que todas as pessoas ou ficariam ou gostariam de ser ele. O cara é lindo demais!" eu o encaro, pensando em algum modo de explicar que os olhos verdes de Philip perderam a cor quando me deparei com a bondade dos castanhos de Luc, e que o coração de P é tão pobre que o faz perder a graça. Lucca ainda diz algumas coisas que não compreendo. Não presto atenção em mais nada, sorrio dando risada da cena. 

"Eu nunca achei que fosse brigar com você" eu dou um beijo, no ser humano a minha frente, com essa alma que tanto encaixa com a minha. Dou um beijo em sua alma, em seu pescoço, em sua testa. "Amo você" e já não sei se fui eu ou ele que se declarou ali. 

FinalmenteWhere stories live. Discover now