12 meses depois

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Me olho no espelho. 

Chego a não acreditar que o reflexo sou eu.

"Uau" Jenna diz sorrindo enquanto amamenta a doce Mica. "Esse vestido é ..." ela mexe as mãos delicadamente tentando não acordar a filha. "Maravilhoso" completo sorrindo observando a bela imagem que formo. 

Dois toques na porta. 

"Posso entrar?" ouço Philip perguntar. "NÃO!" Jenna exclama sentada do outro lado do quarto. M reclama, mas será preciso muito mais que um grito para que a primavera desperte. "Você não pode entrar Philip, ainda não" Jey diz furiosa enquanto me observa rindo da situação. 

"Eu tenho medo de errar, enquanto caminho em direção ao altar" desabafo com minha melhor amiga. "Quieta S. Você não irá errar" concordo em silêncio. "Me sinto nervosa e mal sei por que" digo enquanto arrumo os últimos fios fora do lugar. 

Kitty passa pela porta "Você está linda, S" agradeço beijando o topo de sua cabeça. "Acho que estou pronta, vamos?" falo enquanto passo as mãos na lateral do vestido, tentando conter a emoção.

O corredor do salão é enorme e já consigo ouvir todos os convidados esperando a cerimônia começar. Uma lágrima cai e seco tentando fazer com que ninguém tenha percebido. 

"O casamento não é seu querida, você pode ficar mais calma" Matt diz rindo no pé do meu ouvido. "Cale a boca, você sabe que você e Enzo se tornaram irmãos para mim. Ser madrinha do casamento de vocês é emocionante" "Na verdade, esse é o nosso segundo casamento. Mas fique emocionada, é bonitinho" reviro os olhos escutando Mat tentar me fazer rir. 

Philip passa a mão na minha cintura "Podemos?" ele indica apontando para onde os demais padrinhos e madrinhas estavam. Faço que sim com a cabeça. 

Não faço contato visual com P e sei que ele percebe. "Isso tudo é emoção de subir no altar comigo?" ele reclama. "Sem drama Philip" fico quieta, sei que se eu contasse o que me tira o pé do chão, ele ficaria transtornado. "Já se passou um ano que Lucca foi embora, e eu ainda continuo tentando. Eu não faço drama, eu só corro atrás do que quero" "Philip, já faz um ano que digo para você que ISSO NÃO É UMA COMPETIÇÃO" me exalto e sou repreendida por olhares furiosos de parentes dos noivos. 

"Certo" é tudo o que ele diz. 

Eu gostaria de dizer para P. que Lucca está voltando da Alemanha. Mas tenho a impressão que essa notícia faria o salão desmoronar. 

"Tudo certo?" a cerimonialista pergunta aos padrinhos. "O primeiro casal já pode entrar" ela inicia a comemoração. "Somos o último casal" Philip reclama, "O que há de mal nisso?" "Não sei se aguento ficar muito tempo perto de você" ele diz em deboche, "Achei que havíamos ultrapassado essa fase de um tentar irritar o outro, Philip" "Apenas no trabalho" ele ri de si mesmo. "Falando em trabalho..." digo acenando para Black e Martín. "Acho que não somos o último casal" P diz cumprimentando nossos chefes. 

"Foi um pouco difícil fazer Dalia parar de chorar" Martín diz sobre B, "Matteus é como um filho para mim, fico feliz em participar novamente de um momento feliz" ela diz enxugando as lágrimas, "Uau, eu não fazia ideia de que minha chefe conseguia chorar" Philip a provoca rindo "Eu consigo chorar, te demitir e reprovar" ela responde rindo mais ainda, "Podia ter ficado quieto" irrito P batendo em seu ombro. 

"Vocês são os próximos" a assessora atrapalhada com blocos de papéis em mãos indica para a entrada do salão, afirmamos com a cabeça. 

Philip me olha enquanto lentamente damos passos leves. Fico nervosa e procuro nos olhos de alguém conhecido a leveza de um por do sol. Não encontro. Respiro fundo. 

Posso fazer isso sozinha. Aliás, sou capaz de fazer o que quiser sozinha. 

Continuo dando passos curtos e emocionantes. Foco no meu melhor ângulo e pisco para Enzo e Matt enquanto me posiciono, o casal sorridente aguarda a entrada de todos. 

Não demora muito para que o beijo seja dado e as alianças renovadas. É lindo, é encantador e espero que um dia alguém possa me amar de um modo da qual toque nenhum seja tão caloroso quanto o meu, sorriso nenhum seja tão sincero quanto o meu. Espero que algum dia alguém me ame o suficiente para me fazer entender que há algo de especial em mim, e que finalmente algum dia eu mesma possa me amar tanto que nenhum outro sorriso seja tão precioso quanto o meu. 

Sinto que estou destinada a sempre ver e nunca vivenciar. 

Vejo o modo como Matt segura a mão de Enzo. Me lembro de quando descobri que M era gay. Foi tão surreal a ideia dele precisar me dizer. Eu nunca disse que era hétero, pelo simples fato de ninguém questionar. Por que amar alguém do mesmo sexo não pode ser normal? Vendo os dois assim, destemidos, radiantes, só consigo imaginar quantas pessoas deixam de ser felizes por intolerância da sociedade. 

Nenhuma guerra começou por amar demais, mas todas se iniciaram por falta disso. 

"Uma das coisas boas de casamentos gays são as festas" Matt diz alto após o término da cerimônia. 

Aproveito a brecha para tirar o salto enorme que já vinha me incomodando desde a hora que eu colocara. 

Chego perto de J+J e percebo que Jey chora "A maternidade me deixou mais sensível" ela diz e Jake limpa as lágrimas do rosto de sua namorada. "Como vai a minha pequena?" pergunto enquanto pego Mica no colo, "Sonolenta, como sempre" Philip responde enquanto acaricia a testa da sobrinha. A primavera costuma ser tranquila em seus dias floridos. 

"S, preciso falar com você" Jesse diz puxando meu braço apressadamente para um canto do salão, mal consigo devolver Micaella para Jake. 

 "Aconteceu alguma coisa, tia?" "Acho que sim, S" "Como assim, acha? O que houve?" "Um avião vindo da Alemanha para cá... caiu" sinto um golpe de ar no estômago. "Um avião, da Alemanha?" pergunto, mas já não consigo sentir a sustentação das minhas pernas. "Eles não possuem nenhuma informação.." Jesse tenta me acalmar, mas meus ouvidos preferem não ouvir. Black corre em minha direção.

"Está em todos os lugares, Serena." 

























FinalmenteWhere stories live. Discover now